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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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3 063 - Anos de «zalalas» e palavras de Holden Roberto

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O furriel miliciano Manuel Dinis Dias, em destaque, com Cavaleiros do Norte de 
Zalala. Em baixo, outro «zalala», mas já em Vista Alegre: o 1º cabo Carlos Ferreira. 
Ambos  fizeram 23 anos a 19 de Março de 1975



A 19 de Março de 1975, dois «zalalas» fizeram 23 anos: o furriel miliciano Manuel Dinis Dias e o 1º. cabo Carlos Ferreira. Ambos da 1ª. CCAV. 8423, que estava aquartelada em Vista Alegre. 
O Dias era o mecânico dos Cavaleiros do Norte comandados pelo capitão Castro Dias. Oriundo de família de Oliveira do Hospital, radicou-se em Lisboa - onde sempre fez vida na área da mecânica. Vítima de doença, faleceu a 20 de Outubro de 2011, deixando viúva (Júlia) e uma filha (Ana Filipa).
Carlos Ferreira, de Albergaria, foi meu contemporâneo na então Escola Industrial e Comercial de Águeda mas, curiosamente, nunca nos (re)encontrámos na jornada africana. Nem sequer na formação do Batalhão, há 41 anos, em Santa Margarida. Foi este blogue que nos aproximou, em princípios de 2013, pouco depois de ele ter voltado às terras do Uíge - em Dezembro de 2012. E de lá nos ter enviado inúmeras fotografias.
Holden Roberto, presidente da FNLA, declarava, no mesmo dia e ao Diário de Luanda, que o objectivo era «ganhar as eleições». «A FNLA - acrescentou - implanta-se em todas as camadas populacionais com sucesso que ultrapassas as previsões. Nós estenderemos, nos próximos meses, a nossa audiência por todo o país». 
Sobre o ELNA, a sua força armada, comentou que «é um exército disciplinado e poderoso». «Um exército - acrescentou Holden Roberto -  composto dos filhos do povo que combateram as forças colonialistas durante 14 anos». Assim respondia às acusações feitas ao ELNA, sobre «certos incidentes que por vezes ocorrem» e pelos quais era responsabilizado.

3 064 - Aviões para Angola e dois mortos em Lamego

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 Furriéis milicianos Neto, Viegas e Monteiro, Rangers da CCS dos Cavaleiros do Norte, 
na avenida do Quitexe, em 1974. Em baixo, crachás das Operacionais Especiais



 Os Transportes Aéreos de Angola (TAAG) assinaram, a 19 de Março de 1974, o contrato para a aquisição de três Boeing´s 737-200 Advanced, o último modelo de fabrico. Os dois primeiros seriam entregues em Julho e Dezembro de 1975 e o terceiro em finais de 1976. Os dois primeiros tinham um custo de 515 000 contos.
A notícia foi lida no Diário de Lisboa desse dia, uma 3ª.-feira, estavam os (futuros) Cavaleiros do Norte em gozo da Licença de Normas, cada qual no seu chão natal. Na véspera, no mesmo jornal, soube de um acidente no Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) - onde, no 2º. turno de 1973,  tínhamos acabado o curso de Ranger´s, eu, o Neto e o Monteiro (furriéis milicianos) e o alferes Garcia (da CCS, aquartelada no Quitexe), o alferes Mário Sousa e o furriel Manuel Pinto (da 1ª. CCAV., a de Zalala), o alferes João Machado e o furriel António Carlos Letras (2ª. CCAV., de Aldeia Viçosa) e o alferes Augusto Rodrigues e o furriel Armindo Reino, este do terceiro turno (3ª. CCAV., a de Santa Isabel) .
O rebentamento de uma granada, no dia 16 e na instrução de explosivos, minas e armadilhas, provocou dois mortos e 14 feridos. Morreram o aspirante a oficial miliciano Telmo Augusto Pinto Mesquita, que era o instrutor - natural de Ribalonga, concelho de Carrazeda de Ansiães. E o soldado cadete Victor Manuel Ramires Pereira, do Lavradio (Barreiro).
O aspirante Pinto Mesquita tinha sido, como soldado cadete, do 3º. turno de instrução de 1973 - o mesmo do furriel miliciano Reino. Que se seguiu ao nosso (o dos restantes Rangers dos Cavaleiros do Norte). Na trágica tarde de 16 de Março de 1974 e no decorrer da instrução de explosivos, sendo ele especializado neste tipo de instrução, procedia à demonstração do funcionamento do sistema de seguramça de uma armadilha montada com uma granada de mão defensiva, com anel de fragmentação.

3 065 - As vésperas de ir para Angola e o livro de Horácio Caio

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«Menina de 18 anos, violada e assassinada no dia 15 de Março de 1961, numa fazenda
dos arredores do Quitexe. O cadáver desnudo tem um pau aguçado espetado no sexo» 
- legenda do livro «Angola: os dias do desespero», de Horácio Caio, cuja capa se vê abaixo




Mobilizados para Angola e já a gozar a Licença de Normas, importava aos Cavaleiros do Norte saber notícias de Angola. E delas sabíamos pela leitura da imprensa do tempo, com as limitações que teria. Outra fonte informativa, no que a mim dizia respeito, era o contacto, sempre demorado (pelas dificuldades de comunicação desse tempo), com familiares e amigos que faziam vida pela Angola «14 vezes maior que Portugal».
Outra, era a leitura que se «apanhava». E um livro fundamental, de Horácio Caio:«Angola: os dias do desespero». Uma apaixonante e dramática narrativa dos primeiros dias da guerra colonial, que também reportava o Quitexe - mal sabendo nós que lá seria o chão do nosso aquartelamento.
Ainda adolescente, mostrado por meu pai - que o tinha recebido de seu tio Joaquim Viegas (estabelecido em Nova Lisboa) -, já tinha lido o livro de Horácio Caio. Que voltei a ler quando, há 41 anos, fazia vésperas de partir para Angola.
A imagem deste post é uma das várias que ilustram o livro de Horácio Caio e que pode, com outras, ser revista AQUI.
A importância dos portos de Angola (e de Cabo verde e Moçambique) foi salientada num estudo do Institut For Conflit Studies, de Londres, de há precisamente 41 anos, dando ênfase  à sua localização«estratégica para para o abastecimento de petróleo à Europa e Américas».
O mesmo relatório, reparemos nesta curiosidade (e cito o Diário de Lisboa de 22 de Março de 1974), «elaborado por um grupo de especialistas ligados à navegação marítima», salientava também «ser inteiramente destituída de fundamento a afirmação  generalizada de que existem, nos referidos territórios portugueses, áreas em poder dos chamados movimentos de libertação».

3 066 - Polícia Militar em Carmona e refugiados no norte de Angola

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Prédio do Kiatomo, em Carmona (foto de cima). Notícia de há 40 anos: «FNLA 
recruta refugiados no Zaire, para as sua Forças Armadas». no Diário de Lisboa (imagem de baixo)



Há 40 anos, davam-se os primeiros passos da Polícia Militar, na cidade de Carmona e logo se viu que a tarefa não ia ser nada fácil. A tropa era hostilizada pela comunidade civil europeia - os brancos!!!, vá lá saber-se porquê!!!... - e aconteciam pequenos incidentes. Não era excepcional, bem pelo contrário, apelidarem-nos de cobardes, de traidores, de fascistas, sei lá mais do quê.
Avisadas estavam os grupos que faziam PM: não reagir. Amortecer reacções!!! Não conflituar!!! Zelar pela boa conduta dos militares: quando ao comportamento, quanto ao atavio, quando à serenidade. O Livro da Unidade, como por aqui já dissemos e quanto à missão da PM, recorda«procurar, através deste meio, prever a resolução das múltiplas quezílias existentes entre a população civil e as NT, devido à animosidade que aquela tem a estas».
O que na altura se especulava por Carmona era a possibilidade de a zona norte de Angola (onde nós estávamos) vir a ser «invadida» por refugiados no Zaire, militantes e parte deles prováveis combatentes da FNLA. 
A leitura, agora, do Diário de Lisboa, permitiu confirmar esse facto - a que daremos pormenor  no post de amanhã. 

3 067 - Férias de Abril de há 40 anos e refugiados no norte de Angola

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Cruz e Viegas, furriéis milicianos da CCS dos Cavaleiros do Norte na Rua de Baixo
(avenida) do Quitexe. Atrás, reconhecem-se o bar dos praças e a cobertura que serviu
de sala das Aulas Regimentais. Em baixo, Viegas e Cruz e Lisboa, 40 anos depois


A 23 de Março de 1975, eu e o Cruz fazíamos contas para o dia da partida para férias - que tínhamos combinado gozar por Angola, em Abril, conhecendo a beleza das suas terras e a alma das suas gentes. Por Luanda, Nova Lisboa, Lobito e Benguela e outras localidades do sul, por onde mourejavam familiares e amigos. E que tínhamos planeado visitar de surpresa. Assim foi!
Os Cavaleiros do Norte, aquartelados no BC12, continuavam a sua jornada uíjana e a imprensa trazíamos notícias: confirmava-se o repatriamento de angolanos refugiados no Zaire - seriam uns 400 0000!!!..., segundo a ONU; ou dois milhões, na versão da FNLA. A operação começara já em Setembro de 1974 e, agora, pretendia-se que esses refugiados fossem instalados em 20 campos de alojamento, ao longo da fronteira angolana e zairense.
A revista Afrique-Asie noticiava que«esses campos são dotados de equipamentos colectivos, fornecidos pelo exército do Zaire». A terceira fase dessa operação ainda segundo a revista, consistiria em«transportar e instalar esses refugiados em diferentes centros de permanentes, alojando-os em tendas de 7 pessoas», que se destinariam a ser «aldeias fortificadas (...), dotadas de equipamentos que permitem controlar as populações».
A operação custaria 20 milhões de dólares e seria financiada pelo Zaire, cujo presidente, Mobutu Seze Seko, era cunhado de Holden Roberto, presidente da FNLA. Zaire que, já agora, «estaria com dificuldades financeiras», porque «o FMI lhe recusou um empréstimo».
Adiantava a revista:«Consta que certas empresas mineiras e fazendeiros do Norte de Angola, que têm serias dificuldades de recrutamento de mão de obra, estariam dispostos a financiar a operação». A ser assim, concluía a revista,«Holden Roberto mataria dois coelhos da mesma cajadada: poderia recrutar no Zaire um exército para ocupar o norte de Angola e para apoiar os seus projectos de domínio do Governo de Luanda».

3 068 - Comandante José Diogo Themudo e 11 mortos em Luanda

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O capitão José Diogo Themudo (à direita), com o alferes João Machado (da 2ª. CCAV., à 
esquerda) e o capitão José Paulo Falcão, na varanda do edifício do comando do BC12, em Carmona. 
O comandante Almeida e Brito (em baixo)



A 24 de Março de 1975, o tenente-coronel Almeida e Brito passou a comandar a ZMN. Interinamente. O capitão José Diogo Themudo, que uns dias antes tinha chegado a Carmona e ao BCAV. 8423, passou a comandar os Cavaleiros do Norte. Interinamente, também.
Pouco simpáticas iam as coisas por Luanda, para onde, dentro de menos de uma semana, iríamos partir o Cruz e eu. De férias. O MPLA e a FNLA trocaram tiros nos bairros do Cazenga, Marçal, Sambizanga e Vila Alice. Já desde a noite de 22, o sábado anterior. Os recontros já tinham provocado 11 mortos (civis, dois deles) e, na manhã de 24, segunda-feira (hoje se fazem 40 anos) ouvia-se «tiroteio intenso em toda a zona suburbana, a partir da avenida do Brasil». Isto, depois de, na noite da véspera, domingo, os dois movimentos terem acordado tréguas,
As NT não intervieram e o tenente coronel Heitor Almendra, comandante do Sector de Luanda, disse à imprensa local que«os incidentes são entre os movimentos de libertação», recusando-se, por isso,«a interferir», o que, segundo o Diário de Lisboa desse dia,«poderá fazer perigar o cumprimento do Acordo do Alvor».
- THEMUDO. José Diogo da Mota e Silva Themudo, 
capitão de cavalaria. É coronel aposentado, fará 74 anos 
a 19 de Setembro e reside em Lisboa. Ver AQUI

3 069 - Tiroteios, granadas e mortes na cidade capital de Angola

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A baía de Luanda, em foto recente (da net). Furriel Viegas e o seu conterrâneo
Albano Resende (à direita), na ilha (Restinga) de Luanda, em Abril de 1975

Eu e o Cruz estávamos com férias marcadas e, em Luanda, local primeiro da nossa mesada turística, o mais que havia eram problemas: «Mais de 20 mortos entre as forças do MPLA e da FNLA», noticiava a imprensa do dia 25 de Abril de 1975.
«Os incidentes iniciaram-se na madrugada do dia 23, nalgumas zonas dos subúrbios, e afectaram, seriamente a boda da população», sublinhava o Diário de Lisboa desse dia, acrescentando que «há certas áreas interditas à normal circulação de pessoas e viaturas, como é o caso do bairro do Cazenza, onde durante toda as manhã e parte da tarde de ontem se ouviram constantes disparos de armas automáticas». E também rebentamento de granadas.
O bairro do Calemba também tinha sido palco de incidentes entra a FNLA e o MPLA, mas, na chamada «cidade do asfalto», curiosamente, ou talvez não, «a calma não tem sido perturbada».
«A vida decorre serenamente, a calma não tem sido perturbada. A vida decorre serenamente,. embora se note apreensão no rosto das pessoas», dava conta o Diário de Lisboa,
Certamente por isso, nos afoitava o nosso amigo Albano Resende - conterrâneo civil de Luanda -, que me fazia notar que, pela capital angolana, não havia guerra nenhuma. E, na verdade, como viemos a confirmar, a cidade abriu-nos portas e janelas, a noite e o dia, para uns bons pares de dias de grande afoiteza turística.
Quais incidentes, quais quê?
Quanto aos 20 mortos, noticiava o Diário de Lisboa de há 40 anos: «Calcula-se em 18 o número de baixas entre os soldados da FNLA, enquanto não há a registar baixas entre as forças do MPLA». O Diário de Lisboa acrescentava que «alguns civis foram também atingidos pelas balas e duas crianças, morreram devido ao tiroteio». 
Assim ia o processo de descolonização, com os Cavaleiros do Norte pelo Uíge, a medirem terreno e a conseguirem manter a segurança e paz mínimas. A que custo!!!

3 070 - Patrulhamentos mistos em Carmona e granadas no Palácio do Governador

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Militares da FNLA, em Julho/Julho de 1975 (foto de Carlos Letras). Alguns deles 
terão integrado os patrulhamentos mistos iniciados na noite de 26  para 27 de Março 
de 1975, em Carmona. Em baixo, vista área do BC12  e o 1º. Ministro Vasco Gonçalves


Os patrulhamentos mistos, na cidade de Carmona, começaram na noite de 26 para 27 de Março de 1975, integrando forças do EP (os Cavaleiros do Norte), das FAPLA (braço armado do MPLA) e das FALA (idem, da FNLA). A UNITA, ao tempo, não existiam pela terra uíjana.
A 15, e segundo o Livro do BCAV. 8423, «esta actividade militar já havia sido experimentada, aquando da comemoração do feriado da FNLA e exclusivamente ao serviço de segurança dos locais aonde iriam celebrar-se tais comemorações».
Ao tempo, «ensaiavam-se os primeiros passos de actividade operacional em Exército Integrado, com os movimentos emancipalistas», numa altura em que, nos distritos de Salazar e Luanda, que não no do Uíge,«se verificou um deteriorar da situação». 
A situação, em Luanda, é que«voltou a deteriorar-se» na noite da véspera, dia 25. «Duas granadas explodiram nos jardins do Palácio do Governo, não se tendo registado dívidas», noticiava a imprensa de há 40 anos. Acrescentava que «soldados da FNLA, na tarde de ontem, tomaram posições no cimo de alguns prédios  e ouviram-se também tiros de armas pesadas, durante a noite, embora se desconheçam os autores dos disparos».
Era para essa Luanda que, daí a dias, iríamos partir de férias: eu e o Cruz.

De Lisboa, também chegavam notícias da posse do novo Governo - o quarto Governo Provisório,  depois do 25 de Abril e ainda não tinha passado um ano.
- 1º. Ministro: Coronel Vasco Gonçalves (foto ao lado).
- Ministros sem Pasta: Álvaro Cunhal, Mário Soares, Pereira de Moura e Magalhães Mota.
- Negócios Estrangeiros: Major Melo Antunes.
- Justiça: Salgado Zenha.
- Trabalho: Major Costa Martins.
- Comunicação Social: Comandante Jesuíno Correia.
- Defesa: Comandante Silvano Ribeiro.
- Equipamento Social e Ambiente: Coronel José Augusto Fernandes.
- Coordenação Interterritorial: Almeida Santos.
- Planeamento Económico: Mário Murteira.
- Finanças: José Fragoso.
- Indústria. João Cravinho.
- Agricultura: Fernando Oliveira Baptista.
- Transportes e Comunicações: Veiga de Oliveira.
- Administração Interna: António Metelo.
- Educação  Cultura: Major José Emílio da Silva.
- Comércio Externo: Silva Lopes.
O elenco ministerial de Vasco Gonçalves governou até 8 de Agosto do mesmo ano (1975).
- EP: Exército Português.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de 
Libertação de Angola (do MPLA).
- FALA. Forças Armadas de Libertação 
de Angola (da FNLA).

3 071 - Cavaleiros no Quitexe e fuzilamentos em Luanda

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 Porta d´armas dos Cavaleiros do Norte, no Quitexe, e notícia de fuzilamentos 
em Luanda, há precisamente 40 anos (em baixo)


 
Aos 27 dias de Março de 1975, o comandante Almeida e Brito - ao tempo a comandar interinamente a ZMN - visitou a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes e que estava aquartelada no Quitexe. Lá chegara a 10 de Dezembro de 1974, vinda da fazenda Santa Isabel.
Almeida e Brito fez-se acompanhar pelo 2º. comandante, o capitão José Diogo Themudo, chegado uns dias antes, de Luanda - onde aguardava colocação e onde foi convidado para as novas funções, precisamente pelo comandante dos Cavaleiros do Norte.
O mesmo dia foi de notícias desanimadoras, da mesma Luanda: «Angola: ameaça de guerra civil», titulava o Diário de Lisboa, em despacho da capital angolana. Acrescentava que «ontem, Luanda viveu momentos dramáticos». E que «soldados da FNLA fuzilaram, 50 gerrrilheiros do MPLA, nua estrada proxima da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar».
«Pioneiros do MPLA foram também massacrados e dois deles enforcados», relatava o DL, precisando que «ao todo, foram mortos 51 jovens»e que «a matança foi feita com requintes de crueldade». Foram, acrescentava o jornal,«fuzilados sumariamente no Centro de Instrução Revolucionário Hoji la Henda, por elementos da FNLA». Tinham sido capturados e mandados subir para um camião, que os levou para um sítio isolado, perto de um vala. «Ali, à medida que iam descendo, eram abatido scom rajadas de metralhadora. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os esperava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga».
A UNITA declarava-se neutral e o presidente Jonas Savimbi, em Dar-es-Salan, declarava «não acreditar na possibilidade de uma guerra civil em Angola» e interrogava-se sobre «quem a começaria?».
Como ontem aqui foi dito, era para esta Luanda que eu e o Cruz, furrieis milicianos dos Cavaleiros do Norte, nos preprávamos paa patir, em gozo de férias.

3 072 - Cavaleiros em Vista Alegre e cessar fogo em Luanda

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Vista Alegre, em Dezembro de 2012: o que restava do aquartelamento e bombas (foto
de Carlos Ferreira). Em baixo, Vista Alegre no tempo dos Cavaleiros do Norte, há 40 anos!




A 28 de Março de 1975, uma sexta-feira, o capitão José Diogo Themudo, comandante interino do BCAV. 8423, deslocou-se a Vista Alegre e Ponte do Dange, onde estacionava a 1ª. CCAV., a de Zalala e do capitão miliciano Davide Castro Dias. Tal qual na véspera, quanto esteve no Quitexe, foi acompanhado do tenente-coronel Almeida e Brito (o nosso comandante), que, por esse tempo e também interinamente, comandava a Zona Militar Norte - a ZMN.
A deslocação terá sido para a apresentação do capitão Themudo, que dias antes tinha chegado a Carmona e ao BC12, para ser o 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte - convidado por Almeida e Brito. 
O BCAV. 8423, recordemos, estava sem 2º. comandante desde as vésperas da partida para Angola - quando o major Ornelas Monteiro, mobilizado para essa função, foi deslocado para a Guiné-Bissau, por incumbência do MFA.
Por Luanda, MPLA e FNLA (e UNITA), mediados por Almeida Santos e Melo Antunes, chegaram a acordo para acabar com os combates. Os movimentos assumiam o
 compromisso de «cessar as hostilidades e libertar, até ao meio dia de hoje, todas as pessoas que prenderam durante os últimos dias»
MPLA e FNLA não paravam de trocar acusações. Mantinha-se o recolher obrigatório (que eu e o Cruz viríamos a conhecer, na nossa chegada e estadia na capital, em férias) e os órgãos de comunicação social estavam impedidos de «noticiarem ou descreverem os acontecimentos». Assim  reportava o Diário de Lisboa dessa 6ª.-feira, dia 28 de Março de 1975. Há precisamente 40 anos!!!

3 073 - Remodelação do dispositivo e libertações em Luanda

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Carmona, a cidade no tempo dos Cavaleiros do Norte (foto da net). Em baixo, Monteiro 
e Viegas (à civil) nas traseiras da messe do bairro Montanha Pinto, em 1975. Há 40 anos!!!


Sábado, 29 de Março de 1975. Luanda continua com o recolher obrigatório, às 21 horas, mas «a tensão vai-se atenuando na cidade», depois da assinatura, na véspera, do protocolo entre os movimentos. O MPLA libertou alguns prisioneiros e entregou-os às Forças Armadas Portuguesas. A FNLA também libertou alguns populares.
Os dois movimentos tinham «montado o rigoroso serviço de segurança» à volta das suas sedes. A UNITA, pela voz do presidente Jonas Savimbi, declara-se neutral, negando estar do lado a FNLA, contra o MPLA. A cidade está cheia de slogans em favor do movimento do Galo Negro: «UNITA-Savimbi, igual a paz», é um deles. Outro: «UNITA, a tua segurança».
Os noticiários continuam suspensos, apesar de, como sublinha o Diário de Lisboa desse dia, «a situação estar aparentemente a regressar à normalidade». Esperava-se que Melo Antunes chegasse na segunda-feira a Luanda, depois de passar pela Tanzânia e Moçambique. Em Kinshasa, no Zaire, Almeida Santos garantira que «as eleições em Angola, terão lugar como previsto».
«Desejamos que se estabeleça o diálogo entre os três movimentos angolanos, para uma solução final do problema e o acesso deste país à independência», disse Almeida Santos, no final da audiência com Mobutu Sese Seko, o presidente do Zaire.
O Alto-Comissário, no mesmo dia 29 de Março, condenou a versão da ANI sobre os incidentes de Angola, considerando que «não pode deixar de ser tendenciosa, além de carecida de objectividade».  Além disso, acrescentou, «reveste-se de particular gravidade e denota ausência de consciência profissional do responsável, ou responsáveis, pela suja emissão».
Os Cavaleiros do Norte, no Uíge Angolano, continuavam a aguardar «o programa de continuação da remodelação do dispositivo». O principal problema que se punha era a ocupação, pelos movimentos emancipalistas, das instalações militares portuguesas. Por alguma razão continuavam a 1ª. CCAV. (a de Zalala) em Vista Alegre e Ponte do Dange e a 3ª. CCAV. (a de Santa Isabel) no Quitexe. No BC12. em Carmona, apenas, a CCS e a 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, E alguns grupos de combate das outras companhias.

3 074 - Grupo de combate na ZMN e apreensões em Luanda

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Vista Alegre, onde os Cavaleiros do Norte de Zalala estiveram desde 21 de Novembro 
de 1974 a 24 de Abril de 1975. Em baixo, os furriéis Américo Rodrigues e Plácido 
Queirós  com Augusto, um militar da 1ª. CCAV. 8423 - a de Zalala e Vista Alegre



A 28 de Março de 1975, «concluindo-se pela impossibilidade de garantir os serviços solicitados ao BCAV., houve que deslocar para Carmona mais um grupo de combate, este da 3ª. CCAV., por ser a subunidade que, de momento, tem a sua vida menos sobrecarregada».
O Livro da Unidade reporta este «mudança no dispositivo militar», numa altura em que a 1ª. CCAV., a de Zalala, aguardava mudança de Vista Alegre e Ponte do Dange para o Songo e a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel, do Quitexe para Carmona.
O dia, na guarnição comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias, foi assinalado pela presença do comandante Almeida e Brito, que lá foi apresentar o capitão José Diogo Themudo - o 2º. comandante do BCAV. 8423.
A 30 do mesmo mês - hoje se fazem 40 anos!!! -, Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial,  manifestou-se «confiante mas apreensivo» em relação a Angola. Confiante porque, disse à chegada a Lisboa (ido de Luanda), «o acordo do Alvor resistiu a mais uma dificuldade e funcionou porque o dialogo também funcionou». Apreensivo, «na medida em que há muita dinamite em Luanda e qualquer novo acidente pode detonar um conflito de graves proporções».
Receava, também, que«nos próximos dias, se possam repetir incidentes desagradáveis», já  que, frisava, «o clima de tensão se mantém».
Era para esta Luanda que, despreocupadamente, nos preparávamos para partir: eu e o Cruz. Para as nossas férias angolanas!!!

3 075 - Patrulhamentos mistos e véspera de férias angolanas

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Cruz e Viegas no separador ajardinado da avenida do Quitexe. Em baixo, estandarte do ECAV. 401








A 31 de Março de 1975,«forças do ECAV. 401 e 2ª. CCAV. 8423 fizeram um patrulhamento conjunto com os movimentos das áreas de Salazar. Quibaxe e Úcua». A situação acontecia depois de, segundo o Livro da Unidade, «contactos a vários níveis» e seguindo a experiência iniciada pelos Cavaleiros do Norte, na sua zona de acção.
A 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, já estava em Carmona, no BC12, desde 11 de Março - depois de um primeiro grupo de combate para lá se ter deslocada a 2, simultâneamente com a CCS.
Em Carmona, eu e o Cruz fazíamos malas para as nossas férias angolanas, viajando de avião para Luanda, na primeira etapa. Luanda onde, neste mesmo 31 de Maço de 1975, se registava «descida de tensão», relativamente aos dias anteriores, mas acontecia «tiroteio na Avenida do Brasil, onde está instalada a sede da FNLA». Era segunda-feira e, no sábado, tinha sido levantado o recolher obrigatório. Porém, segundo o Diário de Lisboa, «nas últimas 48 horas, houve violação do protocolo assinado entre o Governo português e os três movimentos de libertação», se bem que «essas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou quase normalidade, embora se pressinta um estado latente de tensão».
As emissoras privadas de rádio puderam retomar a sua programação normal, continuando a Emissora Oficial de Angola excluída, embora pudesse «difundir as notícias constantes dos comunicados oficiais». Mas não divulgou um comunicado do Comando do Sector de Luanda (sobre os incidentes que tinham terminado às 18 horas de Março) e outro dos médicos do Hospital Militar.
Era para essa Luanda que eu e o Cruz fazíamos malas, para uma primeira hospedagem no Katekero, antes de viajarmos para o sul.

3 076 - FNLA foi impedida e criticou Forças Armadas de Portugal

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Comandante Bundula (FNLA), capitães José Manuel Cruz (2ª. CCAV.; a de Aldeia 
Viçosa) e José Paulo Fernandes (3ª. CCAV., a de Santa Isabel) e alferes João Machado 
(2ª. CCAV.). Em baixo, o jornal «Liberdade e Terra», órgão oficial, diário, da FNLA




A 1 de Abril de 1975, o Exército Português «impediu uma coluna do ELNA de prosseguir, perto de Ambriz, o seu avanço em direcção a Luanda». O jornal «Liberdade e Terra», diário da FNLA, «critica veladamente o Exército português», recordando que «foram as Forças Armadas o suporte de 48 anos de fascismo e de 14 anos de guerras nas colónias portuguesas».
Os jornalistas portugueses, idos de Luanda, também não escaparam às críticas da FNLA: «Insidiosa campanha da imprensa portuguesa contra a FNLA», titulava o jornal do movimento de Holden Roberto, a toda a largura da primeira página. Na última, outro título:«Imperialismo manobra imprensa portuguesa contra a FNLA».
A Luanda a que iríamos chegar (eu e o Cruz) amanheceu com«crianças e jovens brancos a irem tranquilamente para as escolas e liceu», como relatava José António Salvador, enviado especial do Diário de Lisboa, dando conta, também, que«o tiroteio de ontem, na Avenida do Brasil, não passou de um pequeno incidente». Luanda, acrescentou,«é uma cidade onde se respira uma certa serenidade».
Os Cavaleiros do Norte, no Uíge angolano e já com a CCS e a 2ª. CCAV. 8423 aquartelados no BC12 e messes da cidade, aguardavam «a continuação da remodelação do dispositivo». O que só viria a acontecer no dia 24 de Abril. A 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala e do capitão Castro Dias, continuava em Vista Alegre e Ponte do Dange. A 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel e do capitão José Paulo Fernandes, jornadeava no Quitexe.

3 077 - Os dias de Luanda em clima de (não) tensão

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A baía e cidade de Luanda, em 1975. Em baixo, 
notícia do Diário de Lisboa de 2 de Abril de 1975


A 2 de Abril de 1975, já eu e o Cruz vadiávamos por Luanda, espreitando os seus prazeres e gostos, de esplanada em praia, galgando as noites de bulício e cio que nos atraíam e prendiam. A cidade, estranhamente, parecia muito tranquila e a vida corria sem embaraços. pelo menos, que por eles déssemos. 
A Portugália, o Paris Versailles, a Mutamba, o Amazonas, os bares e outros restaurantes da baixa luandina  eram pousos dos nossos desejos. Se MPLA e FNLA trocavam «mimos» de guerra, deles não demos conta e os nossos amigos que por lá viviam não mostravam preocupações especiais.
A esse dia, soube-se que o Alto Comissário tinha decretado a proibição de, em Angola, circularem os jornais Expresso e Sempre Fixe (de Lisboa) e Notícias (de Lourenço Marques). Os jornais locais, recordemos, estavam sujeitos a censura - executada por uma comissão had doc, nomeada pelo Alto Comissário - que era o general Silva Cardoso.
O ministro Melo Antunes era esperado em Luanda, nesse 2 de Abril de 1975, e um panfleto do MPLA, distribuído na cidade, convocava os militantes para uma manifestação. E exigia a substituição do Alto Comissário e o regresso do exército da FNLA (o ELNA) aos quartéis.
Jonhy Eduardo, dirigente da FNLA que fazia parte do Colégio Presidencial, em conferência de imprensa, atacou o MPLA e negou «responsabilidades da FNLA nos sangrentos acontecimentos recentemente ocorridos», como relata o  Diário de Lisboa. Jonhy Eduardo negou, também, que «tenham existido fuzilamentos e prisões» e acusou o MPLA de «ter provocado o clima de tensão que se viveu nos últimos dias».

3 078 - Serenidade em Carmona e riscos de guerra civil

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Carmona! A Rua do Comércio, em 2013 (foto de Lukoki Pindi). A seta destaca a 
Residencial Apolo. Presidentes Costa Gomes e Agostinho Neto (foto de baixo)



A 3 de Abril de 1975, as Forças Armadas Portuguesas «começaram aprestar ao MPLA a mesma assistência ,militar que estavam a prestar aos dois outros movimentos de libertação» - a FNLA e a UNITA. A decisão decorreu das negociações, em Lisboa, entre os presidentes Costa Gomes (Portugal) e Agostinho Neto (MPLA). 
O musseque do Cazenza, na noite da véspera, tinha sido palco de «novas confrontações violentas», entre as tropas deste movimento (FAPLA) e as da FNLA (ELNA). Foram disparadas rajadas de metralhadora para a sede do movimento de Agostinho Neto e ambos trocaram prisioneiros capturados nos incidentes da semana anterior. No Quibaxe «terminaram confrontações violentas» e, cito do Diário de Lisboa, «o ambiente é normal». O mesmo aconteceu no Piri, onde «não chegou a haver tiros».
As duas localidades fica(va)m na estrada do café, a caminho de Carmona - onde aquartelavam os Cavaleiros do Norte e a situação era calma - ao contrário de Luanda, onde «a conjuntura continua tensa» e o MPLA propunha uma cimeira com FNLA e UNITA. A proposta, com carácter de  «urgência», pretendia«definir normas complementares que garantam continuidade pacífica do processo de descolonização»- iniciado em Mombaça continuado no Alvor.
O Cruz e eu continuávamos em Luanda, sem dar conta de todas estas manifestações, e o Alto Comissário e o Colégio Presidencial, face aos acontecimentos, denunciou «manobras de agitadores profissionais, para perturbar o processo de descolonização, através de acções violentas». 
Os riscos de guerra civil, segundo o jornal «Le Soleil». do Senegal, «são grandes» e o seu enviado especial a Luanda admitia mesmo que «se rebentar a guerra entre os três movimentos de libertação, será ainda mas mortífera que a do Biafra e do Catanga reunidas».
Nada animadora perspectiva. Que se viria a confirmar.

3 079 - Férias de Cavaleiros e clima de tensão em Luanda

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Estádio dos Coqueiros e baixa e baía de Luanda, em 1975.Cartaz das eleições 
para a Assembleia Constituinte, a 25 de Abril do mesmo ano (em baixo)



O Cruz e eu andámos lá por Luanda, nos primeiros dias de Abril de 1975, indiferentes às diferenças entre os três movimentos de libertação. Mas a situação provoca  «dores de cabeça» o mundo. «A segurança de Angola preocupa muito o secretário geral da ONU», disse o embaixador Asdulasim Farah, enviado de Kurt Wakldheim, falando em Lisboa.
Melo Antunes, ministro português dos Negócios Estrangeiros, também neste dia chegou a Lisboa, vindo de Luanda, e deu conta que «ainda se está longe de achar um equilíbrio estável, mas que ele virá a verificar-se em breve, mercê do diálogo permanente que se está a verificar com os dirigentes dos diversos movimentos de libertação».
Por Carmona e a 4 de Abril de 1975, registou-se o regresso do tenente coronel Almeida e Brito «ao comando do BCAV. 8423» - não sei se regressado de férias ou de alguma missão. Houve tempo em que, interinamente, comandou a ZMN. 
Em Portugal, decorria a primeira campanha eleitoral pós-25 de Abril, com centenas de comícios por todo o país. Concorriam o PS (liderado por Mário Soares), o PPS, actual PSD (Sá Carneiro), Partido Comunista (Álvaro Cunhal), CDS (Freitas do Amaral), MDP/CDE (José Manuel Tengarrinha), PPM (Gonçalo Ribeiro Telles), Frente Socialista Popular (Manuel Serra), Movimento de Esquerda Socialista (Afonso de Barros). UDP (João Pulido Valente), FEC (m/l), Partido de Unidade Popular (PUP), Liga Comunista Internacionalista, Associação para a Defesa dos Interesses de Macau (ADIM) e Centro Democrático de Macau.

3 080 - FNLA no norte e Cavaleiros em férias luandinas

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Marginal de Luanda, em 2013 (foto da net). Em baixo, mapa do norte de Angola, com 
algumas povoações dos Cavaleiros do Norte em destaque (clicar na imagem, para se ver melhor)




Aos 5 dias de Abril  de 1975, a flautiar a vida pela cosmopolita Luanda - apesar do que por lá se passava, principalmente nos bairros suburbanos... - eu  e o Cruz preparávamos malas para voar para o sul, primeiro para a verdejante e deslumbrante Nova Lisboa, em voo da TAAG.
Já tinha feito (eu) o percurso por estrada, em Setembro de  1974, pelo que a opção aérea até por isso se ofereceu mais segura. Era sábado, fomos até à ilha e por lá almoçámos, com boleia do meu conterrâneo Albano Resende. Almoço farto, bem regado e melhor aperitivado com uns bons pares de gambas grelhadas - um sabor praticamente novo para as nossas bocas!!!
A população civil luandina começava a acordar para novas e mais delicadas realidades, de que eram exemplo os constantes incidentes entre os homens armados dos movimentos de libertação. «As desavenças ameaçam transformar em guerra civil o processo de descolonização»,  relatava imprensa vespertina do dia.
A situação preocupava alguns presidentes africanos e nesse dia, no Zaire e para a analisarem, reuniram-se Julius Myerere (Tanzânia), Keneth Kaunda (Zâmbia) - que apoiavam o MPLA -  e o anfitrião Mobutu Seze Seko, apoiante da FNLA, presidida pelo cunhado Holden Roberto.
Mais a norte, em S. Salvador (no Congo angolano), a FNLA ocupava a maioria da campos militares abandonados pelos portugueses. Era o caso de N´Kiende, perto de S. Salvador (actual M´Banza Congo) que, seguindo a imprensa dessa tarde de sábado de há 40 anos (5 de Abril de 1975), «converteu-se num importante centro de treino para os recrutas da FNLA».
«Dois mil soldados recebem ali uma formação militar de base, durante três meses, e um treino especial de comandos, de 670 dias», noticiava o Diário de Lisboa.
Tais povoações ficavam a norte de Carmona, a não muitos quilómetros, na roda dos 300, o que por Angola era como «ir ali e vir já!».

3 081 - Cavaleiros em Vista Alegre e Quitexe, nais de 200 mortos em Luanda

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Furriel Viegas (o segundo da direita) e capitão Domingues (o primeiro, idem)
com a Família Resende, em Luanda, Abril de 1975.  A Portugália, local 
de culto dos  militares portugueses, na baixa de Luanda




Dia 6 de Abril de 1975!!! É domingo, dia de mata-bicho de pregos o pão e vinho verde, na Portugália, na baixa luandina. Do lado, da sede do jornal A Província da Angola, vinha sempre o Rebelo Carvalheira, que ali era jornalista e sempre nos trazia algumas notícias. Por exemplo, a que ainda era tenso o ambiente na cidade, onde, na véspera, se tinham registado mais incidentes - de pouca expressão, embora! Notícias que não eram, afinal; pelas limitações impostas pela governação local. 
A véspera fôra, mesmo assim, tempo de O Comércio noticiar a demissão de Lopo do Nascimento, dirigente do MPLA com assento no Colégio Presidencial. Em Lisboa, o Diário desta cidade (o DL) dava conta que «até agora,  morreram, ao que se noticia, mais de 200 pessoas, no combates entre o MPLA e a FNLA». À mesma Lisboa, chegou o presidente Agostinho, ido da Holanda e da Bélgica, para conversações com Costa Gomes, Presidente da República Portuguesa.  
O fim da manhã foi tempo para boleia do conterrâneo Albano Resende, civil a laborar em Luanda - para visitas de cortesia a outros conterrâneos, com um opíparo almoço pelo meio, num dos restaurantes da ilha - a olhar Luanda de frente, galgando o espaço da magnífica baía. Bem regado e aberto com fartos pratos de marisco. Que saudades!!!
O Albano deu-nos conta de uma próxima viagem de sua cunhada Fátima a Lisboa e à nossa terra natal. Trazer-me-ia (trouxe-me) uma aparelhagem sonora (que ainda hoje adorna a minha sala de estar) e uma caixa com garrafas de whisky, licores e vodka. Algumas delas, 40 anos depois, ainda por aqui estão!
Pelo chão uíjano, o comandante Almeida e Brito, com o capitão José Diogo Themudo (2º. comandante) e o alferes António Albano Cruz (oficial de manutenção-auto) visitaram a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala mas agora em Vista Alegre - para preparar a próxima rotação para o Songo, o que viria a acontecer no dia 24 de Abril. Na passagem pelo Quitexe, visitaram a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel - que ali estava desde 10 de Dezembro de 1974, com a CCS. E sem esta, desde 2 de Março de 1975.

3 082 - Missão da OUA/ONU em Luanda e expectativas em Carmona

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A baía de Luanda, com a fortaleza em primeiro plano. Em baixo, a 
piscina de Carmona, no tempo dos Cavaleiros do Norte (1975)


A OUA e a ONU deliberaram, a 7 de Abril de 1975, enviar uma  missão conjunta a Luanda, para «investigar os mais recentes recontros entre os movimentos nacionais rivais». O secretário geral William Eteki Nboumoua (OUA) anunciou esse objectivo em Dar-es-Salam - onde participou na reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros desta organização africana.
A missão conjunta, ainda segundo William Eteki Nboumoua, deslocar-se-ia para Angola «dentro de duas semanas, para investigar os distúrbios que ameaçam a transferência pacífica para a independência, em Novembro próximo».
Nada disso era surpreendente, mesmo para os lados do Uíge, onde os Cavaleiros do Norte, gradualmente, faziam «reconhecimento da zona de acção que fora distribuída» e, pelo senso e experiência do comandante Almeida e Brito, como que antecipavam os próximos problemas.
Os incidentes de Luanda, que se repetiam!!!!, já se multiplicavam para os ossos lados, em Salazar, e não era espantoso que chegassem a Carmona - onde a FNLA, em perda de influência na capital, pretenderia, seguramente, exibi-la no chão uíjano. Onde estavam os Cavaleiros do Norte.
Bem avisado andava o comandante Almeida e Brito, quando alertava para essa expectabilidade. E quando «procurando encontrar soluções para todos os problemas», reunia semanalmente com responsáveis dos movimentos, numa acção que foi «primórdio do Estado Maior unificado».
Eu e o Cruz, em Luanda, preparávamos a partida aérea para Nova Lisboa, em férias.
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