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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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2 924 - O dia 1 de Novembro e a morte do Carpinteiro

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Dias de Futebol no Quitexe.  De pé, Domingos Teixeira (estofador), Malheiro, 
Cuba, Carpinteiro, Pereira (condutor) Gaiteiro e AgostinhoTeixeira (pintor). Em 
baixo, João Monteiro(Gasolinas), Pereira (mecânico), 
Celestino Silva, Gomes (condutor), Carlos Mendes (bate-chapas) e Miguel (condutor). 
Em baixo, o Carpinteiro, em foto relativamente recente. 
Faleceu faz hoje 3 anos!


O mês de Novembro de 1974 começou tranquilo, pelas bandas do Quitexe e toda a ZA dos Cavaleiros do Norte. Vivia-se «o clima de cessar fogo estabelecido no mês anterior e pode dizer-se que Novembro  se caracterizou por uma acalmia não encontrada há longos anos», lê-se no Livro da Unidade. Tenho ideia de ter ido ao cemitério do Quitexe, na saída da estrada para Camabatela, onde assisti às cerimónias presididas pelo padre Albino Capela.
A Unidade fazia serviços de rotina e a rapaziada tinha cinema, umas baldas a Carmona (e alguns, mais ousados, a Luanda). Até às Quedas do Duque de Bragança. E jogava-se a bola, com renhidas partidas no campo de futebol do Quitexe, na saída para Carmona.
Jogava-se entre pelotões, entre companhias e com formações civis. A imagem mostra a equipa da Ferrugem (do parque-auto) e vem aqui para fazer memória do inesquecível Manuel Augusto da Silva Marques, o Carpinteiro. Porque faleceu há precisamente 3 anos, a 1 de Novembro de 2011. Foi com a esposa ao cemitério, tomou um café e voltou a casa. Ao meter a chave na porta, caiu..., fulminado. Morte súbita! RIP!
Há 39 anos, encurtava-se os dias para a independência de Angola e Idi Amin, na Cimeira de Campala, propôs o cessar fogo entre os três movimentos, para as 6 horas desse 1 de Novembro de 1975. Mas tal não aconteceu.
«Os combates prosseguiram, nas últimas 48 horas», referia o Diário de Luanda do dia 3, seguinte. Isto, apesar de a proposta implicar a suspensão dos combates, nas posições que cada movimenta ocupava, até ao final da Cimeira.
Tudo, não passou de boas intenções. E faltavam 10 dias para o dia da independência!

2 925 - Adeus do capião Leal e morte do alferes Garcia

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Alferes Garcia e Almeida, há 40 anos, no Quitexe. Em baixo, a notícia da morte de Garcia. 
Atrás, os 1º. sargentos João Barata e Joaquim Aires. Mais abaixo, foto actual do capitão 
miliciano médico Manuel Leal




Novembro de 1974 foi o mês do adeus do capitão médico Leal, por fim de comissão. Integrava a CCS mas também fazia serviço na Delegação de Saúde do Quitexe e «apoia(va) permanentemente todas as populações civis, europeias e africanas, deixando em todas a melhor amizade, pela dedicação e interesse postos nos serviços por si concedidos, quer nesta vila, quer nas fazendas por si visitadas», como se lê no louvor público na Ordem de Serviço nº. 78. Das visitas a fazendas, fomos nós testemunhas.
A OS nº. 76 (do BCAV. 8423) já anunciara que o capitão miliciano médico Manuel Soares Cipriano Leal fôra condecorado com a medalha militar comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda ANGOLA-1972-73-74.
O então capitão miliciano médico Leal, com farta saúde e muito melhor disposição, mora em Fafe e, aos 86 anos, ainda exerce medicina.
O da 2 de Novembro, mas de 1979, está tragicamente associado aos Cavaleiros do Norte, pela morte, ao serviço da Polícia Judiciária, de que era agente (do nosso alferes) António Garcia. O acidente, como se vê no recorte do JN de 3 de Novembro, de 1979, ocorreu em Vila Garcia (dramática coincidência de nomes), localidade ente Mangualde e Fagilde. De frente, apareceu-lhe um automóvel de matrícula alemã, conduzido por um emigrante de 21 anos - que tentava ultrapassar outros veículos, numa recta. Bateu de frente na viatura da PJ  conduzida por António Garcia, que teve morte imediata. Investigava o caso da morte de Ferreira Torres, político de então.

2 916 - Comandantes no Quitexe e o (não) cessar fogo

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Alfredo Coelho (Buraquinho) e Joaquim Moreira, nas traseiras da enfermaria do Quitexe.
 Em baixo, notícia DL de há 39 anos, 3 de Novembro de 1975

A 3 de Novembro de 1975, uma  segunda-feira como hoje, chegavam noticias pouco agradáveis de Angola: «Não há cessar fogo», titulava o Diário de Lisboa, dando corpo a um despacho do Diário de Luanda. 
Os combates prosseguiam, de norte a sul, apesar de a Cimeira de Campala ter apontado as 6 horas de 1 de Novembro para o cessar fogo.
«A partir de agora, não mais se pode falar em quatro forças em presença», disse, em Luanda, o comandante Júlio Almeida. Referia-se a MPLA (o seu partido), à FNLA, à UNITA e às FA Portuguesas. «Há apenas duas partes em confronto», disse. E apontou-as: «As forças populares e os seus inimigos a soldo do imperialismo, apresentem-se sob que forma for».
Terminou  a ponte aérea e estimava o Alto Comissário que ficassem em Angola «cerca de 30 000 a 40 000 portugueses». Todos eles, e todos os estrangeiros, tinham de, a partir de 11 de Novembro, «ser portadores de um documento do Governo angolano».
Um ano antes, no Quitexe, registara-se (na véspera) a visita do Bispo de Carmona, D. Mata Mourisca. No mesmo dia, lá estiveram «o brigadeiro comandante da ZMN e o comandante do BCAV. 8324 e diversos oficiais da guarnição de Carmona». A visita foi de carácter particular e não é difícil adivinha que fosse de cortesia ao comandante Almeida e Brito, que no dia seguinte se ausentaria do Quitexe - por vir a Portugal, de férias.
A guarnição vivia dias calmos, como se pode ver na imagem de cima, mostrando o Buraquinho e o Moreira a «brincalhar» com um cacho de bananas nas traseiras da enfermaria do Quitexe.

2 927 - Dias 4 de Novembro, o de 1974 e o de 1975!

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O furriel Armindo Reino, o comandante Almeida e Brito, o clarim Manuel Barata (?) e o 
capitão José Paulo Falcão, há 40 anos, na noite de Natal do Quitexe. Em baixo, 
Almeida e Brito e José Paulo Falcão em Águeda, no encontro de 1995



O cessar fogo anunciado pela autoridades portuguesas em Luanda e assumido na Cimeira de Campala, pela OUA, não estava a ser cumprido no terreno. "As notícias das diferentes frentes de combate eram, contudo, esta manhã, escassas, sendo difícil verificar se as tréguas estariam ou não em vigor", noticiava o Diário de Lisboa de 4 de Novembro de 1975, por despacho do Diário de Luanda. Estava-se a uma semana do dia da independênca - 11 de Novembro.
O dia de véspera fora tempo para MPLA e FNLA desmentirem Idi Amim, o presidente do Uganda e da OUA: não tinham aceite o cessar fogo. O consulado americano determinou que o seu pessoal abandonasse Angola. A FNLA, no Caxito, "continua(va) encurralada nas posiçoes para as quais foi obrigada a recuar, na última semana".
Um ano antes, precisamdente, a mesma FNLA inaugurava a sua sede da Avenida do Brasil, na parte nova da cidade e muito perto de dois dos mais populares bairros da capital angolana - o Rangel e o Cazenga.  A Frace Press de 4 de Novembro de 1974, há 40 anos, dava conta que"a cerimónia foi precedida de espectacular cortejo através das ruas da cidade, composto por milhares de aderentes do movimento, empunhando bandeiras e cartazes, emtoando o hino da FNLA e dando vivas ao presidente Holden Roberto".
No Quitexe, sed do BCav. 8423, o comandante Almeida e Brito despedia-se para férias em Lisboa. Foi substituído no comando do batalhão pelo oficial adjunto, o então capitão de cavalaria José Paulo Falcão.  Os Cavaleiros do Norte, recordemos, não tinham 2º. comandante. O mobilizado major Ornelas Monteiro tinha sido "desviado", na última da hora, para o Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, ao serviço do MFA.
José Paulo Falcão, leio no Livro da Unidade, «desenvolveu intensa actividade» nesse período e, já nesse dia, «esteve presente na reunião de comandos do Comando do Sector do Uíge», em Carmona.

2 928 - Encontro com a FNLA, na sanzala do Dambi Angola

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  Salgueiro (de bigode), Oliveira (?) e (furriel) Pires (de pé), Aurélio (Barbeiro) e (furriel) Viegas, em baixo, no dia 4 de Novembro de 1974, dia do histórico primeiro encontro com guerrilheiros da FNLA (os das foto e outros). Em baixo, o Viegas com a arma do guerrilheiro da foto, ao lado do Pires (de Bragança)


A 4 de Novembro de 1974, foi o encontro do PELREC com os guerrilheiros da FNLA, na sanzala do Dambi Angola. Foi a primeira vez que nos encontrámos, directa e pessoalmente. As peripécias, as emoções desse histórico dia já AQUI FORAM narradas. Muito particularmente vividas pelo Pires, o de Bragança.
O dia, em Santa Isabel, onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423 - a do capitão miliciano José Paulo Fernandes - foi também de encontro, «ainda no campo dos contactos» com «elementos dispersos da FNLA» (...) «agora nas categorias elevadas da sua chefatura». Não consegui apurar o que se passou, nesse dia, lá por Santa Isabel.
Um ano depois, a menos de uma semana do dia da independência, continuavam os combates em vários pontos do território angolano e, na Frente Norte - a que mais interesssava conhecer, da parte dos Cavaleiros do Norte, ao tempo já em Portugal... -, noticiava a imprensa do dia que«a situação continua inalterável, havendo, no entanto, a registar algumas acções de flagelação, por parte do exécito invasor, na região de Santa Eulália» - onde havia uma pista de aviação, que serviu a Força Aérea Portuguesa, que de lá tinha saído fazia pouco tempo.

A sul, eram maiores as movimentações e os combates, nomeadamente entre Sá da Bandeira e Moçâmedes. Em Luanda, vários portugueses foram presos e o MPLA anunciou que declararia a independência, unilateralmente, a 11 de Novembro, às zero horas - «se até lá, Portugal não alterar a sua posição face à UNITA e à FNLA», reconhecendo o movimento de Agostinho Neto como «o único e legítimo representante do povo angolano e transferindo para ele todos os poderes».
O MPLA, de relações tensas com o Governo Português, apenas convidou Álvaro Cunhal (secretário geral do PCP) e Rosa Coutinho (do Conselho da Revolução e ex-Alto Comissário) para«as festas da independência».
Ver AQUI

2 929 - Acalmia no Quitexe uíjano e o «olhe que não» de Cunhal

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Avenida do Quitexe, em 1974. À direita, a entrada do aquartelamento e o edifício 
do comando, com a bandeira. Mais à frente, a CCS, casa dos furriéis e messes de oficiais 
e sargentos. Em baixo, Viegas e Neto no jardim do Quitexe


 
A 6 de Novembro de 1974, há 40 anos - vejam lá como o tempo voa!... -, o Quitexe foi palco de uma reunião dos comandos do Sub-Sector do Quitexe - de que não tenho memória, nem achei rasto. 
O mês, com as emoções próprias dos encontros com combatentes da FNLA, ora dos que se apresentavam, ora dos que nos apareciam em sanzalas e caminhos do chão uíjano, seguia calmo. A tal «acalmia não encontrada há longos anos» de que fala o Livro da Unidade.
A CCS recebeu mais um cozinheiro, o soldado Carlos JF Gomes, de quem não lembro cara ou jeito. Recebi correio do Neto, que viera de férias a Portugal, para assistir ao casamento do irmão: «Isto nem está bom, nem está mau..., tá uma m...», escreveu ele, que por cá aproveitava para noivar, com a sua Ni de todos os dias.
Um ano depois, a 6 de Novembro de 1975, a escassos dias da independência, confirmava-se a disposição do MPLA para declarar unilateralmente a independênciae recusar qualquer conciliação com a FNLA e a UNITA. A situação militar era «extremamete grave» no sul, com combates no Lobito e Benguela - aqui «violentos nos arredores e dentro da própria cidade, que chegou ontem a ser ocupada pelos agressores». Por agressores, entenda-se, na linguagem do MPLA,«os mercenários do ELP e as forças sul-africanas». Do norte  e do (nosso) Uíge, é que nada se sabia.
O dia, em Portugal, foi o do célebre debate televisivo, entre Mário Soares, secretário-geral do PS, e Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, com moderação de Joaquim Letria e José Carlos Megre, com uma audiência recorde. O do«olhe que não, olhe que não!...» de Cunhal, para Soares.

2 930 - Quifandongo, Piri e Quibaxe, o Freitas Ferreira

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 Quitexe, em 2012. A Estrada do Café, de Carmona (Uíge) a Luanda, que 
conhecíamos como Rua de Cima. Em baixo, notícia 
do DL, de há  39 anos. Mais abaixo, o furriel Freitas Ferreira



A três dias da independência de Angola, o jornalista Eugénio Alves, em serviço para o Diário de Lisboa, noticiou que «as FAPLA registaram uma nova vitória na frente do Caxito, considerada como uma das maiores já infligidas ao inimigo, desde o início desta segunda guerra da libertação nacional».
A batalha ficaria histórica: a de Quifandongo. Relata o DL que o combate opôs «as forças populares aos mercenários zairenses e portugueses e às forças da FNLA».
«O inimigo sofreu pesadas baixas, em homens e material, tendo tido que recuar, o que levou as FAPLA a reocuparem as vias do Piri e Quibaxe, que haviam aído há 20 dias», noticiava o jornal. Piri e Quibaxe: terras por onde os Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 fizeram muitos patrulhamentos.
 Foi no Quibaxe que, a 1 de Julho de 1974 o Freitas Ferreira, furriel miliciano da 2ª. CCAV. 8423, se feriu num desses patrulhamentos/escoltas, após despiste do UNIMOG, por volta do meio dia, numa curva do Quibaxe, onde se cortava para a fazenda/aquartelamento de Maria Fernanda.«Atravessou a estrada e caiu por uma ravina, bem alta», recorda-se o Freitas Ferreira, que pela ravina rebolou, até ao fundo, tal qual o condutor do UNIMOG. Ambos ficaram bastante maltratados. Ele, com uma perna e uma clavículas partidas. Passou a administrativo.
A três dias da independência combatia-se território fora e nomeadamente em Benguela e Moçâmedes. Já em Luanda, reportava Eugénio Alves,  «a vida corre normalmente, apenas alterada pelos intensos preparativos para a festa da independência e pela movimentação, provocada nos hotéis da cidade, com a chegada de inúmeras delegações - 44 africanas, 17 socialistas e cerca de 15 de outras nações».
É o que se lê, além do mais, na imprensa lisboeta de há 39 anos.

2 931 - O abandono do Liberato e as vésperas da independência

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A esposa (holandesa) e o capitão Victor, comandante da CCAÇ, 209, a do Liberato, com 
o furriel José Oliveira (segundo, a contar da direita) e dois outros militares. Em baixo, 
monumento no quartel do Liberato. Mais abaixo, Costa e Oliveira, rodeando Viegas (2012)



A 8 de Novembro de 1974, hoje se fazem 40 anos, a Companhia de Caçadores 209 começou a abandonar a Fazenda Liberato, operação que terminou no dia seguinte. Estava em marcha o plano de extinção de unidades militares.
A CCAÇ. 209 era essencialmente formada por militares angolanos, com as chefias, porém, maioritariamente europeias. Tinha sido mobilizada pelo RI21, de Nova Lisboa, e era comandado pelo capitão Victor (na foto, à civil e ao lado da esposa, uma senhora holandesa). Capitão Victor que tivera promoções rápidas, de alferes a tenente e logo a capitão miliciano, muito popular por ser, segundo me lembrou o Zé Oliveira, vocalista de um famoso grupo musical. Era algarvio.
O Oliveira não se lembra de quando, e porquê, mas o capitão Victor substituiu um outro capitão no comando da BCAÇ. 209 - o capitão Baracho, do QP. Outro oficial miliciano era o alferes Sereno, que o Oliveira diz ser de Águeda, mas de quem não temos mais pormenores.
O Oliveira era furriel vagomestre e foi meu companheiro de turma, na Escola Industrial e Comercial de Águeda, e ainda hoje meu amigo - por cá conhecido como Zé Marques, do Caramulo. Era, pois, lá chamado de Oliveira e não tivemos a sorte de nos encontrarmos, nas duas, três vezes que fui ao Liberato e das várias que ele foi ao Quitexe. Só há poucos anos descobrimos essa coincidência.
Liberato ficou na história mais épica dos Cavaleiros do Norte pois foi a companhia que, semanas antes, em finais de Setembro de 1974, se revoltou e avançou para o Quitexe - situação que este blogue já amplamente narrou.
Um ano depois, em vésperas de independência, sabia-se que a bandeira portuguesa seria arreada pela última vez às 18 horas de 10 de Novembro. Estávamos a dois dias. A cerimónia teria presença do Alto Comissário, o almirante Leonel Cardoso, e os militares portugueses seguiriam logo a seguir para o navio Niassa, para a viagem de regresso a Lisboa. As últimas 24 horas, relata(va) o Diário de Lisboa, «não assinalaram combates de vulto».
 Ver  «A revoltado Liberato»
Ver «O Zé Oliveira da Compamhia do Liberato»

2 932 - O último dia da CCAÇ. 209 na Fazenda Liberato

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Aspecto da Fazenda do Liberato, onde aquartelou a CCAÇ. 209/RI 21 (em cima). 
Ficava relativamente perto do Quitexe, como se vê pelo mapa (em baixo)


O dia de hoje, há 40 anos, foi o último da presença militar portuguesa na ZA da Fazenda do Liberato, onde se aquartelou a CCAÇ. 209, do RI 21, de Nova Lisboa. Companhia independente, de formação essencialmente angolana e com quadros europeus.
A CCAÇ. 209 ficou associada à CCS do BCAV. 8423, a partir de 6 de Junho de 1974, quando os Cavaleiros do Norte lá chegaram e, substituindo o BCAÇ. 4211, passaram a ser responsavéis, em termos de comando operacional, pelo Sub-Sector do Quitexe. Outras, foram a CCAÇ. 4145 (a de Vista Alegre) e o Pelotão de Morteiros 4281 (no Quitexe), para além de vários Grupos Especiais (GE).
 Ontem, já aqui demos conta que era comandada pelo capitão Victor, de quem sabíamos o nome pela memória do (furriel miliciano vagomestre) José Oliveira - na foto, à direita, com outro «liberato», o Nogueira da Costa (condutor), a 2 de Dezembro de 2012, na casa de Viegas (ao centro). Hoje, por graça de um providencial contacto de Olímpio Carvalho, que por lá foi 1º. cabo de transmissões, podemos acrescentar mais dados.
- VICTOR. Victor Corrêa de Almeida, capitão miliciano, comandante da  Companhia. Substituiu o capitão Parracho, que era do Quadro Permanente (QP) e estava colocado no RI21, de Nova Lisboa.
- SERENO: José Adalberto Sereno de Castro e Melo, alferes miliciano. De família de Águeda, licenciou-se em engenharia química e morava em Nova Lisboa. Agora, na zona de Viseu.
- PEIXINHO. José Carlos Peixinho, alferes miliciano e engenheiro mecânico, era do Lobito.
- PEREIRA. Nelson Pereira, alferes miliciano, era de Sá da Bandeira.
- SPOSSEL. Carlos Manuel Morbey de Oliveira Spossel. Morava em Luanda. A mãe era americana e o pai quadro superior dos caminhos de Ferro.
Olímpio Carvalho, o nosso correspondente, foi 1º. cabo de transmissões e é bancário aposentado. Europeu, foi para Angola aos 4 anos e por lá ficou até 1979, já como empregado bancário, no Banco Totta. Mora em Mirandela.

2 933 - A última bandeira da soberania portuguesa em Angola

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A última continência à bandeira que significava a soberania de Portugal em Angola (foto 
de cima). O discurso da independência, do Alto Comissário Leonel Cardoso. Em baixo, o 
militar português que a arreou e dobrou


A 10 de Novembro de 1979, às 18 horas, a bandeira Portuguesa foi arreada pela última vez, do mastro da Fortaleza de S. Miguel, em Luanda, com as continências de oficias portugueses, incluindo o Alto Comissário, Almirante Leonel Cardoso. Foi há 39 anos!
A proclamação de independência tinha sido proferido às às 12,10 horas, no salão nobre do Palácio do Governo. Nos seguintes termos: 
"Portugal nunca pôs, nem poderia pôr em causa a data histórica de 11 de Novembro, fixada para a independência de Angola, que não lhe compete outorgar, mas simplesmente declarar. Nestes termos, em nome do Presidente da República Portuguesa, proclamo solenemente - com efeito a partir das O horas do dia 11 de Novembro de 1975 - a independência de Angola e a sua plena soberania, radicada no Povo Angolano, a quem pertence decidir as formas do seu exercício."

Acrescentou Leonel Cardoso: "E assim, Portugal entrega Angola aos angolanos depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir. Os homens desapareceram mas a sua obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos; deixa um país de que se orgulha e de que os angolanos podem orgulhar-se".

2 934 - A independência de Angola, declarada há 39 anos!

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 Agostinho Neto no momento da proclamação da independência de Angola, há 39 anos!

A 10 de Novembro de 1975, às 23 horas, Agostinho Neto, presidente do MPLA, proclamou a independência de Angola«diante de África e do mundo»
Foi uma noite de chuva, em Portugal, e desse momento recordo estar já deitado e a ouvir a (actual) RDP, que em directo transmitia o momento, a partir de Luanda. Creio que não foi transmitido pela televisão - a RTP, ao tempo a única estação.
O Alto Comissário Leonel Cardoso, 5 horas antes (como ontem lembrámos), tinha transferido«a soberania de Portugal para o povo angolano»: «E assim Portugal entrega Angola aos angolanos, depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir», disse Leonel Cardoso, acrescentando que «os homens desaparecem, mas a obra fica».
«Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter de que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos, deixa um país de que se orgulha e de que todos os angolanos podem orgulhar-se», disse o Alto Comissário.
O controlo de Angola estava dividido pelos três maiores grupos nacionalistas, o MPLA, a FNLA e a UNITA, pelo que a independência foi proclamada unilateralmente pelos três movimentos.
O MPLA que controlava a capital, proclamou a independência da República Popular de Angola.
A não muitos quilómetros, no Ambriz, Holden Roberto, presidente da FNLA, proclamou a independência da República Popular e Democrática de Angola. Uma hora depois, à meia-noite. 
Em Nova Lisboa, a UNITA, pela voz do presidente Jonas Savimbi, também proclamou a independência de Angola.
Foi isto há 39 anos!
A declaração de independência, por 
Agostinho Neto pode ser vista e ouvida AQUI
E lida AQUI

2 935 - Calma no Quitexe uíjano e 50 mortos em Luanda

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 Cavaleiros do Norte, no Quitexe, há 40 anos. Atrás, Cardoso, Carvalho, Bento, 
Costa (morteiros) e Fernandes. Sentados, Rocha, Viegas, Morais, Pires (Bragança), 
Fonseca e Flora.  À frente, Ribeiro. Em baixo, notícia sobre os incidentes de Luanda


 Aos dias 12 de Novembro de 1974, a cidade de Luanda acordou para mais um dia sangrento. Foi há precisamente 40 anos: «A anarquia continua a reinar nesta capital, após dois dias de tiroteio, lançamento de granadas, esfaqueamentos e fogos postos, que causaram, pelo menos, 50 mortos e mais de 100 feridos», noticiciava o Diário de Lisboa.
Uma criança, lia-se no jornal «O Comércio», de Luanda, desse dia, foi atingida no Hospital de S. Paulo, onde estava a ser tratada, por «tiros disparados de um prédio vizinho». O hospital era o maior de Luanda e, lê-se no mesmo jornal, «está cheio de feridos»
Um família de 7 pessoas, ainda segundo o mesmo jornal «O Comércio,«está a ser tratada, depois de espancadas e anavalhadas, na sua casa». Os mortos eram «quase todos negros». Os desordeiros usavam «pistolas automáticas soviéticas sofisticadas».
A FNLA, o MPLA e a UNITA«condenaram os incidentes, rejeitando quaisquer responsabilidades neles»
Ia assim a vida, por Luanda. A 240 quilómetros da norte, a terra uíjana respirava calma. Serviços, futebol e cinema, desenfianços para Carmona e, mais atrevidamente, para Luanda; grandes e plurais discussões sobre a situação política, tudo e mais alguma coisa; grandes partidas de sueca e bisca, dominó e dados.
Vida santa, entremeada com algumas apresentações de elementos da FNLA, alguns deles já com cargos de chefia. E com escoltas aos homens da JAEA, que trabalhavam na estrada de Aldeia Viçosa a Ponte do Dange (concluindo os seus trabalhos e continuvam «o arranjo da estrada de Quitexe a Camabatela».

2 936 - Contactos operacionais e o MPLA na rota do café

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A capela do Quitexe, foto de 2012. Do lado direito, ficava a zona de aquartelamento 
dos Cavaleiros do Norte. As casernas desapareceram, mas parece que ainda lá está 
parte da vedação. Em baixo, o içar da bandeira de Angola, a 11 de Novembro de 1975




A 13 de Novembro de 1974, o capitão José Paulo Falcão, oficial adjunto em funções de comando interino do BACV. 8423, esteve no Comando de Sector do Uíge, em Carmona e«em contactos operacionais». Já lá estivera a 8 e lá voltou a estar neste mesmo mês de há precisamente 40 anos - a 18, a 12 e a 27.
O dia, no Quitexe, foi também de reunião, ao fim da tarde, da Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS).
O tempo, a esse tempo, era de preparação da «rotação do dispositivo militar», referindo o Livro da Unidade que«começou a ser efectivada à custa de verdadeiros sacrifícios,  dadas as carências de meios auto, que permitissem a materialização desses movimentos, os quais envolviam não uma simples mutação, mas, sim, a extinção de aquartelamentos».
Um ano depois, soube-se já em Portugal e dois dias depois da declaração de independência de Angola, que as forças do MPLA, as FAPLA´s, tinham«avançado na chamada rota do café, tendo tomado Porto Piri, Úcua e Quibaxe» - terras por onde andaram Cavaleiros do Norte, nomeadamente os da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, a do capitão José Manuel Cruz. 

2 937 - Chegada de Mário Soares e adeus de Leal, Ferreira e Baião

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 Jesuíno Pinto, Freitas Ferreira, José Gomes e António Artur Guedes, furriéis 
milicianos de Aldeia Viçosa, em encontro relativamente recente. Em baixo, Lúcio 
Lara e Daniel Chipenda em templos mais cúmplices que os de há 40 anos



O mês de Novembro de 1974, há 40 anos, foi tempo de chegada, a Aldeia Viçosa, do furriel miliciano  Mário Soares, atirador de quem não guardo imagem nem ideia. A quem perguntei, da 2ª. CCAV., ninguém se lembra mas a verdade é que o Livro da Unidade da conta da sua chegada. Em aditamento 7, ao BCAV. 8423.
Já falámos aqui, mas vale a pena recordar que foi o mês de saída do Freitas Ferreira, aqui lembrado há uma semana, por causa do acidente de Úcua, que o levou de furriel miliciano atirador, em Aldeia Viçosa, a amanuense, em Luanda. Mesmo contra a sua vontade.
Foi também o de final de comissão do capitão miliciano médico Manuel Leal e, por razões não conhecidas, foi desmobilizado Antero Lourenço Baião, soldado cozinheiro da CCS, desmobilizado.
E Angola, a esse tempo? O que nos chegava de Luanda?
Lúcio Lara, do MLA, apontava o dedo a Daniel Chipenda, líder da facção com o seu nome, de «ser responsável pelas perturbações na região de Salazar-Malange», um pouco lá para os nossos uíjanos lados. Era por lá, dizia Lara, que «homens com braçadeiras do MPLA tem vindo a criar complicações à ordem pública, apesar do cessar-fogo assinado por Agostinho Neto». Eram, não eram do MPLA, não sei, mas Lara dizia que «Chipenda deve ser condiderado responsáel pelo caminho que escolheu».

2 938 - Dias calmos no Quitexe, incidentes em Luanda

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 Rua de ligação da Estrada do Café (Rua de Cima) à avenida (Rua de Baixo), onde se localizavam as principais instalações militares do Quitexe. Ao fundo (seta cor de laranja) era a casa do comandante Almeida e Brito. A enfermaria que se vê na foto de baixo era a casa apontada a amarelo

Os tranquilos dias quitexanos de há 40 anos eram a antítese das situações de conflito que se viviam e multiplicavam na capital Luanda, onde já tinham chegado os três movimentos de libertação: MPLA, FNLA e UNITA. Cada qual com a(s) sua(s) força(s) e ambições.
Os Cavaleiros do Norte prosseguiam as tarefas de prepararação da sua própria rotação e apoiavam a JAEA na recuperação do troço de estrada entre o Quitexe e Camabatela, depois do de Aldeia Viçosa a Ponte do Dange - a estrada do café.
O Diário de Luanda de 15 de Novembro de 1974, há 40 anos, dava conta de um comunicado da FNLA, que apelava à «assumpção de posições actuantes e racionais, para podermos contribuir, sem ambiguidades, para uma total e definitiva separação das forças construtivas das descontrutivas» e sublinhava que«a neutralidade, neste momento, não serve a ninguém, nem à própria Angola».
O documento era«um velado ataque à Junta Governativa e ao MPLA, explorando alegadas divisões neste movimento». Deque era exemplo a Facção Chipenda. O matutino «O Comércio», também de Luanda e da terça-feira anterior, atacava um eventual governo de coligação e sugeria que «somente sob a autoridade de um governo de partido único - a FNLA - se poderá resolver o probema angolano».
O MPLA, por sua vez, afirmava acreditar nas intenções de Rosa Coutinho, o Alto Comissário, e do Governo Português, prontificando-se «a colaborar na segurança dos musseques» - zonas onde se repetiam problemas e sucediam problemas e mortes.

A UNITA, de Jonas Savimbi, essa, citando o Diário de Lisboa, «tem-se remetido a um prudente silêncio, evitando ataques e críticas ao MPLA e à Junta Governativa».
Lúcio Lara, do MPLA, denunciava «provocações de pessoas que, em Luanda, vivem na zona no asfalto» - a população branca. E criticou «um ataque contra pessoas instaladas na tribna do estádio do Futebol Clube de Luanda, durante um comício do MPLA». Pediu a dissolução de forças para-militares, dando o exemplo da OPVCCA.
- JAEA. Junta Autónoma de Estradas de Angola.
- OPVDCA. Organização Provincial de 
Voluntários da Defesa Civil de Angola.

2 939 - Contactos com a FNLA e patrulhas em Luanda

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Quitexe, em imagem de 2012. Ao fundo, a secretaria da 
CCS. Em baixo, o quartel de Vista Alegre, a 20/07/2010 (foto By 
Bembe). Mais abaixo, o administrador Galina


A 16 de Novembro de 1974, no Quitexe, «voltou a haver um encontro» de elementos da FNLA com as autoridades locais, militares e civis. Dele não tenho memória e dele pouco fala o Livro da Unidade, para além de referir que acontecia, com «elementos dispersos, agora já nas categorias elevadas da sua chefatura».
A administração civil, se bem me recordo, estava ia tempo interinamente entregue a um sr. Galina (foto), que sucedera a Octávio Pimentel Teixeira.  

Ao mesmo tempo, decorriam contactos em Vista Alegre - onde, por estes dias, ainda estava a CCAÇ 4145/72, substituída pela CCAÇ. 4145/4, que acabou por sair logo depois, para lá indo a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, comandada pelo capitão Davide Castro Dias - que, de vez, lá chegou a 25 de Novembro.
As «coisas» iam bem piores por Luanda, onde os desentendimentos entre os movimentos/partidos eram evidentes, trocando acusações. As Forças Armadas Potuguesas receberam instruções para  «abrir fogo, sem aviso prévio, sobre quem for encontrado a praticar actos de banditismo ou violência». A cidade era patrulhada por militares e os civis eram aconselhados a«limitar a circulação de viaturas, só em caso de comprovada urgência» e que, nestas condições «obedeçam prontamente às ordens ou indicações das patrulhas militares, sob o risco de serem algo de fogo dessas forças».
O jornal «O Comércio» deste dia, de há 40 anos, dava conta da chegada a Luanda de «mais um contigente armado da FNLA, facto que estaria ligado à constituição de uma unidade militar na capital», para «intervir  nas tarefas de repressão à onda de crimes e violência que tem havido». O MPLA, de sua vez, mostrou-se favorável à formação de «uma força armada dos diferentes movimentos de libertação, para ajudarem as Forças Armadas Portuguesas em tais tarefas».

2 940 - Zalalas´s na Póvoa do Lanahoso e Angola há 40 anos...

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 Zalala na Póvoa do Lanhoso: o casal Horácio Carneiro, Mota Viana, Famalicão,
Pinto, Barreto, Rodrigues e Queirós. Em baixo, o Rodrigues, ha 40 anos, 
em Vista Alegre (Angola), com combatentes da FNLA



 
Há 40 anos, faziam-se vésperas da saída dos Cavaleiros do Norte de Zalala, para Vista Alegre e Ponte do Dange - no âmbito do plano de rotação do batalhão, que apontava para o abandono das posições não urbanas. Pois bem,  40 anos depois, alguns zalala´s juntaram-se pelas bandas da Póvoa do Lanhoso, para «bater» um cozido à portuguesa.
O Rodrigues, que por lá (Angola) jornadeou, é quem nos da conta da «operação», que o juntou com o Horácio Carneiro, o Mota Viana, o Famalicão, o Pinto, o Barreto e o Queirós, a bebericar o tinto  da região, tradicionalmente servido em tijela.
Conta o Ropdrigues, lá ido direitinho de Famalicão, que «foram umas boas horas de serviço para dar cabo da dura tarefa em que todos se empenharam, cada um na sua especialidade, com  as recordações de Zalala, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona».
«Depois destes anos todos, o convívio é sempre possível», rematou.
Não se lembraram, obviamente, mas há 40 anos, precisamente, preparavam-se eles para rumar a Vista Alegre e Ponte do Dange, deixando Zalala. E muito menos que o ambiente luandino foi agravado, a 17 de Novembro de 1974, com a prisão de duas figuras conhecidas: os empresários Corte Real (gerente da Sorel) e Fernandes Vieira, figuras relevantes da economia angolana e «despachados» para Lisboa, às ordens de Rosa Coutinho, o Alto Comissário. Eram acusados de«sabotagem económica, visando instalar o caos económico em Angola», como reportrou o Diário de Lisboa.
A conferência de imprensa foi convocada de urgência, para o princípio da noite de faz hoje 40 anos, e Rosa Coutinho comentou que «isto tinha de ser feito e foi feito para evitar o agravamento da situação». Os suspeitos iam ser interrogados em Lisboa e por Luanda especulava-se sobre uma tentativa de «um golpe de força ou simplesmente tactear a situação», da parte de forças que se identificavam com a FUA e o PCDA - que, e citamos o Diário de Losboa,«teria como objectivo preparar emocionalmemnte a opinião pública para um golpe de força».
Ao tempo, havia vários partidos angolanos. De memória e para além do PCDA e da FUA, recordo a FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, que operava militarmente pela independência daquele território), o MOPUA (Movimento Popular de Unidade Angolana), a UNA (Unidade Nacional de Angola) e a FRA (Frente de Resistência Angpolana). Talvez outros!
- FUA. Frente Unida de Angola.
- PCDA. Partido Cristão-Democrata de Angola.

2 941 - Confrontações em Luanda e calma (?) no Quitexe

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O Quitexe, em 2010, entrada do lado de Luanda. Reconhece-se 
o antigo bar do Rocha, tal qual na imagem de baixo, bem mais antiga



 Os tempos de Luanda, há 40 anos, não eram os mais pacíficos e a imprensa local dava conta de que «os novos incidentes agravam a impressão de insegurança que reina entre a população branca da capital». 
Isso era aum facto e testemunhavam, real e sentidamente, alguns amigos (civis) que lá moravam. Uma família amiga, por exemplo, mudou-se de um bairro da estrada de Catete para a esperada segurança de um prédio localizado perto da praça de touros.
A tropa sentia-se presa entre dois fogos: acusada pela, população branca de «não assegurar protecção adequdada»  e pela negra, que se insurgia contra o que consideravam «uma repressão excessiva sobre as desordens».
O Quitexe, na calma com que o mês passava, também não deixava de apontar alguns dedos à tropa, de algum modo camuflados mas que se sentiam. Mas era em Luanda, a capital angolana, que se temiam «novas confrontações raciais, se o MPLA, a FNLA e a UNITA não conseguirem dominar os elemetos criminosos» - como referia a imprensa.
 Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa, já dias antes lançara um apelo à calma, através da rádio e lembrou que «as buzinas dos automóveis não são uma voz política». Referia-se à forma com  a população se manifestava nas ruas da cidade. O jornal A Província de Angola, em editorial, sublinhava o apelo dos três movimentos para«a calma e a ordem».
«Quem está, então, a causar estas provocações?», perguntava o editorialista.
O dia 18 de Novembro de 1974 foi mais um de «contactos operacionais» do comandante interino do BCAV. 8423 - o capitão José Paulo Falcão - no Comando de Sector do Uíge, em  Carmona, que por essa altura se reunia no BC12, a nossa futura «casa», a partir de 2 de Março de 1975.


2 942 - O adeus a Vista Alegre e à mítica Zalala...

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Vista Alegre, vista da vila,  com o aquartelamento militar em grande
 plano. Em baixo, a mítica Zalala, «a mais rude escola de guerra»


Sabem os amigos  Cavaleiros do Norte, o que se passou há 40 anos, lá pelas bandas do Uíge e na ZA do BCAV. 8423? A 19 de Novembro de 1974? Os zalala´s da 1ª. CCAV. 8423 faziam malas para a viagem que os levaria para Vista Alegre. Arrumavam as quitangas para o adeus definitivo à mítica«mais rude escola de guerra».
Vista Alegre, justamente nesse dia, recebia a Companhia de Caçadores 4145/74, comandada pelo capitão Gabriel Gomes, um oficial do Grupo das Caldas (16 de Março), que pouco tempo lá esteve. Ia substituir a CCAÇ. 4145/72 e, segundo o que leio no Livro da Unidade, «saiu do subsector a 20 de Novembro». Apenas um dia em Vista Alegre? Deve haver alguma confusão, que talvez algum dia possamos esclarecer.
Sobre a 4145/72, a companhia independente dos nossos companheiros de Vista Alegre, contou (o seu alferes miliciano) Adão Moreira que era comandada pelo capitão Raúl Alberto Sousa Corte Real. Mobilizada pelo RI1, da Amadora, partiu para Angola em Março de 1973 e de lá regressou em Dezembro de 1974.
Adão Moreira, o alferes miliciano «mais velho», comandou-a durante os períodos de doença e férias do capitão Corte Real e, neste dia de há 40 anos, já estava em Luanda.
«Fui mais cedo, com cerca de 50 homens da incorporaçãoangolana, para processar a desmobilização deles», disse o antigo oficial miliciano de Vista Alegre - que por lá jornadeou com os também alferes Rosa (que comandou o 1º. pelotão), Fonseca (o 3º.) e Aguiar (o 4º.).
Já agora, Rosa, de Setúbal (como Adão Moreira), substituiu o alferes Dias (despromovido a furriel) e é aposentado das Finanças. Fonseca, é advogado em Lisboa. Aguiar, provavelmente também residente na capital, substituiu alferes Damas - que conseguiu a desmobilização, ainda em Portugal.
A 19 de Novembro de 1974, em Luanda, aguardava-se a chegada de Melo Antunes para, segundo a imprensa do dia, «criar uma frente comum, para acelerar, de forma pacífica, o processo de descolonização». As diferenças entre os três movimentos/partidos acentuavam-se e a FNLA, «dona» das terras uíjanas por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte e, ao tempo, já com «dezenas de de homens armados em Luanda», era acusada de não ter perdido «as características tribalistas e racistas que se reconheciam na UPA, de que é originária».
O MPLA, a braços com dissidências internas - de que eram exemplo a Facção Chipenda e a Revolta Activa, de Pinto de Andrade - assumia-se politicamente e em comissões de bairro, nos musseques luandinos. A imprensa do dia dava conta que«tem contribuído para uma acentuada melhoria da situação na capital angolana».
A UNITA aguardava «a chegada de um contingente armado (...), para colaborar na segurança da delegação» e  Wilson Santos (o chefe da dita), em conferência de imprensa num luxuoso hotel da cidade, «sugeria a possibilidade de eleições entre Maio e Agosto» de 1975.
Melo Antunes era esperado em Luanda mas, nesse memso 19 de Novembro de 1974, estava em Argel, a negociar com Agostinho Neto.
Negociavam o quê? A formação de um governo de transição, com  os três movimentos. Mas havia diferenças. Por exemplo, o MPLA negava-se a colaborar com a UNITA, que acusava de «cumplicidade com o exército colonialista português». Muito menos com a FUA, que Agostinho Neto considerava «um movimento representativo dos sectores mais reaccionários da população branca de Angola».
A norte, o BCAV. 8423 riscava dias no calendário, fazendo contas para o regresso. Que só aconteceria em Setembro de 1975.

2 943 - Anos Quitexe, prisões em Luanda e Nova Lisboa

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Viegas e Pires, do Montijo, na sanzala Talambanza, à saída do Quitexe, para Carmona. Em 
baixo, a avenida do Quitexe, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Alberto Ferreira, de Zalala)

A 20 de Novembro de 1974, andei eu a ponderar sobre os meus então viçosos quase 22 anos, que faria no dia seguinte. Tivemos uma escolta a uma fazenda, comemos lá peixe seco - o  que, se me lembro bem, era uma estreia para mim!!!... -, e não gostei!!! E voltámos à nobre vila quitexana, onde aquartelávamos e e nos esperava o banho da praxe. E o correio, que agora reli, com uma mão cheia de recados de afecto, pelas 22 vezes que fazia anos.
Agora, que os reli, deixei-me emocionar pelo aerograma do Alberto Ferreira, o meu amigo cabo especialista da Força Aérea, que estava na Base Aérea de Luanda: «Estás aí para o norte e certamente com mais sossego que nesta m... de cidade, onde há porrada todos os dias. Nós agora é que estamos na guerra (...). Espero que sobrevivas a esse tédio e festejes os teus 22 anos com a alegria que todos merecemos, pois andamos por cá a dar o lombo ao manifesto, sem saber para quê. Grande abraço, pá!, não te esqueças de uma wiskada por mim".
O Alberto, com quem dividi bancos de escola (em Águeda) e noitadas de Luanda, por sítios de prazer e de gosto, foi amigo de sempre, licenciou-se em economia, foi vereador e candidato a presidente da Câmara de Águeda e faleceu, de doença, há quase 9 anos. Fui dos últimos amigos a falar com dele, dias antes do seu triste passamento.«Acabei, pá!!!...», disse-me, sem um nó de garganta, sentindo-se próximo do fim, mas sereno e corajoso.
Andava pelo Minho, a despedir-se da vida - assim me disse, sem amargura, em lutos de alma. 
Luanda, ao tempo, fervilhava em problemas de segurança, com muita gente civil armada  não se sabe como nem por quem. A imprensa de 20 de Novembro de 1974, há 40 anos!!!, ufff!!!!... -, dava conta que «as Forças Armadas Portuguesas e as milícias populares do MPLA continuam a patrulhar os bairros suburbanos da capital angolana, assegurando o rápido reestabelecimento da ordem».  Não sei se seriam bem assim. Na véspera, tinham sido presos três homens que «em nome do MPLA, saqueavam um estabelecimento comercial». Confessariam, noticiava o Diário de Lisboa, que cito, «serem provocadores a soldo da reacção». O MPLA não dizia quem seria tal reacção, mas o jornal deixava entender «estarem ligados a outro movimento de libertação». Qual? Diria eu que a FNLA. A UNITA pouco aparecia.
Havia problemas em Cabinda, onde a FLEC reinvidicava a independência do enclave e, pelo MPLA, era acusada de ser «um bando de fantoches a soldo do imperialismo, como apoio de um país vizinho", referindo-se ao Zaire de Mobutu.
Mais a sul, no planalto central do Huambo, em Nova Liosboa, a PSP deteve 7 cidadãos brancos e apreendeu-lhes um Land Rover. Os presos foram transferidos para a Casa de Reclusão de Luanda.
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