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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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3 082 - Censura, incidentes e Cavaleiros do Norte sem rotação

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O que, em Dezembro de 2012, o Carlos Ferreira fotografou do antigo quartel 
da 2ª. CCAV. 8423, em Aldeia Viçosa. Em baixo, o alferes Carvalho, capitão José 
Manuel Cruz, alferes António Albano Cruz e João Periquito (de pé) e Jorge 
Capela (de cócoras). Há 40 para 41 anos!  



A 8 de Abril de 1975, foi suspensa a censura em Angola, que vigorava «desde os sangrentos incidentes registados em Luanda. nos últimos dias de Março». As emissoras particulares«não podiam emitir qualquer notícia, enquanto aos jornais e à Emissora Oficial de Angola apenas era permitido divulgar os comunicados oficiais». Foi isto há precisamente 41 anos!!! O tempo passa!!!
Agostinho Neto, em Lisboa, acusava a imprensa de«deforma(r) sistematicamente as declarações e actividades do MPLA» e referia que«para saber o que se passa em Angola, a população é obrigada a recorrer à imprensa e às emissões de rádio estrangeiras». Sobre os incidentes na capital angolana, relacionou-os com «a presença dos agentes da ex-PIDE/DGS, agora integrados nos serviços de informação militares, cuja actividade visa fundamentalmente combater o MPLA e desacreditar o Governo Português».
A manhã desse dia foi tempo, também, para uma reunião, no Palácio do Governo, entre os Estados Maiores dos três movimentos de libertação - o MPLA, a FNLA e a UNITA - para «analisarem questões militares, nomeadamente as que se referem à constituição da forças integradas, embrião do futuro exército de Angola», para o qual, sublinhava o Diário de Lisboa (que temos vindo a citar),«já se encontra decidido o necessário orçamento».
Na véspera, noite de 7 de Abril de 1975, em Luanda, foi atingido um avião sul-africano, civil, quando sobrevoava o Bairro Popular, momentos antes de pousar ao aeroporto. O Boeing 747«aterrou normalmente, não tendo sido atingidos quaisquer dos 247 passageiros a bordo». Depois de inspeccionados«os estragos causados pelas balas», regressou a Joanesburgo, cancelando a viagem para Londres.
Por Carmona, os Cavaleiros do Norte prosseguiam a sua jornada africana, com sucessivos patrulhamentos, urbanos e de longo curso, mas com algumas dificuldades, por insuficiência de pessoal. Ainda demoraria a rotação da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, ara Carmona. Só a 26 de Abril desse ano de 1975. 

3 084 - Cavaleiros do Norte, blog completou 6 anos!!!

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Almeida,o alferes de reabastecimento, e Viegas, furriel dos Rangers, dois Cavaleiros 
do Norte que se «acharam» 41 anos, na Páscoa de 2015, depois de se conhecerem no Quitexe



Há 6 anos, a 9 de Abril de 2009, era Quinta-Feira Santa, mas foi também o dia de Natal deste blogue. Blogue baptizado de Cavaleiros do Quitexe mas rapidamente registado como Cavaleiros do Norte. Ao tempo, como hoje, quis (quer) ser o ponto de encontro dos militares do Batalhão de Cavalaria 8423, que jornadeou por Angola, em 1974 e 1975 - pelo Uíge, pelo Quitexe, por Zalala, Aldeia Viçosa e Santa Isabel, Carmona, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e outras terras do chão nortenho do país que então se formava.
Passaram-se 6 anos, é verdade, com actualizações diários, hoje na 3 084ª. postagem, fazendo memórias do que foi a epopeica passagem dos Cavaleiros do Norte pelo então Estado de Angola, sob administração portuguesa e em processo de independência, depois da revolução que, em Portugal, fez o chamado país de Abril - com as suas virtudes e defeitos, glórias e tragédias, conquistas e frustrações que se conhecem Mas isso é conversa para outros sítios.
O que, principalmente, valeu a pena neste blogue foi o evocar de momentos pessoais ou colectivos da jornada africana (fazendo memória dos 15 meses da nossa passagem por Angola) e também o achar de companheiros que a vida foi dividindo pelo mundo e se reencontraram através deste ponto de encontro.
Só por isso, vale a pena continuar!
C. VIEGAS
(ex-furriel miliciano de Operações 
Especiais, os Rangers!)
-ALMEIDA. José Alberto Alegria Martins de 
Almeida, licenciado em Economia e Arquitectura, 
empresário e Cônsul de Marrocos no Algarve. 
A bandeira da foto, na sua casa de Albufeira, é a 
deste país norte-africano.

3 085 - Exército Nacional de Angola e FNLA no aeroporto de Luanda

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O furriel Viegas em Nova Lisboa, Abril de 1975, com as jovens familiares Fátima e Idalina, 
filhas do casal Cecília/Rafael, donos do Hotel Bimbe, em Nova Lisboa. Ambos faziam férias e passeavam pelo centro de Angola. Em baixo, notícia do Diário de Lisboa sobre a situação angolana. Há 40 anos! 


A 10 de Abril de 1975, há precisamente 40 anos, já eu e o Cruz laureávamos o queixo por Nova Lisboa, onde principescamente fomos recebidos pela minha familiar Cecília, filha de meu padrinho Arménio, de baptismo.
Viajámos em avião da TAAG, de Luanda para a capital do Huambo, felizes por várias razões. A primeira, por irmos ao encontro de gente amiga e conhecer uma das mais belas regiões da paisagem física e social de Angola. Lá chegados, fomos de táxi até ao Hotel Bimbe, numa das principais avenidas da cidade e que era propriedade desses meus familiares. 
Lá chegámos, de surpresa, suscitando uma situação curiosa: ao ver-nos chegar, e pensando-nos novos clientes, Rafael Polido (o marido de Cecília) chamou apressadamente os serviços, para que nos recebessem. Que clientes receberam!
O mesmo dia foi tempo para os Estados Maiores do MPLA, da FNLA  e da UNITA reunirem em Luanda, confirmando «o desanuviamento que se começa a observar entre os trêsmovimentos, após o protocolo de acordo que assinaram há dois dias, pondo termo às hostilidades». O novo organismo passou a denominar-se Forças de Prevenção e seria o princípio (mas nunca concretizado) do futuro Exército Nacional de Angola.
A FNLA dominava o aeroporto de Luanda - cuja gestão lhe tinha sido«unilateral e inexplicavelmente cedido pelo Governo de Transição», nomeadamente pelo Ministro N´gola  Kabungu, da mesma FNLA!! Mas a verdade é que N´Gola Kabandu pouca  importância ligou às críticas. 
O Forte de S. Pedro da Barra, controlado pelo movimento de Holden Roberto, transformou-se em«prisão e lugar de torturas do povo angolano, e daí partiram os prisioneiros que foram chacinados no Caxito, chacina que esteve nas origem dos protestos dos médicos da Forças Armadas Portuguesas».
Assim foi, e com mais pormenores, a vida angolana de há 40 anos!!!


3 086 - Dias de Carmona e do Uíge, de Luanda e de Nova Lisboa!

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CARMONA, actual Uíge. Saída da cidade para o Negage, a partir da rotunda do final da 
Rua do Comércio, que também dava para o Quitexe (foto By Bembe, de 17 de Julho de 2010). 
Em baixo, notícia da suspensão do jornal A Província de Angola e furriel Viegas 
junto da estátua de Norton de Matos, em Nova Lisboa, Abril de 1975, há 40 anos!



Os dias de Carmona e do Uíge prosseguiam, a meados de Abril de 1975, com«a procura de obter, para o Uíge, a tal calma aparente e o entendimento entre todos os movimentos». Para isso, segundo o Livro da Unidade, «tem sido procurado encontrar soluções para todos os problemas, através de reuniões semanais, primórdio de Estado Maior Unificado».
A actividade dos Cavaleiros do Norte prosseguia em outras frentes do chão uíjano. Por exemplo, nas visitas do comandante Almeida e Brito às várias subunidades. A 11 de Abril de 1975, hoje se fazem precisamente 40 anos... - visitou a CCAÇ. 4741/74, adida ao batalhão e estacionada no Negage. Operacionalmente, dependia do BCAV. 8423 desde o dia 17 de Março anterior.
Em Carmona, a capital (actual cidade do Uíge), continuavam os patrulhamentos dos Cavaleiros do Norte e o serviço de Polícia Militar (PM), que alguns amargos de boca nos trouxe - nomeadamente com a comunidade civil.
Por Luanda, iam complicadas algumas coisas. O jornal A Província de Angola, diário, foi novamente suspenso e multado em 100 contos - desta vez por «ter publicado na segunda-feira um artigo em que acusava o MPLA de ter morto soldados da FNLA com metralhadoras recebidas da União Soviética».
O dia de véspera, segundo a Reuters, tinha sido calmo, mas estimava-se que as confrontações entre os dois movimentos. na capital, tivessem provocado«mais de 200 mortes».  
Eu (foto em cima) e o Cruz, vadiávamos pelo Huambo - na capital Nova Lisboa, na Caala, Bela Vista e Vila Nova... - conhecendo as suas paisagens e gentes. Foram dias memoráveis, ambos mimados pela cortesia familiar do Hotel Bimbe, que era de Cecília Neves e do marido Rafael Polido - ela filha de Arménio, meu padrinho de baptismo e que anos anos falecera, vítima de um acidente de viação, quando morava na Gabela!!!

3 087 - Problemas na zona leste e férias em Nova Lisboa

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O Cinema Ruacaná, em Nova Lisboa. O furriel Viegas e a madrinha Isolina, a
12 de Abril de 1975, na mesma cidade - a capital do Huambo 


A 12 de Abril de 1975 foi dada como «reestabelecida a calma no Luso, no estremo leste de Angola, onde se deram incidentes graves na terça-feira, envolvendo forças militares do MPLA e da FNLA, que duraram cerca de 12 horas».
A «aurear o queijo» por Nova Lisboa, eu e o (furriel) António José Cruz, de nada obviamente sabíamos, a não ser a pouco informação que circulava nos jornais e rádios angolanos - a única que nos chegava com regularidade, mas que andava a créditos de censura imposta pelo Governo de Transição.
Os incidentes, segundo a imprensa do dia, «originaram prejuízos materiais de certa monta, nalguns edifícios da cidade». E também «morreu um civil e houve vários militares e civis feridos».

A situação, estando eu com a família Cecília Neves/Rafael Polido, no nova-lisbonense Hotel Bimbe, levou-nos a alertá-los para os putativos perigos que se adivinhavam para a zona do Huambo (e sul da Angola) - a que o casal, seguro da paz que por lá se vivia, não deu grande crédito. Bem se viria a arrepender.  
Um telefonema para o Francisco Neto, o furriel-irmão que continuava por Carmona, deu-me conta de alguns problemas que se viviam na zona. Telefonar, ao tempo, não era como hoje, à velocidade dos telemóveis que, num ápice, nos põem à conversa com a outra ponta do mundo. Pedi, do Hotel Bimbe, para ligar para a messe de sargentos do Bairro Montanha Pinto e foi de lá que o Francisco Neto deu conta que «está tudo controlado», mas - há sempre um mas... - acrescentando que «há umas escaramuças entre os gajos do MPLA e da FNLS, que não se entendem...». As palavras terão sido mas ou menos essas.
O 12 de Abril de 1975 era sábado e foi tempo para um facto inusitado: a ida de minha madrinha Isolina ao cinema. Não era seu hábito e não me recordo do nome do cinema. Era do outro lado do caminho de ferro, a partir das Avenida 5 de Outubro e perto do campo do Ferroviário e do Hotel Bimbe. E neste cinema, depois de uma frustrada tentativa de ir ao Ruacaná -aqui, sem bilhetes. Ironicamente, um filme da guerra do Vietname, o que levou minha madrinha a perguntar-me se a nossa guerra, lá pelo norte de Angola, também era assim. Disfarcei, como pude, a resposta à querida senhora minha afim madrinha de baptismo.

3 088 - Passeio pelo Huambo e graves incidentes em Carmona

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Furriel Viegas, à direita, a 13 de Abril de 1975, na Barragem do Cuando, arredores 
de Nova Lisboa, com o casal Cecíla Neves e Rafael Polido. Em baixo, o alferes Meneses Alves


Abril de 1975, dia 13. É domingo e no calor temperado do Huambo, em Nova Lisboa, o casal Cecília Neves e Rafael Polido leva-nos - a mim e ao Cruz, ambos furriéis milicianos dos Cavaleiros do Norte - a um passeio pela região, sentindo os seus cheiros e admirando as suas paisagens. Parámos na barragem do rio Cuando, de onde se abastecia a cidade e onde, ao tempo, se erguia uma missão católica.
A albufeira era espaço para banhos de jovenzinhos negros, nus, de carapinha a dois dedos, que saltavam e mergulhavam de felicidade e prazer nas águas paradas. Voltavam a terra e voltavam  saltar. E era, também, espaço de pesca, que alimentava famílias e por acréscimo nos divertia, porque nos queria vender peixe, para ganhar alguns angolares e engendravam as mais inacreditáveis razões para o mercadejar.
Eu, os Neves/Polido e o Cruz (que serve de fotógrafo...), estendemos a toalha e merendamos, com cucas a refrescar a garganta. Mal sabíamos que, em Carmona, «uma acção de fogo entre a FNLA e o MPLA, através de elementos das suas forças militares» obrigou  a uma intervenção de uma força portuguesa, comandada pelo alferes Meneses Alves, para acabar com «o grave conflito, na própria cidade».
O alferes Meneses Alves viria a ser louvado, porque, segundo a Ordem de Serviço nº. 90, «actuou de forma rápida, decidida e enérgica, não deixando dúvidas quanto à determinação do pequeno núcleo de tropas que comandava». Por tal,  «conseguiu a detenção de dois dos elementos em confronto e ainda, de imediato, ter feito abortar a referida manifestação».
A manifestação«não autorizada superiormente» decorreu na cidade, ao fim da tarde desse domingo, dia 13 de Abril de 1975. Há precisamente 40 anos!
- MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes miliciano 
atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8523. Empresário em 
Leria, faleceu a 15 de Maio de 2013, vítima de doença. 
Vet AQUI

3 089 - Cavaleiros reforçados e missão OUA/ONU em Luanda

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 O capitão Meneses, comandante do 1ª. CCAÇ. 5015, com o furriel Américo Rodrigues, da 
1ª. CAV. 8423, a de Zalala. São familiares. mas não se acharam no Songo. Em baixo, 
o emblema da CCÇ. 5015



Os Cavaleiros do Norte, a 14 de Abril de 1975, foram reforçados com um Grupo de Combate da 1ª. CCAÇ. do Batalhão de Caçadores 5015, aquartelado no Songo. Era comandada pelo capitão Tojal de Meneses e também tinha estado em Chimango e Lucunga. 
A curiosidade maior é que o oficial comandante dos «caçadores» era (é) familiar do (furriel milicano) Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423. Porém não se encontraram por lá - mesmo a 24 de Abril e dias seguintes, quando os Cavaleiros do Norte de Zalala rodaram de Vista Alegre e Ponte do Dange para o Songo.
Carmona, por essa altura, vivia «conflitos diversos» e, segundo o Livro da Unidade, para «obstar a tais inconvenientes e para cumprir uma intensa actividade de patrulhamentos mistos, houve que reforçar temporariamente o BCAV.».
O mesmo dia 14 de Abril de 1975 foi tempo, em Luanda, para as Delegações da OUA e da ONU se «inteirarem da situação em Angola». Os quatro enviados especiais iriam demorar-se 10 dias na capital e estudariam «as necessidades do país no campo social e económico», excluindo a situação política dos «objectivos da missão».
As lutas entre o MPLA e a FNLA, relata o Diário de Lisboa desse dia, «ameaçam pôr em risco a passagem pacífica para a independência». E Lúcio Lara, dirigente sdo MPLA, considerou como «interferência contrária aos interesses nacionais, a presença da missão em Angola». Era assim que comentava a declaração da OUA e da ONU, no sentido de enviarem «uma missão conjunta, para investigar, em pormenor, as sangrentas confrontações recentemente ocorridas entre partidários do MPLA e da FNLA, em Luanda».
Os delegados, todavia, fizeram questão de «assegurar, com insistência, que «a situação política está excluída dos objectivos da missão».
 - MENESES. Manuel Diamantino Tojal de Meneses, capitão
miliciano e comandante da 1ª. CCAÇ. do BCAÇ. 5015.
Professor doutor e investigador do Centro de Estudos
de Língua, Comunicação e Cultura do Instituto
Superior de Maia.
. RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues,
furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. do
BCAV. 8423. Aposentado e residente em Vila Nova de Famalicão.
- FOIO. Dia 12 de Maio de 2012, em Vila Nova de Famalicão.
VER AQUI

3 090 - Reforços em Carmona e nacionalizações em Lisboa

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Cruz e Viegas, Cavaleiros do Norte num miradouro entre Caála  (Roberto Wiliams 
e Nova Lisboa, em Abril de 1975. Em baixo, o capitão José Paulo Fernandes, 
comandante da 3ª. CCAV. 8423, com o 1º. sargento Marchã


A 15/16 de Abril de 1975, andando eu e o Cruz a vadiar, em saborosas férias por Nova Lisboa, mimosos com a recepção do casal Cecília/Rafael, os Cavaleiros do Norte, em Carmona, eram reforçados com mais um grupo de combate. Este, da 3ª. CCAV. 8423. A 3ª. CCAV., comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes, estava ao tempo aquartelada no Quitexe - onde se juntou à CCS, a 10 de Dezembro de 1974. A razão do reforço era qual? Pois, como se lê no Livro da Unidade e tal qual como acontecera na véspera, com o grupo de combate da CCAÇ. 5015,«cumprir uma intensa actividade de patrulhamentos mistos» e ainda porque «pretendendo-se, ao mesmo tempo,  realizar patrulhamentos de longo curso, chamemos-lhe assim, não se podia deixar a cidade de Carmona inactiva».
O Portugal europeu «teve um dia histórico»: o da nacionalização dos sectores básicos da indústria e energia (electricidade, refinação e distribuição de petróleo), Siderurgia Nacional, transportes e comunicações. Além das 14 empresas destas áreas, o Governo de Vasco Gonçalves também nacionalizou a Sacor, a Petrosul e a Sonap, a Cidla e a parte portuguesa da Soponata (largamente maioritária), a CP, a Companhia Nacional de Navegação, a Companhia de Transportes Marítimos e a TAP.
«Vocês, jornalistas, devem ter a noção do momento histórico de Portugal, a que acabamos de assistir», disse Vasco Gonçalves, anunciando que «outras nacionalizações se seguirão».
Eram revolucionários, os tempos de há 40 anos!!!



3 091 - A partida para Angola do Pelotão de Morteiros 4281

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 Alferes António Garcia, Jaime Ribeiro e João Leite, de frente. Augusto Rodrigues (meio 
cortado, à esquerda), tenente Luz (de costas) e alferes Carlos Silva. Em baixo, o
emblema do Pelotão de Morteiros 4281.


Há 41 anos, a 16 de Abril de 1974, o Pelotão de Morteiros 4281 partiu para Angola e demorou-se alguns dias no Grafanil, antes de partir para o Quitexe - onde foi substituir outro pelotão, que lá estava há 28 meses. Foram nossos companheiros entre 6 de Junho (data da nossa chegada à vila-mártir do Uíge) e 20 de Dezembro do mesmo ano (dia da sua saída para Carmona). O comandante do PELMOR 4281 era o alferes miliciano João Leite, açoriano que está emigrado nos Estados, em Salt Lake City - onde é empresário do sector das tecnologias de informação, casado e pais de dois filhos (um casal) e avô de dois netos (em vésperas de três).
O pelotão tinha também um 2º. sargento, o Gomes - que era de carreira e, na altura, teria uns 42 anos. O Costa, furriel do PELMOR 4281, recorda que «era um tipo alto, muito magro,
todo desengonçado, tez escura, pouco expansivo, que já ia na 3ª. ou 4ª. comissão, a 1ª. tinha sido na Índia».
O 2º. sargento Gomes, diz o Costa, «era o antigo chefe da carreira de tiro de Mafra e uma máquina a fazer tiro de G3»
«Conseguia saltar em andamento de um burro de mato, e acertar num alvo em movimento a uma distância considerável», precisou o furriel dos Morteiros, lembrando que, todavia «era raro ir para o mato». Era o responsável pela secretaria.

Furriéis milicianos eram o já falado Luís Filipe dos Santos COSTA (foto acima, a cores), agora reformado das SONAE e administrador de condomínios em Tavira. Outro, era o Fernando Freitas Reimão PIRES (foto de farda nº. 1) - que seguiu a carreira militar, na GNR, e se aposentou como sargento-chefe. Natural do Porto, vive em S. Domingos de Rana, perto de Cascais. 

3 092 - OUA/ONU em Luanda e Cavaleiros do Norte no Uíge

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A delegação da OUA e da ONU chegou a Luanda a 17 de Abril de 1975, hoje se passam 40 anos. «Recebida com bastante frieza», reportou o Diário de Lisboa, citando despachos das agências noticiosas Reuters e  France Press e dando conta que foi «aguardada apenas pelo embaixador da Zâmbia em Luanda e por um oficial das Forças Armadas Portuguesas».
A missão era chefiada por Abdul Farah, assistente do secretário geral das Nações Unidas (que era Kurt Waldheim) e«chegou a Luanda no meio de uma verdadeira tempestade de protestos públicos». Disse Abdul Farah: «Todo o mundo deseja a paz em Angola e todos os movimentos de libertação possuem, sem dúvidas, dirigentes conscientes, por isso mesmo estamos seguros que, sob orientação desses dirigentes, a prosperidade angolana é verdadeiramente possível».
O mesmo dia foi tempo para, na sede do jornal A Província da Angola (dirigido por Rui Correia de Freitas e apontado como afecto à FNLA), sede ao lado da Portugália (foto), para uma agressão a Daphe De Groot, mulher do cônsul da Holanda em Angola». 
«Foi brutalmente espancada», refere o Diário de Lisboa. O mesmo jornal,  sobre Rui Correia de Freitas, também proprietário do jornal, dizia que «é um elemento ligado ao ex-regime fascista-colonialista e teve papel de relevo no golpe falhado de 28 de Setembro».
«Ao ser-lhe passado um mandato de captura - referia, ainda, o DL - refugiou-se na África do Sul, tendo regressado em princípios de Março, sob a protecção da FNLA».
Os Cavaleiros do Norte, lá pelo Uíge, continuavam, e com êxito, a sua missão de protecção de pessoas e bens, sem olhar a cores de pele e de política, de religião ou de fé. As primeiras eleições pós-25 de Abril preparavam-se no terreno, com imensos comícios no Portugal Europeu e, em Carmona, os Cavaleiros do Norte iam sendo esclarecidos e operacionalizados.
«Dando a nossa colaboração ao processo revolucionário de Portugal, foi o BCAV. encarregado da montagem das mesas de voto em Carmona», refere o Livro da Unidade. Estávamos a uma semana das eleições para a Assembleia Constituinte, a 25 de Abril de 1975.
Eleições nas quais, eu (foto) e o António José Cruz, em cruzeiro turístico pelo centro/sul de Angola, não votaríamos. Foi a uma sexta-feira, dia do primeiro feriado nacional do 25 de Abril, e ambos continuávamos a vadiar pela zona de Nova Lisboa, já em preparativos para a viagem de comboio que, no caminho de Ferro de Benguela, nos levaria de Nova Lisboa ao Lobito. Uma viagem inesquecível!!!

3 093 - Cavaleiros em V. Alegre e Facção Chipenda na FNLA

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 Daniel Chipenda, à esquerda, líder da Revolta do Leste, aderiu, com o seu 
movimento, à FNLA, a 18 de Abril de 1975. Em baixo, entrada de Vista Alegre (em 1975) e 
notícia sobre a reunião dos Estados Maiores das FAPLA, do
 ELNA e da FALA

O capitão José Diogo Themudo, que se fez acompanhar do oficial das oficinas de manutenção auto - o alferes miliciano António Albano Cruz. Preparava-se a rotação da 1ª. CCAV. 8423 para o Songo.
Os Cavaleiros do Norte de Zalala - os da 1ª. CCAV. 8423 - estavam em Vista Alegre e Ponte do Dange desde 21 de Novembro e concluindo a rotação a 25 de Novembro de 1974. Ali, substituiu a CAÇ. 4545/74 que, por sua vez e por dias, ocupara as instalações da CCAÇ. 4145/72 (que de lá saiu a 19/11).

A 18 de Abril, continuando eu e o Cruz pelo centro litoral da Angola (de férias),«voltaram a reunir-se os Estados Maiores» das FAPLA (exército do MPLA), do ELNA (da FNLA) e das FALA (da UNITA). Analisaram de forma «exaustiva da situação política e militar do país», assim como «a apreciação da aplicação prática das decisões tomadas anteriormente, no que respeita à organização das forças de prevenção e das forças integradas».
Os dirigentes dos três movimentos reconheceram, igualmente, que «os inimigos da independência do povo angolano, não tendo compreendido o momento  histórico, persistem em manobrar na sombra, preparando-se mesmo para desencadear conflitos em Luanda, entre 15 e 30 de Abril».
O dia assinalou também a extinção da Facção Chipenda (a Revolta do Leste),«dissolvida e integrada na FNLA». O acordo foi assinado nessa manhã, em Kinshasa, a capital do Zaire, e Daniel Chipenda passava a secretário geral adjunto e a membro do Conselho Nacional da  Revolução e do Gabinete Político do movimento presidido por Holden Roberto.
Os principais dirigentes da Facção Chipenda ocuparam diferentes postos de responsabilidade na FNLA e os seus combatentes integrados no ELNA. Mal imaginávamos que, semanas depois, iríamos fazer segurança a um comício de Chipenda, no campo de futebol de Carmona.

3 094 - Cavaleiros do Norte e notas falsas, há 41 anos!!!

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Santa Margarida, a estrada e o campo militar. O Destacamento do 
RC4 onde «estagiaram» os Cavaleiros do Norte está assinalado a verde. 
Em baixo, quatro Cavaleiros do Norte: Carlos Letras, José Louro e Vitor 
Costa (de pé) e João Brejo (sentado)


Aos 18 dias do mês de Abril de 1975, o Governo de Transição de Angola tomou a insólita decisão de obrigar todas as emissoras de radiodifusão a«transmitir o serviço noticioso da Emissora Oficial». Para o efeito, sublinhava,«deverão entrar em cadeia com aquela estação oficial». 
O decreto do Ministro da Informação acrescentava que«na restante programação, as emissoras mantêm completa autonomia».
Um ano antes, a 19 de Abril de 1974, já os Cavaleiros do Norte estavam mobilizados (e de Licença de Normas) e chegavam de Angola noticias: as autoridades locais desarticularam uma rede de falsificadores e apreenderam 2 milhões de dólares falsos.
As investigações foram da Polícia Judiciária e Direcção Geral de Segurança (de Nova Lisboa), dando conta o jornal A Província de Angola, citando a Rádio Clube do Lobito, que estavam «detidos alguns dos culpados» e que as notas teriam sido fabricados pelo sistema ofsett, numa tipografia de Nova Lisboa - havendo já «algumas pessoas burladas com as notas falsas».
O mesmo dia, foi tempo de partida, para Angola, do general Tello Polleri, Secretário de Estado da Aeronáutica. O objectivo era visitar as unidades da Força Aérea naquele Estado (então) Português.
O dia era sexta-feira e faziam-se vésperas para a apresentação dos Cavaleiros do Norte, no Destacamento do RC4, em Santa Margarida, depois de uma ampliada Licença de Normas. Começara a 18 e prevista para até 28 de Março, acabou por «ser aumentada, de tal modo que só a 22 de Abril se voltou a reencontrar-e todo o pessoal do Batalhão». E então, recordemos, para «dar efectivação à instrução operacional».

3 095 - Incidentes no Negage e viagem para Nova Lisboa

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Quartel do Negage, onde o comandante Almeida e Brito esteve há precisamente 40 
anos - a 20 de Abril de 1975, um domingo, dia de incidentes com a FNLA. Em 
baixo, Viegas e Cruz (no Quitexe), que nesse dia, no Caminho de Ferro de Benguela, 
viajaram de Nova Lisboa para o Lobito



A 20 de Abril de 1975, o comandante Almeida e Brito, acompanhado do capitão José Diogo Themudo (2º. comandante), visitou a CCAÇ, 4741/74, aquartelada no Negage e ao tempo adida aos Cavaleiros do Norte. Coincidiu o dia com«um incidente» com a FNLA - não muito explicado no Livro da Unidade, de que nos socorremos.
«Muito embora se verifique que a nossa actividade está muito circunscrita aos centros urbanos, pois que à FNLA outra coisa não interessa, está-se conseguindo uma situação de calma, fictícia  é certo, mas que permite manter-se um dia a dia mais ou menos estável, quebrado por um ou outro incidentes, como sucedeu  no Negage, a 20 de Abril», relata o Livro da Unidade, precisando que tal «obrigou à realização de uma reunião conjunta com a FNLA».
Reunião «de modo a obter uma mentalização do que deverá ser a missão das NT e dos Exércitos de Libertação, neste período que decorrer até à independência», acrescenta o Livro de Unidade.
O dia era de domingo e avivou-se-me a memória para a partida, minha e do Cruz, de Nova Lisboa para o Lobito, no comboio do Caminho de Ferro de Benguela. Uma viagem cheia de paragens e de cheiros novos aos nossos hábitos, que nos chegavam das centenas e centenas de angolano(a)s de cor que, com as mais diversas formas de malas e sacos, embrulhos e invenções, carregavam os seus produtos para mercadejar ao longo das paragens da longuíssima viagem.
Brancos, éramos nós e poucos mais, numa partilha de espaço e desembaraço que era prova evidente e viva do convívio inter-racial de que Angola era exemplo magnífico. Há 40 anos!!!

3 096 - Morte do tenente Mora e «invasão silenciosa» do Zaire

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Alferes milicianos Jaime Ribeiro e António Garcia e tenentes Acácio Luz e João Eloy 
Mora, na avenida do Quitexe e em frente ao edifício do comando do BCAV. 8423. A 
esposa do tenente Mora (à direita), com a esposa e a filha do capitão António Oliveira




O tenente Mora faleceu há 22 anos, hoje se fazem, em Lisboa - na Lapa, onde residia e vítima de doença. Foi das figuras mais carismáticas dos Cavaleiros do Norte, como adjunto do comandante da CCS, o capitão António Martins Oliveira.
João Eloy Borges da Cunha e Mora, tinha 67 anos e era natural do Pombal, onde nasceu a 30 de Junho de 1926. Era casado com uma senhora de origem indiana (foto) e popularizou-se pela sua atitude extrovertida (chamemos-lhe assim...), por vezes surpreendente, num oficial da sua patente e com as suas responsabilidades. Dele se poderiam contar imensas histórias e estórias, da sua (e nossa) jornada africana. Saudades!
O dia, mas de 1975 - há 40 anos!!!... - foi de visita do 2º. comandante, o capitão José Diogo Themudo, ao Songo, para onde ia rodar a 1ª. CCAV. 8423. E lá foi precisamente para «tratar da instalação» dos Cavaleiros do Norte de Zalala, ao tempo em Vista Alegre e Ponte do Dange.
Foi também dia de uma lograda tentativa de «fazer-se uma troca de prisioneiros». O Livro da Unidade, de que nos socorremos, não especifica que prisioneiros eram. Apenas que foi em Úcua.
Agostinho Neto, presidente do MPLA, falando em Lusaka, denunciou que «Angola está a ser sujeita a uma silenciosa invasão realizada por soldados vindos do Zaire». Soldados, acrescentou, que «são militantes da FNLA e são, por conseguinte, considerados como patriotas angolanos», que entra(va)m «em grande número e muito bem equipados». De resto, sublinhou Agostinho Neto, «até melhor equipados do que estavam durante a guerra contra o domínio colonial português».


3 097 - Cavaleiros em instrução operacional e Gabinete Militar Misto

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Carmona e a avenida Capitão Pereira, que ia dar à praça da Câmara Municipal, 
dos CTT, do Tribunal Judicial e à ZMN. Em baixo, da placa de Úcua (foto de Carlos 
Ferreira, em Dezembro de 2012)




A 22 de Abril de 1974, uma segunda-feira - já lá vão 41 anos... -, os futuros Cavaleiros do Norte, regressados de uma ampliada Licença de Normas, que seria de 10 dias e foi de muitos mais, voltaram ao Campo Militar de Santa  Margarida e ao Destacamento do Regimento de Cavalaria 4 (RC4), para«dar efectivação a instrução operacional».
A licença vinha de 28 de Março, começada a 18, mas prolongada «de tal modo que só a 22 de Abril se voltou a reencontrar  todo o pessoal do Batalhão, para dar efectivação à Instrução Operacional». Mal sabíamos nós que «recomeçada a instrução, logo é (foi) novamente interrompida, face ao Movimento das Forças Armadas de 25 de Abril de 1974».
Um ano depois, já em Carmona, as NT reuniram «a nível mais elevado, com elementos do Gabinete Militar Misto, o qual originou um patrulhamento a Úcua, com vista a fazer-se uma troca de prisioneiros». Que, conforme há dias recordámos, «já tinha sido tentada, sem êxito, a 21 de Abril» - o dia de véspera.
Este tipo de reuniões vinha a decorrer desde há já algum tempo, «na procura de obter, para o Uíge», e segundo o Livro da Unidade,«a tal calma aparente e o entendimento entre todos os movimentos». Realizavam-se a ritmo semanal e eram, e de novo cito o Livro da Unidade,«primórdio do Estado Maior Unificado».
Boas intenções não faltavam!


3 098 - Eleições em Portugal e Angola, reencontro com Zé Ferreira

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Viegas e Ferreira, ainda no RC4, em Março/Abril de 1974. Reencontraram-se um 
ano depois, em Benguela (Angola). Em baixo, Agostinho Neto, presidente do MPLA


A campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte - a primeira pós-25 de Abril -, encerrou a 23 deste mês de 1975, «depois de 22 dias de maciça propaganda dos 12 partidos concorrentes e com um reforço notório de concentrações populares» - em estádios de futebol, pavilhões desportivos e praças de touros - no anterior fim de semana.
 No mesmo dia em que, em Dar-es-Salan, o presidente Agostinho Neto (MPLA) admitia que «as eleições antes da independência de Angola, previstas para Outubro. podem ser canceladas».
O Governo de Transição, ainda segundo este dirigente, «deve promulgar a legislação que a regulamente». Na altura, frisou,«ainda  não foi aprovado um projecto de lei eleitoral apresentado pelo MPLA». que, todavia, como sublinhou, «continuará a sua campanha para as eleições».
Agostinho Neto referiu-se também, aos (então) recentes incidentes de Luanda, oferecendo-se para «participar uma reunião dos presidentes dos três movimentos de libertação». «Em vez de nos alvejar,os uns aos outros, em vez de usarmos a violência, poderíamos discutir os nossos problemas", comentou quem viria a ser o primeiro presidente de Angola.
Ao tempo, a esse dia, continuávamos - eu e o António José Cruz - a passear férias angolanas, mas já no Lobito e Benguela, onde ele tinha família e amigos, oriundos de Cardigos e região, de onde ele é natural. As eleições nada nos preocupavam. As da Constituinte, em Portugal! Ou as que se previam para Angola.
Saboroso e emotivo foi o meu reencontro com o Zé Ferreira, companheiro de escola (em Águeda), instruendo do 3º. Curso de Rangers, em Lamego (1973) e, hoje se pode dizer, um amigo de toda a vida. Até hoje. Era também furriel miliciano de Operações Especiais e tinha sido «desterrado»para Benguela, depois de ter jornadeado em Maria Fernanda, no norte angolano e relativamente perto do  nosso Quitexe.
Ver AQUI

3 099 - Cavaleiros do Norte de Zalala, eleições e colonialistas

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VISTA ALEGRE. O que, em Dezembro de 2012, restava do quartel de onde, há 40 anos, 
saiu a 1ª. CCAV. 8423 (foto de Carlos Ferreira). Em baixo, as pontes do Rio Dange - a do tempo 
dos Cavaleiros do Norte (à esquerda) e a actual (foto de By Bembe, obtida em 2010) 

Aos 24 dias de Abril de 1975, de malas aviadas e armas em guarda, os Cavaleiros do Norte de Zalala - da brava 1ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano Davide (é mesmo com um «e») Castro Dias - partiram de Vista Alegre e Ponte do Dange, para o Songo. Foi a sua segunda de três rotações operacionais. 
A Zalala, chagaram a 7 de Junho de 1974 e por lá jornadearam até 25 de Novembro desse ano, quando a CCAV. «completou os seus movimentos» para ir substituir a CCAÇ. 4145/74, «ficando deste modo abandonada a Fazenda Zalala». Nesta data de 1975, rodaram para o Songo. E do Songo, para Carmona - a 6 de Junho seguinte, «indo ocupar o aquartelamento da extinta ZMN, completando a sua rotação a 12 de Junho e entregando os quartéis da área do Songo às autoridades angolanas, conforme o determinado». 
O dia 24 foi tempo, em Carmona, para «mais uma palestra, a qual foi orientada por oficiais dos CTC e do BCAV., ambos delegados do MFA», de orientação sobre as eleições marcadas para o dia seguinte - e repetindo duas outras, uma da véspera (dia 23) e outra de uma semana antes (dia 16).
A 24 de Abril desse mesmo 1975, o jornal soviético «Pravda» denunciava«a actividade dos colonialistas portugueses de Angola», que, na sua opinião, «aproveitam a existência de três movimentos de libertação para manobrarem no sentido de impedirem o acesso do país à independência».
O jornal considerava que existia «uma evidente relação de causa-efeito entre o malogro do golpe de Estado reaccionário do general Spínola e os acontecimentos de Luanda».
«Apoiando-se nos elementos reaccionários de Lisboa, e uma vez que o curso dos acontecimentos não lhes é favorável, os colonialistas procuram prejudicar as tendências progressistas que se manifestam na antiga metrópole», concluía o Pravda.
Nem mais, nem menos!!!

3 100 - Onde estavam os Cavaleiros do Norte no 25 de Abril?

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Viegas e Cruz (ex-furriéis milicianos) e comandante Almeida e Brito em Penafiel, no 
Encontro de 1997 - a 27 de Setembro. Em baixo, capa de uma das edições de A Capital, 
jornal diário que se publicava em Lisboa, edições do dia 25 de Abril de 1974 




Os Cavaleiros do Norte, a 25 de Abril de 1974, estavam onde? Fácil!!! Em Santa Margarida, numa 5ª.-feira, no Destacamento do RC4 e em preparação operacional para a jornada africana de Angola. Por mim. lembro-me bem, acordei cedo - como era (e é) meu hábito -, fui para os balneários fazer a higiene pessoal, de rádio ligado, como era costume - um pequeniníssimo transistor a pilhas, então muito ma moda. Desfazia a barba e achei estranho que a rádio só estivesse a transmitir marchas populares. Até que, pouco depois da sete da manhã, foi (re)lido o comunicado do Movimento das Forças Armadas. Fiquei informado!!!
Fiquei informado e logo fui, alvoraçado e a correr,  acordar a malta, que ainda dormitava: «Há uma revolução em Lisboa!...».
Um ano depois, eu e o Cruz estávamos em Luanda, a queimar os últimos dias de férias!!! Em Carmona, e socorro-me do Livro da Unidade, «verificou-se a ida às urnas de todo o pessoal que o quis fazer». E, também a 25 de Abril de 1975,«em cerimónia simples mas singela, no CTC, realizou-se o içar da Bandeira Nacional com as melhores honras militares e a presença de todos os oficiais do CTC e do BCAV.».
O dia e a nossa comissão foram recordados a 27 de Setembro de 1997, em Penafiel (foto), no encontro da CCS que lá se realizou, quando Comandante Almeida e Brito lembrou o período da nossa formação operacional em Santa Margarida e a experiência da jornada africana do Uíge angolano.
«Sabe bem verificar que o tempo que estivemos no ultramar não foi perdido. E não foi perdido principalmente porque hoje. mais de 20 aos depois, aqui estamos todos juntos, o que, para mim, é fabuloso (...). Todos vocês é que fizeram com que terminássemos, todos vocês é que fizeram com que voltássemos», disse o então tenente-coronel Almeida e Brito, comandante dos Cavaleiros do Norte. Foram as últimas palavras que nos dirigiu.
O que se (não) passou nestes 41 anos, no Portugal que somos, não vem ao caso neste blogue. O que mais importa realçar é que, também os Cavaleiros do Norte foram parte do projecto que fez Portugal diferente e para melhor!
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima 
Almeida e Brito, tenente-coronel de Cavalaria e comandante 
do Batalhão de Cavalaria 8423. Atingiu a patente de general 
e faleceu de doença súbita, a 20 de Junho de 2003, no decorrer 
de um passeio, em Espanha. 

3 101 - O dia da oitava do 25 de Abril de 1974

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CAVALEIROS DO NORTE do PELREC, no Quitexe, em 1974. Francisco (de braços 
cruzados) e Madaleno, à esquerda. De frente e de bigode, o Silvestre e depois o Aurélio 
Barbeiro (com a mão no queixo), Florêncio (de bigode), Messejana, 1ºs. cabos 
Soares (de bigode) e Vicente (de bigode). Atrás destes e de cerveja na mão, o Ferreira. À esquerda
 deles, lá atrás, o 1º. cabo  Almeida. À frente dele, o Leal (de boina no ombro). 
Aqui à frente,mo alferes Garcia e o Gomes (a rir). Atrás deste, o 1º. cabo Cordeiro (de bigode 
e boina no ombro). Depois e de bigode, o 1º. cabo Ezequiel. A seguir a ele e a espreitar, 
será o Dionísio? E a seguir, que é o que está a olhar para a direita?» E quem são os do trio 
da direita, lá atrás? Alguém pode ajudar? Em baixo, capa da 3ª. edição do Diário Popular de 25/4/1974 


O 25 de Abril de 1974 suspendeu as actividades de instrução dos (então futuros) Cavaleiros do Norte, que estavam aquartelados no Destacamento do RC4, no Campo Militar de Santa Margarida. Os futuros furriéis  milicianos da CCS (estes, pelo menos) estavam num dos vários pavilhões habitacionais do RC4 e foram, impedidos de sair do quartel, «até novas ordens». O RC4, recordemos, aquartelava uma unidade de carros de combate e tinha aderido ao 25A.
A 26 de Abril, hoje se fazem 41 anos, «não estando o BCAV. contactado para a efectivação do movimento, nem tão pouco algum ou alguns dos seus oficiais, de imediato, após o triunfo do MFA, logo todo o Batalhão se sentou como parte integrante do referido Movimento». E de tal forma, sublinha o Livro de Unidade, que «nessa mesma data e e pelo Exmº. Comandante, do BCAV., foi explicado a todo o pessoal o que o MFA pretendia, em palestras orientadas especificamente para oficiais, sargentos e praças».
Ao meio dia, depois de almoço, fomos todos dispensados e viemos - eu, o Matos (da 2ª. CCAV., de Anadia) e o Alberto Oliveira (aguedense de outro batalhão) em viagem para Águeda, no SIMCA 1100 branco do Neto, que conduzia. Em Coimbra, decorria uma manifestação de milhares de pessoas, entre a estão e a ponte, apoiando o 25 de Abril e, ao passarmos, imaginem, até o carro nos levantaram ao ar.
Chegados a Águeda, cada um seguiu para suas casas e lembro-me subir a então EN1, dentro da cidade, fardado e com o velho saco TAP aos ombros, e ser aplaudido pelas centenas de pessoas por quem passei, até à estação do comboio. Já na minha aldeia e ficando a saber onde estava minha mãe, fui ter com ela a uma terra junto à pateira - que hoje é minha.
«Então , já não vão para fora?», perguntou-me ela, referindo-se, naturalmente, à ida para Angola.
«Vamos, vamos na mesma...», disse-lhe. E desiludi-a.
Assim foi: parti a 29 de Maio de 1974 (era para ter sido a 27) e regressei a 8 de Setembro de 1975. Eu e toda a CCS dos Cavaleiros do Norte.
- PELREC. Cavaleiros do Norte do PELREC, na foto, já faleceram o alferes 
miliciano Garcia (a 2 de Novembro de 1979,m vítima de acidente), os 1º.s cabos 
Almeida, em Penamacor (a 28/02/2009) e Vicente, em Vila Moreira, de 
Alcanede (a 21/01/1997), ambos vítimas de doença); e os soldados Manuel 
Leal, de doença e no Pombal (a 18/06/2007) e Messejana,  também de doença,
 em Lisboa (a 27/11/2009).
- Ver capas de jornais do dia 25/04/1974,  AQUI

3 102 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa e assentamento de praça

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Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, da 2ª. CCAV. 8423 (em cima). Em baixo, 
o futuro furriel miliciano Viegas, em foto de meados de 1973, há quase 42 anos


Os Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 abandonaram Aldeia Viçosa a 26 de Abril de 1974, rodando para Carmona. Lá tinham chegado a 10 de Junho anterior, idos do Campo Militar do Grafanil, nos arredores de Luanda. Aonde, por sua vez e idos de Lisboa, tinham aquartelado  no anterior dia 4. 
Um ano antes, eu mesmo assentei praça, para a recruta que terminei na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, a 16 de Julho, quando passei para o Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego.
Ao tempo, ficar apurado para o serviço militar e assentar praça significava «ir para a guerra».   Era o estigma dos jovens da época e não fugi a ele. Convinha, pois, estar o melhor preparado possível. Creio ter sido isso que aconteceu, no exigente curso de Operações Especiais (os Rangers), depois da difícil recruta da Escola Prática de Cavalaria.
Foi isso do dia 26 de Abril, até 8 de Outubro de 1973, quando, concluído o curso do aquartelamento de Penude, nos arredores de Lamego, recebi as divisas de 1º. cabo miliciano!!!
Os Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 eram comandados pelo capitão miliciano José Manuel Cruz e tinham os alferes milicianos João Machado (Operações Especiais), Domingos Carvalho, João Periquito e Jorge Capela, mais tarde Manuel Meneses Alves (em Fevereiro de 1975) e Fernando Ramos (Maio de 1975), todos atiradores. Também o 1º. sargento Fernando Norte e os furriéis milicianos António Carlos Letras (Operações Especiais), António Cruz, José Feitas Ferreira, Amorim Martins, Mário Matos (o primeiro, à esquerda, de pé, na foto), João Brejo, José Fernando Melo, Rafael Ramalho, José Manuel Costa, José Gomes e António Artur Guedes (todos Atiradores de Cavalaria), António Chitas (Armamento Pesado), António Rebelo (Transmissões) e Abel Mourato (Vagomestre).
Outros furriéis milicianos, de complemento: Jesuíno Pinto (em Agosto de 1974) e Mário Soares (Novembro), ambos atiradores. E um 2º. sargento miliciano: Manuel Alcides Eira (Abril de 1975). A sub-unidade incluía 94 praças - entre 1º.s cabos e soldados.
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