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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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2 904 - MPLA com aviões e um Governo de União Nacional

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Ferreira, capitão Cruz e alferes Carvalho à conversa, no encontro de Valongo. Em baixo, 
notícia sobe o Governo de União Nacional de Angola, anunciado pelo MPLA, há 39 anos



A 13 de Dezembro de 1975, o MPLA controlava 12 das 16 províncias (distritos) de Angola. A UNITA era senhora do Huambo e Bié. A FNLA, no Zaire e do Uíge, por onde jornadearam os Cavaleiros do Norte. 
Novidade era, em Luanda, o movimento de Agostinho Neto ter proposto à Delegação da ONU a formação, depois da independência, de um governo de União Nacional, com «personalidades angolanas independentes, com um passado de patriotismo e independência».
A missão da OUA preparava-se para visitar, dentro de dias, as áreas controladas pela UNITA e pela FNLA e  surgiu uma novidade: o MPLA tinha Força Aérea - com aviões de transporte e uma esquadrilha de caças estacionada num país amigo». «Utilizamos os nossos próprios aviões para distribuir armas às nossas tropas», disse o dirigente do MPLA, à France Press. E explicou que os pilotos eram «angolanos e não mercenários». 
Estas coisas, já vistas de Portugal, onde cada Cavaleiro do Norte retomava a sua vida normal, depois da comissão militar. não eram de todo surpreendentes, tendo em conta a capacidade mobilizadora do MPLA e as suas influências nos areópagos políticos internacionais. 
O almirante Pinheiro de Azevedo, há precisamente 39 anos, era 1º. ministro  e falou ao país. Disse que coube ao VI Governo (o dele) «ter de enfrentar o saldo da descolonização de Angola e Timor, tão matizado de tragédias e as suas inelutáveis consequências, das quais a mais significativa, e também mais dramática, é o problema dos retornados».
Ia assim, o país-Portugal!


2 905 - Dois mortos entre as fazendas Alegria II e Ana Maria

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Quitexce, em 2012, entrada do lado de Carmona. Em baixo, a secretaria da CCS vista da
 estrada principal (fotos da net), Mais abaixo, notícia do cessar fogo com a FNLA, há 40 anos!



Os Cavaleiros do Norte andavam avisados e aprudentados, nas patrulhas e nas escoltas das estradas e itinerários do Uíge - mesmo depois de se conhecer a intenção de cessar fogo, anunciada pela FNLA e que, oficialmente, se soube no Quitexe a 15 de Outubro de 1974. Amanhã se passam 40 anos.
A 14, o dia de hoje desse mesmo ano, leio no Livro da Unidade, «entre as fazendas Alegria II e Ana Maria mesmo no limite NE do Subsector, um grupo IN realizou uma emboscada na uma viatura civil, com êxito de sua parte, pois que obteve dois mortos civis europeus».
Cessar fogo? Olhem aí!!!
A imprensa de Luanda, na verdade, dava conta, nesse 14 de Outubro de 1974, do«cessar fogo com a FNLA a partir de amanhã», na sequência das conversações de Kinshasa, mas a verdade prática era outra, no nosso saudoso Quitexe. Como se vê.
O presidente da FNLA, através da rádio, que ouvimos por lá, através da onda média, afirmava que«a FNLA quer uma Angola livre e próspera, com todos os seus filhos, seja qual for a cor da sua pele», mas também lamentava «o fim da comunicação com o MPLA», que, na sua opinião, e cito, «debate-se com dissidências e questões meramente burocráticas e administrativas». Disso era exemplo a saída de Daniel Chipenda, que liderava a facção com o seu nome e esteve em Kinshasa, onde não esteve o MPLA.
O Comando Militar Português, entretanto, anunciou que «em Setembro, não se registaram incidentes atribuíveis à UNITA e à FNLA». O movimento de Jonas Savimbi  suspendera as hostilidades em Junho. Não operava na ZA dos Cavaleiros do Norte. O MPLA, de seu lado e leio da imprensa desse 14 de Outubro de 1974 (o Diário de Lisboa), «não tem efectuado acções ofensivas há mais de um mês, embora mão tenha declarado o cessar fogo». A sua intervenção na nossa ZA era residual, mais para sul, no caminho para Luanda.
Isto, resumido, foi o dia 14 de Outubro de 1974! Há 40 anos, era a vida dos Cavaleiros do Norte!

2 906 - Cessar fogo, combates e FNLA perto de Luanda

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Rocha e Fonseca (ambos de bigode), Viegas (a comer), Belo (de óculos), Ribeiro (a olhar para a esquerda dele) e Pires, de Bragança). Monteiro (de costas, Cândido Pires (de bigode e a olhar para a esquerda), Machado e Dias (de costas, este de óculos, à direita), no Quitexe. Em baixo, notícia DL de 15 de Outubro de 1975




A 15 de Outubro de 1974, a FNLA, anunciou o cessar fogo, «não oficial, é certo», como se lê no Livro da Unidade, e este foi um dos«três acontecimentos da mais elevada importância» desse mês, no que toca à ZA dos Cavaleiros do Norte. Os outros foram «o desarmamento dos milícias rurais» (coisa nada fácil) e «o êxodo maciço dos trabalhadores» do centro/sul - o que, para altura da campanha do café, poria em perigo a economia da região uíjana.
Um ano depois, o MPLA assumia-se como «o único legítimo representante do povo angolano» e, longe de se entender com UNITA e FNLA, afirmava, pela voz de Agostinho Neto, que proclamaria a independência a 11 de Novembro «aconteça o que venha a acontecer», porque era«impossível qualquer conciliação» com os dois rivais.
«São movimentos fantoches, alimentados e manipulados fora do país e totalmente estranhos aos sentimentos do nosso povo», disse Agostinho Neto.
Simultâneamente, a nordesde de Luanda, perto do nó rodoviário de Samba Caju, tropas do MPLA e da FNLA travavam «importantes combates». Na frente leste, perto do Luso, eram entre a MPLA e a UNITA. A Comissão de Reconciliação da OUA, em Luanda e depois de uma visita a Cabinda, projectava viajar para Nova Lisboa, no Huambo (a 15) e Carmona, no Uíge (a 16),  Em Cabinda, tinha sido recebida por multidão a gritar pelo MPLA. E também escutou vozes de recusa de qualquer acordo com a FNLA e a UNITA. 
«Conciliação com a FNLA e a UNITA?», perguntou um dirigente do MPLA, citado pelo Diário de Lisboa.
«Não. Esmaguem-nos, esmaguem-nos», gritou a mulltidão.
Oura notícia do DL dava conta (ver imagem) de que «forças da FNLA estão a prosseguir o seu avanço sobre a capital encontrando-se a 25 quilómetros da cidade». Na véspera, dia 14, «mantinham-se ainda na frente do Caxito e da Barra do Dande. a 50 quilómetros da capital angolana».

2 907 - Saudades do Quitexe e a guerra, há 39 anos!!!

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A foto aérea do Quitexe é anterior à passagem dos Cavaleiros do Norte, mas dá para identificar alguns dos principais pontos da vila: a Igreja da Santa Mãe de Deus (rectângulo amarelo, em baixo), parada, caserna, oficinas e comando (a vermelho), secretaria da CCS e casa dois furriéis (seta amarela), restaurante Pacheco (círculo cor de rosa), depósito de géneros e de armamento (sete verde), messe de oficias (rectângulo acastanhado),  messe e bar de sargentos (círculo vermelho), casa do comandante (círculo verde claro), enfermaria (quadrado branco), restaurante Rocha (círculo verde, em cima, á esquerda) estrada do café (setas vermelhas, no sentido de Carmona) e administração civil (rectângulo azul). Em baixo,  notícia do Diário de Lisboa de há 39 anos. 



A 16 de Outubro de 1975, a Comissão de Conciliação da OUA voou para Carmona, a partir de Luanda, para se encontrar com dirigentes da FNLA. Tinha chegado de Nova Lisboa, onde reuniu com a UNITA. 
A imprensa do dia dá conta de de que «afiguram-se remotas as possibilidades de conciliação entre o MPLA e os outros dois movimentos de libertação». A própria OUA considerava «bastante improvável que o MPLA aceite negociar com os seu dois rivais, antes da data marcada para a independência».
A 26 dias dessa data, leio na imprensa vespertina do dia (que eu, do trabalho, procurava em Águeda, a caminho de casa), «travavam-se intensos combates (...) nas  frentes de Luanda, do Centro e do Norte» - em Nova Lisboa e Caxito -, não se confirmando que a FNLA estivesse já a 25 kms. de Luanda, embora alguns seus soldados, armados, fossem detidos nos arredores, denunciados por populares. 
As armas «falavam» no triângulo Quitiri-Libombos e Caxito. Sobre o «nosso» Uíge, «não existem notícias pormenorizadas», relatava o Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1975. Apenas se sabia do «avanço do MPLA na zona dos Dembos».

2 908 - A morte de Fernando Simões e mercenários para Angola

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Fernando Martins Simões, 1º. cabo apontador de metralhadoras da 3ª. CCAV., 
a de Santa Isabel. Em baixo, notícia do DL de há 39 anos, sobre mercenários para Angola



Hoje, o blogue veste de luto, com a saudade e a dor de alma por mais um Cavaleiro do Norte que a morte levou: Fernando Martins Simões, 1º. cabo apontador de metralhadoras, da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel! Tinha (quase) 46 anos!!
Setembro, o mês atrás, foi tempo para aqui fazermos memória dos 62, que faria no dia 2. Não fez. O Simões, que fez a sua jornada de África pela mítica fazenda de Santa Isabel e, depois, com toda a CCAV., acompanheirou com a CCS, no Quitexe e em Carmona, faleceu a 17 de Agosto de 1998, por suicídio.
Voltou e fez vida como motorista, no seu Louriçal, de Penacova. Foi sua (única) filha, Zaida Martins, quem nos deu notícia. Por ela, para ela e para a senhora sua mãe, mulher dos amores do nosso Cavaleiro do Norte, vai o nosso abraço solidário, embrulhado na saudade do homem bom e do companheiro de sempre!
A 17 de Outubro de 1975, hoje se fazem 39 anos, foi denunciada, em Lisboa, a contratação de mercenários para Angola. Noticiou o Diário de Lisboa e desmentiu o Estado Maior General das Forças Armadas. De Luanda, não havia notícias (por  nós muito expectadas) mas, por cá, ferviam os humores políticos e cresciam as labaredas do PREC.  
O Presidente da República, general Costa Gomes, em comunicado, anunciou que "serão punidos os portadores de armas de guerra" e que "estão a decorrer inquéritos sobre os desvios de armamento de unidades militares".
O Estado-Maior General das Forças Armadas lançou um ultimato de oito dias para os grupos civis entregarem as armas de guerra.
O CDS considerava que as Forças Armadas «estão intoxicadas» e, em Melgaço, aconteceu  «um atentado bombista anti-comunista».
Assim o país nascido de Abril!

2 909 - O amor de um cavaleiro acasamentado em Luanda

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Carlos Silva, em Luanda, mai-la sua mais que tudo, de boda acasamentada, 
faz hoje 39 anos (em cima). Notícia do não avanço do MPLA sobre Luanda




O amor de um Cavaleiro do Norte levou-o ao altar, para dizer sim a um amor que ainda hoje dura, para a perdura: casou-se o alferes miliciano Carlos Silva em Luanda, aonde voltou a 26 de Setembro, duas semanas depois da chegada casa. Não perdeu tempo, depois do final da comissão. Casou a 18 de Outubro de 1975, hoje se completam 39 anos.
«O meu coração tinha ficado em Luanda e a minha partida já não tinha sido fácil, com tanta confusão que por lá havia, a nível de guerra/guerrilha, por Luanda. Não foi fácil, mas já fazia contas ao regresso, o que aconteceu logo após passagem à disponibilidade», contou Carlos Silva.
Casou e bem... casado, com um amor aprofundado, que hoje continua mergulhado em paixão.
O dia foi de sábado e se as bençãos de Deus iluminaram o jovem casal, por Luanda expectava-se sobre a eventual chegada de Holden Roberto. Mas, releio no Diário de Lisboa, citando o MPLA, «a notícia alarmista» fora divulgada em Kinshasa «por um tal senhor Bernard Woth, um perigoso reaccionário que, sendo enviado da France Press a Luanda, foi há cerca de um mês convidado a sair daqui, por motivo das notícias tendenciosas que enviava de Luanda».
O MPLA desmentia o avanço da FNLA sobre Luanda e, quanto ao Uíge, a imprensa deste dia de há 39 anos dava conta que«registaram-se nas últimas semanas, acções das forças invasoras vindas do Zaire», pela zona de Cangola. Forças que, aquarteladas em Caiongo, «mataram e saquearam a população de Quinguzu, tendo morto 30 elementos do povo e aprisionada 20 mulheres, depois de terem enforcado os maridos».
Uma outra força da FNLA´s, perto de Camabatela (uma das vilas vizinhas do Quitexe),«caiu sob fogo  intenso das FAPLA, tiveram 8 baixas e deixaram no terreno o seu equipamento militar».
A FNLA continuava a dominar no Caxito e Libongos e tinha «progredido até Úcua e Piri» - localidades por onde andaram os Cavaleiros do Norte. Mas «o MPLA controlava Cage, Mukundo, Santa Eulália, etc., a norte do Dange». Era o caminho para Vista Alegre, Aldeia Viçosa, Quitexe e Carmona.

2 910 - Patrulhamentos para combater «banditismo da FNLA»

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CAVALEIROS DO NORTE de Aldeia Viçosa, a 27 de Setembro de 2014: Beato, 
Oliveira, Ferreira, Tomás, Samuel, Almeida e Couto. Há 40 anos, estes e outros , por
 exemplo Sebastião e Santos, em baixo, "enfrentaram" na estrada os assaltos da FNLA





A 19 de Outubro de 1975, em conferência de imprensa, três militares dos SUV, encapuzados, enalteceram a «experiência-piloto de democracia directa» dentro dos muros do quartel do RASP, com comissões de soldados eleitas e revogáveis e ligação aos organismos populares de base. Um comunicado do mesmo dia e do Secretariado dos SUV-Norte, intitulado “A Luta Continua”, analisava os 13 dias de luta dos soldados do RASP e denunciava os 400 ex-comandos contratados pelo Regimento de Comandos da Amadora, enquanto se saneiam oficiais e soldados progressistas.
A UDP, em comunicado e apoio à luta dos trabalhadores da Rádio Renascença, apelava à manifestação convocada para dia 21 de Outubro. Ainda no mesmo dia, o PRP-BR declarava que não entregaria nenhum arma, apesar do ultimato do EMGFA, «até a classe operária ter chegado ao poder». O capitão Capitão Vasco Lourenço afirmou que é necessário uma confrontação rápida com a extrema-esquerda antes que «a situação se degrade». Em Fânzeres, foi assaltada e destruída a sede do PCP.
Um ano antes, a 18 de Outubro de 1974, leio no Livro de Unidade, «a FNLA começou a procurar realizar actividade de pilhagem as utentes dos itinerários, especialmente no troço compreendido entre Quitexe e Aldeia Viçosa». Precisamente aquele em que os Cavaleiros do Norte do Quitexe mais actuavam. Os de Aldeia Viçosa, alguns deles nas duas fotos de cima patrulhavam mais para sul, até Úcua e Piri.
«Procurou-se contrariar esta acção de banditismo com o lançamento de patrulhamentos inopinados, aquando do aparecimento de queixas, sem que, contudo, se preveja parar com elas já que, à aproximação das NT, a FNLA se furta ao contacto e, consequentemete, não se evita a acção já realizada e a realizar a posteriori, pois a presença das NT não é, e não pode ser, contínua», explica o Livro da Unidade.

2 911 - Morte de M. Dinis Dias e combates em Luanda

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Cavaleiros do Norte de Zalala: Rocha (?), Espinho (?), Fião, Romão, Tarciso, Aprumado, Mora, mamarracho e Pereira (de pé). Azevedo, Rego, Orlando Oliveira (?), Lopes, Dorindo e Manuel Dinis Dias, que faleceu hoje se  fazem 3 anos, vítima de doença. Em baixo, Freire e Oliveira, da 2ª. CCAV.  8423, a 27 de Setembro, no Encontro de Valongo



Hoje se passam três anos da morte de um dos cavaleiros do Norte de Zalala, o Dias. Manuel Dinis Dias, furriel miliciano mecânico! A doença levou-o, deixando-nos em luto de alma e um mar enorme de saudades. 
O Dias foi mecânico de todos os desenrascanços, manuseando competência por tudo quanto era unimogs, berliets ou tivesse 4 rodas. As suas berças vinham de Oliveira do Hospital e fixou-se em Lisboa, por onde fez vida depois da jornada angolana do Uíge - de Zalala, a Vista Alegra, ao Songo, a Luanda!  
A doença, há três anos, fê-lo passar para o mundo do além, dele ficando a saudade e a memória de quem, garboso e generoso, foi um bom Cavaleiro do Norte.
A data, esta data de memória, é também para um abraço solidário, para as mulheres de sua vida: Júlia, que amou! Júlia, que lhe deu Ana Filipa, fruto abençoado e vivo da sua paixão.
Há 39 anos, no Ambriz, onde a FNLA tinha assentado sede, o presidente Holden Roberto anunciava que estaria no dia seguinte em Luanda - o que o MPLA desmentia, garantindo a defesa da capital. Em Ambriz, estava a delegação da OUA, depois de se ter encontrado com a UNITA (em Nova Lisboa) e MPLA (em Luanda). Procurava um a solução para a guerra civil. As frentes de combate continuavam: violentos no Caxito e tomada de Kiculungo, a 70 quilómetros de Camabatela, vila bem próxima de Quitexe, na estrada que ligava ao Negage e Carmona.
Um ano antes, Outubro de 1974, iam mas calmos e esperançosos os tempos. No campo da acção psicológica, por exemplo, «rodou-se novo filme em toda a ZA». Também em Aldeia Viçosa, onde os dois Cavaleiros da imagem - o Freire e o Oliveira -, não terão perdido a oportunidade de ver a fita. Outros tempos, outros cinemas!

2 912 - Memórias avulsas de um dia de ser tio, há 41 anos!

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Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, no encontro 2014 de Valongo: Oliveira, 
Azevedo, Ferreira, Rocha e Santos (em cima), Oliveira, Guedes e Soares (em baixo). 
Mais abaixo, Viegas no tempo de Lamego e de ser tio pela primeira vez!




Há 41 anos, hoje se fazem!!!, vejam lá!!!..., levantei-me cedo, aos meus costumes, comi migas de broa com café (de cevada, assim se dizia...), disse adeus a quem me pôs neste mundo e "zarpei", a passo largo, para o apeadeiro, onde apanhei o comboio que me levou para Águeda. Ainda não eram 8 horas da manhã, tinha alguma liberdade de entrar no Hospital Conde Sucena e lá fui eu, curioso e expectante, a espreitar corredores, até saber notícias de minha irmã mais nova - que lá entrara na véspera, em dores de parto. Em véspera do seu primeiro natal materno!!!
Lá fui e lá cheguei, à extinta maternidade, onde ela, meio a dormir,  me mostrou a primogénita pimpolha, que se deixou ver de pele lavadinha e fresca, embrulhada em fraldas e apaparicos, xailinhos e pós de talco, de olhitos fechados e sem um ai, um choro, ou uma lágrima!!... Era a minha primeira sobrinha, a Susana! A Susana, que veio a ser minha afilhada e, anos mais tarde, também comadre, ora essa!!!..., por amadrinhar o meu filho João.
Assim a conheci e assim a deixei, que o caminho era para Lamego - para o CIOE. Desci ao Zip-Zip, onde me iria achar com o Neto, e de lá telefonei para a vizinha Celeste, seis, dois, cinco, nove, um!!!: 
"Olhe, diga a minha mãe que a Dulce teve uma menina!...". 
Disse e lá fui eu, eu e o Neto, e o Melro (de Anadia), a galopar quilómetros, de SIMCA 1100, branco e veloz, seguro a subir a serra, até à terra de Nossa  Senhora dos Remédios.
Estas coisas, estas recordações, fazem-nos sentir mais velhos, é verdade, mais nostálgicos e até mais crianças! Mas sabe bem saboreá-las, mastigar-lhes a saudade, amar-lhes o gosto multiplicado de se ser tio pela primeira vez e se estar a fardar um serviço ao país.
Hoje, deu-me para isto e também, como se vê pelas imagens que aqui se publicam, continuar a fazer memória das festa dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa que, a 27 de Setembro deste ano, se encontraram em Valongo. Tudo boa gente!!! Deles, a esse tempo, só conhecia os então o aspirante João Machado e o 1º. cabo miliciano António Carlos Letras - os futuros alferes miliciano Machado (de Lisboa) e furriel miliciano Letras (de Setúbal). Meus companheiros de especialidade em Operações Especiais, os Rangers!!! Yááááá!!!...
Foi isto, há 41 anos, tantos quantos faz hoje a minha sobrinha, afilhada e comadre!!!
- CIOE. Centro de Instrução de Operações Especiais, 
unidade de formação dos Rangers, em Lamego.

2 913 - A guerra de Angola em fase decisiva...

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Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, no encontro de Valongo: Jorge Capela (alferes), João Azevedo (1º. cabo), Carlos Quaresma (soldado atirador) e Rafael Ramalho (furriel miliciano atirador de cavalaria). Em baixo, Joaquim Verde (soldado atirador), José Freire (1º. cabo clarim) e Oliveira (soldado condutor) 


A 22 de Outubro de 1975, o Diário de Luanda dava conta de «descompressão na frente norte, onde se travam os combates mais intensos» da guerra que opunha MPLA e FNLA, na sequência da contra-ofensiva das FAPLA, que «fizeram recuar os importantes efectivos de mercenários, para posições a norte do rio Dange, em direcção ao Caxito»
Mais para norte, ficavam Ponte do Dange, Vista Alegre, Aldeia Viçosa, Quitexe, Santa Isabel, Zalala, Songo e Carmona, terras por onde jornadearam os Cavaleiros do Norte.
Agostinho Neto, presidente do MPLA, numa e entrevista nesse dia publicada no Diário de Lisboa, garantia (ver recorte ao lado) «a guerra de Angola na fase decisiva».
Um ano antes, 21 de Outubro de 1974,«começou a processar-se,o desarmamento das milícias», o que«não teve boa aceitação por parte dos povos, nomeadamente do Quitexe e Aldeia Viçosa». A nota que aqui recapitulo é do Livro da Unidade, que também dá conta do que, por aquele tempo, nós bem sabíamos: «as milícias, salvo honrosas excepções, não tiveram actuações de vulto em defesa dos seus aldeamentos». Mas, leio no LU, «mesmo assim argumentam os povos que esses núcleos armados são a sua melhor defesa às acções de depradação e exigências do IN, argumento difícil de contrariar, já que é impossível garantir a sua vivência pacífica, pois as NT não chegarão para superar todas as situações que se lhes apresentam». Pudera.
Voemos no tempo, até 2014 e a 27 de Setembro: as imagens de hoje reportam o encontro da 2ª. CCAV. 8423, em Valongo. São uma gentileza do António Artur César Monteiro Guedes - que por lá foi furriel miliciano e, por cá, fez carreira nas Brigadas de Trânsito, atingindo a patente de sargento-chefe, já aposentado. Obrigado, sô Guedes!!! O teu parente de Moura Morta, que está o Destacamento de Águeda, manda-te um abraço.

2 914 - Cavaleiros em Setúbal e sul-africanos em Angola

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António Cruz (furriel milician, de amarelo), José Manuel Cruz (capitão miliciano),  José Maria 
Beato (1º. cabo de transmissões) e Leonel Sebastião (1º. cabo mecânico auto), em cima.
 Em baixo, António Venâncio (soldado atirador) e José Freire (1º. cabo clarim). Fotos de AA Guedes


A rapaziada da 2ª. CCAV. 8423 que vemos nas imagens, descontraída e feliz, no Encontro de Valongo, vai voltar a reunir em 2015 (com todos os outros) mas a data, afinal, não será passada adiante do tradicional último fim de semana de Setembro, como se pensou e decidiu. E aqui se disse. Seria no primeiro sábado de Outubro,  por causa das vindimas (singular, singela e bem vínica razão....), mas voltou-se à primeira forma, por causa da... caça.
Isto porque, explica o Guedes, depois de um pé de orelha do Beato, «esqueceram-se que essa data normalmente coincide com a abertura da época venatória» e, por tal razão e assim «julgo eu - acrescenta o Guedes -, a pedido de "várias famílias", irá manter-se a mesma data» - o último sábado de Setembro.
A rapaziada, pelos vistos, é mais de caçadores que de vindimadores (!!!). O local, esse mantém-se o anunciado (Setúbal), ficando a logística a cargo do Letras e continuando a área do pessoal (contactos) nas mãos do Beato e do Ramalho.
A 23 de Outubro de 1975, o Diário de Luanda, em serviço especial para o Diário de Lisboa, titula que «força africana invade Angola, para socorrer a UNITA, em Nova Lisboa». Força que, a fazer fé no DL, era formada por
 «mercenários contratados pelo traidor Daniel Chipenda», com portugueses (ex-pides e ex-comandos), angolanos e tropas regulares sul-africanas. Entre 800 a 1000 homens, com material bélico também da África do Sul. A norte, continuavam os confrontos na Barra do Dande, no caminho do Caxito e Libongos, nas com o MPLA «a consolidar as suas posições». Do Uíge, não se falava, nesse 23 de Outubro de 1975.

2 915 - Escolta a Aldeia Viçosa e defesa de Luanda

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Azevedo (de costas), furriéis Rafael Ramalho e José Ferreira e alferes Domingos 
Carvalho e João Machado (em cima). Furriel António Guedes e soldados atiradores 
Luís Alves e António Venâncio, todos de Aldeia Viçosa

A 24 de Outubro de 1974, há precisamente 40 anos, estes sexYgenários das fotos de hoje, jovens e garbosos Cavaleiros do Norte de então, foram anfitriões (com muitos outros) em Aldeias Viçosa, do comandante Almeida e Brito, que lá se deslocou em missão operacional. Terá sido uma das várias vezes que o PELREC escoltou a comitiva liderada por Almeida e Brito e que incluía outros oficiais do comando do Batalhão de Cavalaria 8423 - certamente o capitão José Paulo Falcão, seguramente o alferes miliciano António Manuel Garcia (o «ranger», comandante do pelotão de atiradores) e, porventura, o também alferes miliciano António Albano Cruz, da secção-auto.
Um ano depois, já nós por cá refazíamos a vida (civil), passados à peluda, acompanhávamos à distância o agravamento da situação em Angola. O Diário de Lisboa de 24 de Outubro de 1975 dava conta que o «MPLA fez uma mobilização geral», porque, e citamos,«Angola está sujeita a uma invasão estrangeira, a soldo do imperialismo, a qual de processa em várias frentes». Na frente norte, por exemplo, na área do Caxito, registou-se «um dia intenso de artilharia», ainda «mantendo-se sensivelmente as mesmas posições». O MPLA conservava«a cintura defensiva em torno de Luanda e prepara(va) o contra-ataque». Os combates desenrolavam-se em Quifandongo e Salassemas, Porto Quipiri e Morro da Cal.  E anunciou «a libertação das áres do Quizondo e Zemba, de onde os mercenários da FNLA goram expulsos».
Estávamos a dúzia e meia de dias do anunciado dia da independência: 11 de Novembro de 1975. 

2 916 - Combates, há 39 anos, a norte e sul de Angola

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Alferes João Machado e soldado atirador António Soares, em cima. Abaixo, mapa de Angola, para se perceberem as distâncias de Luanda para Caxito e Uíge (Carmona). Mais abaixo, notícia do Diário de Lisboa


A 25 de Outubro de 1975, «registaram-.se violentos combate no Porto de Kipiri» e a FNLA tentou progredir até ao Quinfandongo, porém «travada» por bombardeamentos da Artilharia do MPLA, que destruiu uma auto-metralhadora e dois blindados das forças de Holden Roberto. De Carmona do Uíge, não fala a imprensa do dia.
Fala da «ofensiva do MPLA em Sá da Bandeira». A cidade foi evacuada de civis, antes do ataque, e as forças que o MPLA considerava «mercenárias», foram divididas em duas e «recuaram para Humpata, a sudoeste de Sá da Bandeira, perto de Leba». 
O objectivo das forças anti-MPLA, segundo o Diário de Luanda, em serviço para o Diário de Lisboa, era «assegurar o controlo do Porto de Moçâmedes» e, deste modo, «permitir quebrar o isolamento das forças da UNITA/FNLA, na zona do planalto central».
O mesmo dia de Outubro, mas de 1974 - há 40 anos!!! - , foi tempo para contactos operacionais do comando do BCAV. 8423 no Comando do Sector do Uíge e com outras unidades da ZA. Repetiram- se no dia seguinte e a 28. Terá sido nessas reuniões que se decidiu a remodelação do dispositivo militar - nomeadamente com o abandono do Sub-Sector das CCÇ. 209, a do Liberato (que viria a realizar-se a 8 de Novembro) e da CCAÇ. 4145, a de Vista Alegre (que saíria a 20 de Novembro, substituída pela 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala), ambas para Luanda).

2 917 - Armamento das milícias e ameaças da FNLA

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Cavaleiros do Norte de Santa Isabel, da 3ª. CCAV. 8423, com milícias (?) armadas da sua ZA. Reconheço o furriel Belo (terceiro a contar da direita, de pé). Na foto de baixo, o Freire e o Oliveira, de Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423)


A 26 de Outubro de 1974, há 40 anos e no Quitexe, realizou-se «uma reunião com todos os regedores, aos quais foi feito ver a necessidade de entregarem o armamento das milícias".
O desarmamento não tinha sido bem aceite pelos povos, começara no dia 21 (uma semana antes), e os das áreas do Quitexe e de Aldeia Voçosa, principalmente, temiam que a sua defesa ficava fragilizada, face ao que o Livro da Unidade chama «defesa às acções de depradação e exigência do IN» - que, na área, era a FNLA (mas qualquer outro poderia ser).
O desarmamento «veio a suceder, voluntariamente, a partir de 28 de Outubro», memoria o Livro da Unidade.
A 26 de Outubro de 1975, cada vez mais próximo o dia da independência, Angola continuava a ferro e fogo. A 9ª. Brigada do MPLA, nesse dia, travou o avanço do FNLA, no Morro da Cal, a 20 quilómetros de Quifangondo, para norte. Holden Roberto, por carta, queixou-se que as FA Portuguesas «vigia(va)m sistematicamente as posições da FNLA» naquela área e informou que, a partir desse dia, «qualquer avião que sobrevoasse seria inapelavelmente abatido». 
Leonel Cardoso, o Alto Comissário, rejeitou a acusação e, por não aceitar o ultimato da FNLA, mandou-lhe recado, para o caso de algum aeronave portuguesa ser alvejada: «sujeita-se o ELNA às consequências».

2 918 - Disciplina regimental e o cão dos Cavaleiros do Norte

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Alferes Cruz com o Ois do Casal de Palmeiró, o seu cão (perdigueiro de luxo) de 
homenagem aos Cavaleiros do Norte. Na foto de baixo, o Buraquinho, em frente à
enfermaria do Quitexc. Ao fundo, o bar dos sargentos da CCS 
dos Cavaleiros do Norte



Outubro de 1974  foi tempo de saída do Fernando Viana, furriel de Zalala, punido pelo comandante Almeida e Brito porque, à boleia pata Carmona, no Quitexe, estava com a boina na mão. Nada lhe valeu ser filho de um capitão do Exército. Até por isso, na opinião do  nosso comandante, «tinha de dar o exemplo». Foi para a Sanza Pombo. 
O bom do Mota Viana também não foi em querer favores e assumiu o castigo sem constrangimentos. Seguiu a sua vida e, tanto quanto sabemos nos dias de hoje, de nada está arrependido.
O mês, valha a verdade, foi pouco simpático, em termos de disciplina. O Livro da Unidade regista 12 castigos, que variaram entre os 15 dias de prisão disciplinar agravada e os dez dias de detenção. Foi o tempo, também, da minha participação do nosso popular Buraquinho, que, na Ordem de Serviço nº. 114, foi «galardoado» com 10 dias de prisão disciplinar, agravada no Comando de Sector do Uíge, para 30 dias de prisão disciplinar agravada.
Outros castigados foram, em graus e por razões diferentes,  os 1ºs. cabos Pinho (CCS), Barata (3ª. CCAV.) e Victor Marques (2ª. CCAV.) e os soldados José Santos, Américo Gaiteiro e João Marques (CCS), José Guerreiro (2ª. CCAV.), António Silva e Joaquim Carvalho (3ª. CCAV.). 
A foto de hoje mostra-nos um homem e um cão. E o que terão a ver com os Cavaleiros do Norte? Pois bem, o homem é o nosso alferes Cruz (que dispensa apresentações) e o seu cão Ois do Casal de Palmeiró. Casal de Palmeiró é a sua casa de Santo Tirso. Ois (da Ribeira) é a localidade de Águeda onde, todos os dias, é actualizado este blogue Cavaleiros do Norte. Está tudo explicado.


2 919 - Tempos de calma para os Cavaleiros do Norte

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Cavaleiros do Norte em banho africano. Foto cedida por Zaida, filha do falecido 1º. cabo 
Simões, de Santa Isabel. Quem ajuda  identificar estes companheiros? Eram 
tempos de calma, os de há 40 anos. Bem piores os de um ano depois (título abaixo)



Outubro, dia 27 de 1975. O dia da independência de Angola estava cada vez mais próximo, mas não paravam as confrontações. A leitura do Diário de Lisboa deste dia dá conta que «Sá da Bandeira é terra de ninguém» e que, a norte, o MPLA tende a controlar a área do Caxito,«depois da grande ofensiva desencadeada (...) na passada 5ª.-feira». O dia 23 de Outubro.
«Os mercenários da FNLA tiveram de recuar para posições que neste momento se situam nas proximidades da Fazenda, portanto a cerca de 10 quilómetros do Caxito», relata o Diário de Lisboa do dia. indicando também que «a descompressão da zona é evidenciada pelo facto de as FAPLA terem autorizado os jornalistas da deslocarem-se de novo a frente do combate» - o que estava proibido desde há 3 dias.
Por cá, no mesmo dia. a Escola Prática de Cavalaria anunciava a prisão de vários militantes da LUAR, na Azambuja, Almeirim, Alpiarça e Cartaxo. Milhares de panfletos do MDLP, assinados por Alpoim Galvão, anunciavam «a derrota do comunismo e a hora da libertação», apelando também à «mobilização contra as forças da FUR».
Um ano antes, pelo Quitexe, tudo ia bem mais pacífico. Rodava um filme por todas as unidades do BCAV. 8423, começando no Clube da vila, a 10 de Outubro e até 23  passando por Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel e Vista Alegre - projecção «completada em actividade orientada para as populações», com nova projecção no Quitexe, no dia 29.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação 
de Angola. Braço armado do MPLA.
- MDLP. Movimento Democrático de Libertação de Portugal.

2 920 - A Frente Norte, por onde andaram os Cavaleiros do Norte

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Estrada do Café, de Carmona a Luanda, no Úcua. A placa de Piri (em baixo), terras por onde passaram os Cavaleiros do Norte e onde, há 39 anos, MPLA e FNLA terçaram armas. Fotos de Carlos Ferreira, CN de Zalala, em Dezembro de 2012


A 28 de Outubro de 1975, o Diário de Luanda, em despacho para o Diário de Lisboa, noticiava que "a situação político-militar do país (Angola) sofreu alterações importantes nas últimas 24 horas". Na parte que mais interessaria aos Cavaleiros do Norte (ao tempo, já em Portugal), na chamada Frente Norte, dava conta o jornal, todavia, que "a situação está praticamente estacionária junto ao triângulo Libongos-Caxito-Barra do Dande".
"Assiste-se, neste momento, a uma descompressão militar, dado o recuo das forças invasoras para a linha Sassa-Caxito", relata o jornal, sublinhando, porém, que "prossegue o avanço das FAPLA, com o objectivo de desobstruir a estrada Caxito-Úcua-Piri, que serve o coração da 1ª. Região Político -Militar do MPLA". Úcua e Piri, na chamada estrada do café e até onde os Cavaleiros do Norte evoluíram, em patrulhamentos. 
As "forças mercenárias", como o jornal identificava a FNLA (e quem a apoiava), estavam "incapazes de prosseguir na sua ofensiva" para Luanda e, assim "lançam, agora, raids a partir do Ambriz, para defenderem o material pesado e as unidades que se encontram no terreno de luta".
Pior iriam as coisas nas Frentes Centro e Sul, onde aconteciam ferozes combates diários. O MPLA tomou Cela, no Huambo, e avançavam na estrada Lobito/Nova Lisboa - ocupando Lumbabe, a 30 kms, de Alto Hama. Por lá tinha passado eu, em Setembro de 1974 e Abril de 1975. Na Frente Sul, o MPLA cercou a FNLA e a UNITA em Sá da Bandeira
A France Press, em despacho do mesmo dia, de Londres, referia que"o MPLA assumirá o poder e proclamará a independência de Angola a 11 de Novembro, devendo a soberania portuguesa cessar na véspera". Quem assim falava, em nome do MPLA, era Paulo Jorge, Secretário para as Relações Exteriores do movimento de Agostinho Neto.
Por cá, o major Vargas Cardoso, do COPCON, declarou que«o RALIS podia ter evitado a destruição da embaixada de Portugal», Nicolae Ceausescu, presidente da Roménia, chegava a Portugal para uma visita, a primeira de um chefe de Estado de um país socialista, ficando hospedado no Palácio Nacional de Queluz. E foi divulgado que o general António de Spínola havia negociado um fundo internacional de 250 mil dólares para apoio à preparação de um golpe de Estado, estando a ITT entre as empresas envolvidas na criação desse fundo. 




2 921 - A FNLA a emitir pela rádio de Carmona

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Santa Eulália, quartel e pista, em 1973 (foto de Jorge  Oliveira). O Rádio Clube do Uíge, em 
Carmona,  frente ao Cinema Moreno, de onde, muito provavelmente, emitia a FNLA,  há 39 anos



A 29 de Outubro de 1975, desci da fábrica e passei por Águeda, para ler a imprensa da tarde. Não era tão rápida, como hoje, a informação, e a leitura dos jornais vespertinos era a melhor forma de ter alguma actualização sobre o que se passava em Angola. Estávamos a 13/14 dias da independência e não havia forma de achar notícias de Carmona. Apareceram na edição do Diário de Lisboa desse dia.
«Na Frente Norte, há a registar o recuo da formas mercenárias do ELNA e zona de confrontações no triângulo Barra do Dande-Caxito-Libongos. Dada a contra-ofensiva desencadeada pela forças populares, as forças mercenárias abandonaram as suas posições naquela zona, tendo-se retirado para posições próxima do Ambrizete. Inclusive, as forças que possuíam no Ambriz foram igualmente concentradas naquela região", reportava o jornal, comummente conhecido como afecto às posições do MPLA. 
Esta retirada, porém, poderia significar «o reagrupamento de efectivos», dado que, e continuo a citar o DL, «as forças mercenárias sofreram pesadas perdas em homens e material de guerra». Ontem mesmo, adiantava o jornal, «após violentos combates na 1ª. Região Militar (do MPLA), as forças mercenárias deixaram no terreno dois blindados zairenses e os seus ocupantes». 
As linhas de confrontação situavam-se, por essa altura, pela zona de Santa Eulália e havia já, notava o DL,«unidades das forças regulares localizadas em Camabatela» - que fica(va) muito perto do Quitexe.
Aparecerem, finalmente, notícias de Carmona: 
«A rádio dos mercenários, localizada em Carmona, capital da província do Uíge, para esconder as pesada derrotas sofridas na frente do Caxito, anuncia que os mercenários retiraram porque tinham de poupar o povo, que já não tinha comida em Luanda, nem água». Por mercenários entenda-se, na linguagem do MPLA, as forças da FNLA e quem a apoiava.
«Foi a UPA/FNLA que enviou água para Luanda, em aviões da Cruz Vermelha, para que o povo não morresse de sede», escrevia do Diário de Lisboa, por despacho do Diário de Luanda, dando voz à rádio que emitia a partir de Carmona. 

2 922 - Graciano P. Queijo, clarim, faleceu há um ano!!!

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Graciano Purificação Queijo, soldado clarim da CCS, faleceu há um ano, a 30 de Outubro de 2013. Festa de anos Lar Padre Tobias, de Samora Correia, que o acolheu. Outra imagem de festa, em baixo, no mesmo Lar


Há notícias do Graciano, que foi clarim dos Cavaleiros do Norte, no Quitexe da nossa saudade e na Carmona das nossas epopeias. Graciano da Purificação Queijo!! Um nome original, tão original que nunca se me varreu da memória, embora perdendo o titular de vista, desde 8 de Setembro que, em 1975, nos fez adeus em Lisboa.
Do Graciano, lembro bem o ar humilde, o sentido de cumprimento de dever, o ar sereno como ouvia os graduados e cumpria tarefas. Como, com zelo, dava uma mão na cozinha do Quitexe, indo além das suas obrigações de clarim! Faleceu a 30 de Outubro de 2013 e dele agora soubemos pormenores de uma vida que não lhe sorriu, lhe foi até madrasta, mas mais feliz nos últimos anos. Quando, afinal e tragicamente, a doença lhe minou a saúde e a vida.
O Graciano nasceu a 28/09/1952, em Vilarelhos, concelho de Alfândega da Fé, e de lá partiu para a tropa, fazendo-se Cavaleiro do Norte em Santa Margarida, nos primeiros dias de 1974. Voltou de Angola e fez-se à vida. Solteiro continuou (tanto quanto se sabe) e não se sabe se tinha filhos. Trabalhou na construção civil e foi parar a Samora Correia, há já largos anos. Uma irmã, disseram-nos, vivia por perto. 
Um acidente de trabalho limitou-o bastante, fracturando-lhe as pernas. Deixou de poder trabalhar e o alcoolismo «matou-lhe» qualidade de vida. Durante algum tempo, chegou a viver em situações habitacionais muito precárias. Em 2002, tinha 50 anos, começou a ser apoiado pelo Centro Bem Estar Social Padre Tobias - que lhe fornecia refeições. Passou a fazer a sua higiene pessoal na instituição (uma vez que a habitação não o permitia).
Recebeu rendimento social de inserção durante algum tempo e foi feito um trabalho de recuperação, por todos os técnicos do concelho  - nomeadamente da Câmara Municipal de Benavente, Segurança Social e CBES Padre Tobias, de Samora Correia.  Frequentou consultas de alcoologia e deixou de consumir, denotando-se uma melhoria na sua qualidade de vida.
Tendo em conta a precariedade da habitação, foi integrado em lar, em 2009. E antecipadamente reformado,  por invalidez.
Em 2011, foi-lhe diagnosticado um tumor no esófago, tendo sido seguido no IPO de Lisboa. Foi operado e realizou quimioterapia e radioterapia. Mais tarde, surgiu novo tumor na laringe - ao qual não resistiu. Faleceu a 30 de Outubro de 2013!
Era uma personalidade conhecida e querida na freguesia e a sua permanência no Lar de Samora Correia foi marcada pelo bom relacionamento com funcionários e utentes. É esta a última imagem que fica, deste nosso companheiro. RIP!
- GRACINDO. Gracindo da Purificação Queijo, soldado 
clarim da CCS do Batalhão de Cavalaria 8423. Era natural de 
Vilarelhos, concelho de Alfândega da Fé.

2 923 - Últimos dias de Outubro, os de 1974 e 1975

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A messe de oficiais (seta castanha), a casa dos furriéis) vermelha) e a
secretaria e comando da CCS, em foto recente, captada na net. 
O comandante Almeida e Brito (em baixo)


A 29 de Outubro de 1974 - passaram-se agora 40 anos! -, «um grupo de 6 elementos armados da FNLA» apresentou-se no Quitexe, dizendo-se «pertencentes ao quartel da Aldeia e comandados pelo sub-comandante João Alves». Contactaram o comandante do BCAV. 8423, o tenente-coronel Almeida e Brito, e a autoridade administrativa do Quitexe, com vista«ao esclarecimento de actividades na Serra Quibinda, que julgavam ser das NT, mas que facilmente se concluíram ser de elementos estranhos».
O Livro da Unidade dá «o maior relevo» a este acontecimento, mas conclui que «o objectivo desses elementos estranhos era certamente criar um clima de desconfiança local, entre a FNLA e as NT».
Um ano depois, a poucos dias da independência de Angola, iam as coisas bem piores. As FAPLA tinham «as suas forças concentradas nas Frentes Norte e Centro» - Caxito e Nova Lisboa -, e recuaram na tentativa de tomada da Sá da Bandeira e Moçâmedes, onde estavam a FNLA e a UNITA, apoiadas, segundo o Diário de Lisboa de 30 de Outubro de 1975, em despacho do Diário de Luanda, «por forças do ELP e sul africanas».
«Mantém-se grave a situação», referia o  despacho do vespertino lisboeta.
A 31 de Outubro, hoje se fazem 39 anos, prenunciava-se «um fim de semana decisivo». Militarmente, as FAPLA desenvolviam acções de guerrilha à volta de Moçâmedes e Sá da Bandeira, com «ampla participação da população». Forças do ELP e da África do Sul, diz o jornal, «constituindo uma ponta de lança dos fantoches da FNLA e da UNITA, parecem tentar um avanço sobe o Lobito, em duas colunas, uma localizada na estrada marginal e outra pelo interior». 
Não há referências directas ao Norte e a Carmona, ou outras terras por onde passaram os Cavaleiros do Norte. O Comissariado Político do MPLA,em Luanda, dava conta que «não se registaram alterações assinaláveis nas  nas últimas 24 horas».
Decisivos eram os passos diplomáticos e políticos do MPLA, a poucos dias da declaração de independência. Preparava-se a Cimeira de Campala, convocada por Idi Amin, o presidente do Uganda, e o partido de Agostinho Neto queria, obviamente, captar apoios.
- NT. Nossas Tropas.
- ELP. Exército de Libertação de Portugal.

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