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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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2 006 - Rui Correia de Freitas, do «A Província de Angola»

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Cabeçalho do jornal diário «A Província de Angola», em 1974. 
O proprietário e director de então, Rui Correia de Freitas (em baixo)


Victor Correia de Freitas, familiar de Rui Correia de Freitas, que foi proprietário e director do jornal «A Província de Angola», reagiu ao post «2004 - Turismo e notas falsas em Nova Lisboa», no qual é citado.
Assim:
«Toda essa história de Rui Correia de Freitas, foi inventada pelo governo português da época, e que mesmo no que diz respeito ao 28 de Setembro, foi mais uma aldrabice inventada pelo pulha Rosa Coutinho, que o tendo convidado oficialmente, e em nome do presidente Spínola, como um dos representante dos brancos de Angola, viagem que Ruy começou mas que regressou de imediato, no mesmo avião da ida, e que quando chegou a Luanda, começou a ser perseguido pelos tugas...
Há muito para contar e muito está mal contado, mas só quero dizer que, em 1927, meu avô António Correia de Freitas foi preso durante 5 anos para Cabo Verde, por escrever na «Província» que Angola precisava de ser independente!...
Nunca fomos a favor do antigo regime de Salazar, sofrendo sempre ameaças e acções que nos limitaram, mas tão pouco fomos colaboradores com a escória de traidores comunas que substituiu o regime salazarista». 

2 007 - A morte do tenente João Eloy Mora

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O tenente Mora, de oficial dia, os furriéis Neto e o Viegas  (este
 de sargento dia), na avenida do Quitexe, em  frente à secretaria da CCS (1974)

O tenente Mora faleceu há 21 anos, a 21 de Abril de 1993, vítima de doença, em Lisboa, onde residia - na Lapa. Aos 67 anos.
Oficial de carreira, 2º. comandante da CCS dos Cavaleiros do Norte, tornou-se incontornável no quotidiano quitexano e imortal na nossa saudade - pela forma, que respeitosamente recordamos, de exercer a sua missão angolana. Também pelo comportamento, por vezes atípico, sempre, porém, senhorial, cerimonioso e afectuoso, com que fez nossa a sua (também dele) jornada africana de 1974/75.
O tenente Palinhas, assim o baptizámos nós - com respeito (sem dúvida), mas por vezes também com excessiva irreverência -, era daquelas pessoas que, se não existissem, teriam de ser inventadas. Militarista, de alto grau, exigia a palada de continência em qualquer circunstância. Não a batêssemos nós - às vezes por descuido, outras de propósito... -  e, ai, ai..., não escaparia batê-la ele a nós, de tacão a apertar os calcanhares, pescoço levantado e mão direita a esticar os dedos, espalmados, de ar garboso, sério e impenetrável. Sem ter de o fazer, entrou na escala de oficiais de dia (como se vê na foto) e, numa noite, na hora da mudança da luz, faltando a do aquartelamento (até que se ligasse a do gerador, coisa de poucos momentos...), imaginou um ataque e atirou-se  a rastejar na avenida do Quitexe.
“Sabotagem!!!...”, gritou ele.
Não era sabotagem alguma, ou coisa que se parecesse!!! Era assim todas as noites e passou algum tempo para que se convencesse do contrário. Só depois que reabriram a iluminação, a partir do gerador da xitaca.
Era assim o tenente Mora, que era casado com uma senhora indiana, de pose nobre mas relação distante com a guarnição do BCAV. 8423. Cerimoniosamente, tratavam-se por você! Coisas deles!
A 8 de Setembro de 1975, despedimo-nos no aeroporto e não mais nos vimos. Seguiu ele a carreira militar e sei que faleceu a 21 de Abril de 1993, de doença. Ontem se passaram 21 anos. O tempo passa mas não deixa esquecer.
Aqui registamos a lutuosa efeméride, em memória de um Cavaleiro do Norte que é imortal na nossa saudade!

Ver AQUI
- MORA. João Eloy Borges da Cunha Mora, tenente do 

SG e 2º. comandante da CCS dos BCAV. 8423. 
Faleceu a 21 de Abril de 1993, em Lisboa.

2 008 - Últimos dias do Lobito e suspensão das eleições

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Vista aérea da baía do Lobito, em 1974 (em cima, foto da net). 
Viegas em férias, com o porto da cidade ao fundo, em Abril de 1975

A 23 de Abril de 1975, eu e o Cruz andávamos no gandaio turístico por Lobito e Benguela, e Catumbela, onde ele tinha família e eu o amigo Zé Ferreira.
Por lá andámos alguns dias, espraiando-nos nas areias brancas da restinga ou nas esplanadas bem refrescadas de apetitosas sombras e saborosas bebidas e demos, até, uma saltada à SBELL (Sociedade de Bebidas Espirituosas do Lobito, Limitada), produtora local  de wiskyies e outras bebidas da família. Visita bem vivida e melhor regada!!!
A restinga e as douradas areias das praias, eram aperitivo que tornava insaciável o nosso olhar sobre os corpos de ébano, esguios, desnudados, apetitosos, que as serpenteavam e nos «fugiam» da mão, do olhar e do querer de cio das nossas jovens idades. Belos dias, os do Lobito!!! Belas mariscadas nos sítios que o Zé Ferreira nos descobriu, excelentes gastronomias saboreadas em restaurantes de fama, ou mesas da família do Cruz.
A pressa, há 39 anos, era já, porém, a de chegar a Luanda, onde queríamos estar no dia 25 de Abril, o dias das primeiras eleições depois da revolução - as da Assembleia Constituinte.
Por Luanda, o que se anunciava era a compra de dois Boeing 730-200, para a TAAG, que seriam entregues em Janeiro ou Fevereiro de 1976. E um contrato com a mesma Boeing, de 17,3 milhões de dólares, para melhorar o controlo do tráfego aéreo nos 10 aeroportos de Angola.
Pior, bem pior, era a possibilidade, lançada por Agostinho Neto, de serem canceladas as eleições marcadas para Outubro, antes da independência. O presidente do MPLA falava em Dar-es-Salam (na Tanzânia) e lembrava que ainda não estava aprovado o projecto de lei eleitoral, apresentado pelo seu movimento/partido que, sobre isso, exigia«promulgação do Governo de Transição».
Neto, na capital tanzaniana, falou também dos últimos incidentes. 

“Em vez de nos alvejarmos uns aos outros, em vez de usarmos a violência, poderíamos discutir os nossos problemas”, disse Agostinho Neto, oferecendo-se para participar numa reunião com os presidentes Holden Roberto (FNLA) e Jonas Savimbi (UNITA). Há 39 anos!
- TAAG. Transportes Aéreos de Angola.

2 009 - Adeus a Vista Alegre e troca de prisioneiros

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Vista Alegre, onde se aquartelou a 1ª. CCAV. 8423 (1975). 
Em baixo, Úcua, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Ferreira)



A véspera do 24 de Abril de 1974, lá por Santa Margarida, foi vivida nas calmas. Acabada a instrução da tarde, lá fomos nós no SIMCA 1100 do Neto, até Abrantes, para um panqueca de frango no churrasco. Um ano depois, foi a vez de eu e o Cruz voarmos do Lobito para Luanda, num avião da TAAG - que nos pregou um susto, quando passámos no céu de Catete, a´«cair» um poço de ar. 
O mesmo dia de há 39 anos (1975) foi o último da 1ª. CCAV. 8423 em Vista Alegre e Ponte do Dange, rodando para o Songo. A 21, aqui estivera o capitão José Diogo Themudo (2º. comandante), preparando a mudança. O mesmo dia em que, sem êxito, se tentou uma troca de prisioneiros, no Úcua - decidida pelo Gabinete Militar Misto. Ainda por lá andaram, por Úcua, os Cavaleiros do Norte da 1ª. e da 2ª. CCAV.´s 8423, dos capitães Castro Dias (os homens de Zalala que jornadeavam por Vista Alegre e Ponte do Dange) e José Manuel Cruz (os de Aldeia Viçosa).
Ao tempo e a partir de Carmona, procurava-se «obter a tal calma aparente e o entendimento entre todos os movimentos» e, por consequência disso,«encontrar soluções para todos os problemas, através de reuniões semanais». Eram estas, segundo leio no Livro da Unidade, «o primórdio do Estado Maior Unificado». Foi de uma delas, a de 22 de Abril de 1975, que se decidiu o patrulhamento a Úcua, para, cito o LU, «fazer-se a troca de prisioneiros».
Já em Luanda, mas a 24 de Abril desse já distante 1975, eu e  o Cruz descemos do TAAG, no aeroporto, e fomos parar à baixa, para uma jantarada no Paris Versailles, com o Rebelo Carvalheira do «A Província de Angola». Guerra? Mas quais guerra?!

2 010 - O 25 de Abril de 1975 dos Cavaleiros do Norte

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Viegas na praia da ilha de Luanda (em 1975) e partidos 
que concorreram (a 25 de Abril) às eleições Constituintes do mesmo ano


A 25 de Abril de 1975, realizaram-se as eleições para a Assembleia Constituinte, nas quais não votámos (eu e o Cruz), nesse dia a vadiar pro Luanda, já nos cabeceiros das nossas angolanas férias. Foi dia de almoçar no Amazonas, com o Albano Resende (o meu conterrâneo civil), que depois nos deixou na ilha, foi à vida dele e voltou, ao final da tarde, para uma mariscada no Barracuda. Vida boa!
Por Carmona, os Cavaleiros do Norte foram a votos, para a Assembleia Constituinte. O BCAV. 8423, «dando colaboração ao processo revolucionário de Portugal», encarregou-se da montagem das assembleias de voto e «verificou-se a ida às urnas de todo o pessoal que o quis fazer». Para tal, como leio no Livro da Unidade, «realizaram-se palestras orientadoras» a 16 e 23 de Abril e, a 24, «já no âmbito das comemorações do 25 de Abril, mais uma outra palestra, orientada por oficiais do CTC e BCAV. 8423, ambos delegados do MFA».
A 25 de Abril, «em cerimónia simples mas singela, realizou-se o içar da Bandeira Nacional, com as melhores honras militares e a presença de todos os oficiais do CTC e Batalhão de Cavalaria 8423». Assim foi o 25 de Abril de há 39 anos! 
- CTC. Comando Territorial de Carmona.

2 011 - Desactivação de Aldeia Viçosa e a Constituinte

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Aldeia Viçosa, aquartelamento da 2ª. CCAV. 8423. Foto de Carlos Ferreira, em Dezembro de 2012. Comandante Bundula (FNLA), captães Cruz e Fernandes e alferes Machado (em baixo)


Aos 26 dias de Abril. de 1975, hoje se completam 39 anos, aconteceu a saída definitiva da tropa portuguesa de Aldeia Viçosa, onde os Cavaleiros do Norte tiveram aquartelada a 2ª. CCAV., comandada pelo capitão José Manuel Cruz.  Lá tinham chegado a 10 de Junho de 1974.
Desactivada Aldeia Viçosa, refere o Livro da Unidade que podia «afirmar-Se que só a partir desta data se completou a remodelação do dispositivo, que se julga ser a última, até ao terminar da comissão». A 24, lembremos, a 1ª. CCAV. (a de Zalala e do capitão Davide Castro Dias) abandonara Vista Alegre e Ponte do Dange, indo para o Songo (com um Destacamento em Cachalonde). A 3ª. CCAV. do capitão José Paulo Fernandes, continuava no Quitexe.
Continuar, continuávamos eu e o Cruz por Luanda, já em final de férias e curiosos pelos resultados das eleições da véspera, para a Assembleia Constituinte. 
«O PS à frente» e«Grande maioria para os partidos de esquerda» era como titulava o Diário de Lisboa de faz hoje 39 anos. Ao tempo, a rapidez de contagem dos votos não era a de hoje, mas o jornal de Ruella Ramos (conotado com  esquerda) indicava que o PS teria eleito 73 deputados, conta os 45 do PPD (o actual PSD). Seguiam-se, na projecção, o PCP (com 21), o CDS (7) e MDP (2), sem que os outros partidos elegessem deputados, pelos dados desse dia. 
Tinham sido contados  4 733 666 votos e  ainda faltavam 651 freguesias. Os resultados finais seriam conhecidos dias depois. Os seguintes:
- PS: 116 deputados. Entre eles, eleitos por Aveiro, os meus conhecidos Carlos Candal, Cal Brandão (advogados) e Manuel Santos Pato (engenheiro), este de Águeda. E Manuel Alegre, o poeta, por Coimbra.
- PPD: 80. Meu conhecido, era o advogado Sebastião Dias Marques, aqui da vizinha vila de Eixo. Veio a ser Governador Civil de Aveiro.
- CDS: 16.
- PCP: 30.
- MDP/CDE: 5.
- UDP: 1.

2 012 - Adesão do BCAV. 8423 ao MFA

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Santos e Castro, Governador Geral de Angola a 25 de Abril de 1974 (a vermelho) 
e Soares Carneiro (que o substituiu (a amarelo). Notícia sobre o 25/A, em Luanda (em baixo)



A 26 de Abril de 1974, «todo o Batalhão se sentiu como parte integrante do Movimento das Forças Armadas» - como se lê no Livro da Unidade. Era sexta-feira e, estando previsto fim de semana ao pessoal, o comandante Almeida e Brito reuniu oficiais, sargentos e praças para «explicar o que o MFA pretendia» - em palestras especificamente orientadas para esse fim.
Explicou e não recordo nenhuma reacção especial dos futuros Cavaleiros do Norte, que tinham «datas de embarque marcadas para fins de Maio e princípios de Junho», tal qual veio a acontecer. 
Íamos para Angola! Como estaria Angola, por esse tempo?
Recorro-me do Diário de Lisboa, para citar o vice-comandante chefe interino das Forças Armadas, general Francisco Rafael Alves, que à data ainda não tinha conhecimento oficial da revolução de Lisboa e fez saber que «as Forças Armadas que prestam serviço em Angola têm, como é natural, uma missão a cumprir, no teatro de operações onde actuam».
«No comando-chefe, não foi recebida no dia 25 corrente, nem no de hoje, dia 26, até às 18 horas, qualquer comunicação oficial sobre os acontecimentos das metrópole e que, por via dos órgãos de comunicação, tem vindo a ser difundidos através de noticiário apropriado às circunstâncias e ao progressivo desenvolvimento dos factos ocorridos», lia-se no comunicado assinado por Francisco Rafael Alves.
O Governador Geral Santos e Castro (foto à esquerda), de seu lado, recebeu uma nota de demissão da Junta de Salvação Nacional, às 23,30 horas de 26 de Abril. «Amanhã, sábado, às 12 horas, entregarei o Governo Geral de Angola ao encarregado do Governo que me foi indicado, o excelentíssimo secretário geral», comunicou Santos e Castro - pai do agora deputado Ribeiro e Castro (CDS/PP).
Soares Carneiro era o futuro candidato a Presidente da República, então tenente coronel e que desde Novembro de 1972 exercia essas funções, exactamente com Santos e Castro. Neste ano de 1972, era governador do distrito da Lunda e major de patente militar.

2 103 - Comandante no Quitexe e férias a acabar

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A Casa dos Furriéis, no Quitexe. No mesmo edifício, à direita, era a secretaria. Ao fundo, do lado esquerdo, vê-se a torre da capela. O capitão José Paulo Fernandes e o 1º. sargento Marchã (em baixo)

A 28 de Abril de 1975, eu e o Cruz preparávamos as malas para voltarmos a Carmona. Lá se iam ido as férias, depois da uma rota angolana que nos levou ao sul e a sítios de que hoje, passados 39 anos, sinto imensa saudade. Onde gostaria de voltar! 
Savimbi tinha chegado a a Luanda no sábado anterior, dia 26, e, vagamente, víramos a sua chegada a um hotel perto da Portugália. Apelou a uma cimeira entre UNITA, MPLA e FNLA - que, disse, «ter a certeza de reduzir a tensão entre os três movimentos de libertação». Da parte do seu, a UNITA,  anunciou que, caso ganhasse as eleições, formaria um governo de coligação. Estivera dias antes reunido com Agostinho Neto, em Lusaka, mas não quis dizer do que falaram.
Em Luanda, não sabíamos, mas estávamos em véspera de graves incidentes na cidade. Que iria afectar a nossa partida para Luanda.O recolher obrigatório estava marcado para as 21 horas.
Os Cavaleiros do Norte, em Carmona, viviam a necessidade de controlar, ou apaziguar, as diferenças entre FNLA e MPLA. Houve necessidade, lê-se no Livro da Unidade, de «fazer intervenção a conflitos diversos», como o que, no diz 13 desse Abril de 1975, implicou uma corajosa intervenção do alferes Meneses Alves - que de resto, lhe valeu um louvor.
A 28 de Abril de 1975, o comandante Almeida e Brito, na continuação das suas visitas às subunidades, esteve no Quitexe, onde aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes. Já lá estivera dois dias antes, neste caso com o capitão José Paulo Falcão (o oficial adjunto).


2 014 - Adeus às férias e incidentes em Luanda

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Cartaz com os três presidentes: Holden (FNLA), 
Savimbi (UNITA) e Neto (MPLA). O Hotel Katekero (em baixo) 


A 29 de Abril de 1975, comigo e o Cruz prontos para o voo aéreo para Carmona, Jonas Savimbi reafirmava em Luanda, de arma pendurada no ombro e ladeado por dois seguranças armados, que era «imperativa a  cimeira entre os três movimentos de libertação angolanos, antes de ser demasiado tarde». A iminência de uma guerra civil, para ele, era«uma impossibilidade prática», visto, como frisou, «cada um dos movimentos saber que, de desencadeasse uma guerra civil, teria de enfrentar os outros dois movimentos». Além disso, «nenhum dos vizinhos está interessado nisso».
As forças militares dos três movimentos de libertação disse Jonas Savimbi, deveriam, ficar integrados «numa força verdadeiramente nacional», o mais depressa possível. E nem precisaria de ser um grande exército, «visto não precisarmos de um exército desse género». As intenções pareciam boas, mas sabemos agora que não seria bem assim.
Rosa Coutinho, antigo Alto Comissário, citado pela jugoslava Tanjug, punha achas para a fogueira, denunciando «a influência estrangeira em Angola».«Todos os dias - disse o almirante - um movimento recebe assistência do vizinho Zaire». Referia-se, obviamente, à FNLA - presidida por Holden Roberto, cunhado de Mobutu.
«Trata-se de uma ingerência directa nos assuntos de Angola, o que dificulta o processo de descolonização. Se podemos dizer que há dois movimentos de libertação que se comportam como tal, existe um que se comporta como movimento invasionista, constituindo a ponta de lança do Zaire", disse Rosa Coutinho. Referia-se à FNLA. 
Luanda a 29 de Abril de 1975, continuava com recolher obrigatório e as noites, vistas do alto do Katekero, eram uma panóplia de fogo de guerra. Morteiros rasgavam os seus céus e faziam lutos e dores onde caíam. O tiroteio era indiscriminado, ouvíamo-lo de dentro do Katekero, soando lá de longe - sem se saber de quem e contra quem era. À boca fechada, falava-se por Luanda que estaria para descarregar um barco jugoslavo, atracado no porto e supostamente com armamento para o MPLA
Ao fim da tarde do dia 29, numa reunião da Comissão Nacional de Defesa, Johnny Eduardo, Primeiro-Ministro da FNLA e membro do Colégio Presidencial, declarou que «pedia desculpas por não poder assistir à reunião dado que a guerra recomeçara e que era hábito os dirigentes da FNLA, estarem junto das suas tropas nesta situação».
Cito Rubellus Pertinnus:«Acabou por permanecer, desferindo ataques cerrados aos dirigentes do MPLA que estavam presentes e responsabilizando-os pelo que estava a acontecer e que, aparentemente, não tinha explicação plausível. Lopo do Nascimento, Primeiro-Ministro do MPLA e membro do Colégio Presidencial tinha sido substituído pelo secretário de estado do Interior, Dr. Henrique Santos (Onambwé de seu nome de guerra), que se limitou a afirmar que «o tiroteio se generalizou sem que alguém possa precisar a sua causa e origem; acrescentou ter ouvido tiros um pouco por toda a parte incluindo o disparo de morteiros, em especial nos bairros Prenda e Operário, que se as populações, mulheres e crianças se lançaram contra a caserna do ELNA no Operário, por suporem que era dali que tinham partido os tiros de morteiro". (...)».
A reunião foi às 126 horas, quando eu e o Cruz já nos preparávamos para voar para Carmona. Não chegaríamos lá. Ver AQUI

2 015 - Tiros de morteiro e canhão em Luanda

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Sede da FNLA na Avenida do Brasil (de data incerta). Título do Diário de Lisboa 
sobre os incidentes da 29 de Abril de 1975. O dr. Custódio Pereira Gomes (em baixo)

As razões do «volta-atrás» do avião que nos levaria de Luanda a Carmona, no fim da tarde de 29 de Abril de 1975, vinham ao outro dia explicadas na imprensa. O Diário de Lisboa, de que nos socorremos, titulava «Tiros de morteiro e canhão em Luanda». A cidade, reportava o jornal, «acordou ao som do tiroteio». Durante a manhã de hoje (dia 30) «registavam-se ainda diversos incidentes, que ultrapassavam já os .limites dos musseques». Chegavam às avenidas do Brasil (onde ficava a sede principal da FNLA) e dos Combatentes (onde estava a messe de sargentos das Forças Armadas Portuguesas. 
«Pode dizer-se que Luanda não dormiu. Os disparos de morteiros, os tiros de canhão, as rajadas de armas automáticas e de metralhadoras pesadas perfuraram a serenidade e o sono dos habitantes da capital angolana», acrescentava o jornal, que citamos, em despacho a partir de Luanda. Era quarta-feira e os incidentes vinham já desde a segunda - primeiramente envolvendo FNLA e MPLA (o que nem era novidade...), mas depois também entre a UNITA e a FNLA, na noite da véspera, quando o avião levantou da pista e a ela voltou, a «fugir» da metralha que rasgava os céus de Luanda.
O povo, na manhã de 30 de Abril de 1975, fazia bichas às portas das padarias e as ambulâncias percorriam a cidade, em direcção aos hospitais. Admitia-se que o número de mortos chegasse às várias dezenas.
Nós, finalmente de regresso a Carmona, fizemos conversa, no avião, com o dr. Custódio Pereira Gomes - que lá era advogado e professor. Ao tempo, era viúvo da professora Maria Augusta Tavares, que não conheci mas era minha conterrânea. Conheci-o (a ele) na véspera, precisamente quando o avião voltou para trás e, furando o recolher obrigatório, fomos a um bar perto da Maianga, à procura de comer.
Ver AQUI

2 016 - A chegada a Carmona e incidentes de Luanda

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O BC12m visto do lado de Carmona. O bloco da direita, foi residência dos furriéis nos primeiros dias de Agosto de 1975 (foto de Jorge Oliveira). Aerograma de Alberto Ferreira (de faz hoje 39 anos)




A 1 de Maio de 1975, já estava  em Carmona, onde, como leio no Livro da Unidade, havia «permanentes quezílias entre os três movimentos (...), dia a dia tendendo a aumentar».  Não era coisa que não fosse expectada. «Uíge, a bem ou  mal. terá que ser a terra da FNLA e, consequentemente, não será bem aceite no seu solo qualquer outra opção política», explica o Livro da Unidade.
O Neto, o Machado, o Mosteias, o Pires, o  Monteiro, outros..., logo nos fizeram o reporte da situação carmoniana: patrulhamentos constantes (nomeadamente nocturnos), segurança reforçada no BC12 e espaços militares dispersos na cidade (o comando da ZMN, as messes...), as estações de rádio. «Isto é tudo fictício, mas permite manter-se a calma, o que não é mau...», sentenciou o Machado, que era furriel e mecânico de armamento - um dos mais veementes de todos nós.  
Tinha eu chegado de Luanda e era de Luanda que recebia já notícias do Alberto Ferreira, o meu amigo cabo especialista da Força Aérea, de quem nos tínhamos despedido a 29, deixando-o na casa da prima dele: «A situação cá por Luanda continua a merda de sempre, mas agora mais mais cheirosa. Quase não preguei olho de 20 para 30. Isto após vocês me deixarem em casa», escreveu ele (ver na imagem), acrescentando que«as coisas estão sérias de mais. Com fogo daquele, é para assustar mesmo!». 
A capital continuava a fogo, a morte e desassossego, com dores que, saindo dos musseques já entrava na cidade mais urbana e por lá iam, espalhando lutos.

2 017 - «IAO» em Santa Margarida e 100 mortos em Luanda

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Regimento de Cavalaria 4, em Santa Margarida (2010) e rádio-telegrafista, alferes 
Lains dos Santos e furriéis Plácido Queirós e Américo Rodrigues, no IAO (Maio de 1974




A 2 de Maio de 1974, em Santa Margarida, onde os Cavaleiros do Norte de preparava para a cada vez mais próxima partida para Angola, «foi decidida a realização dos exercícios de instrução operacional». Era a derradeira prova de formação e preparação técnica e militar, marcada para «decorrer entre 3 e 10 de Maio». 
Há precisamente 40 anos!!!! 
As datas de embarque «estavam marcadas  para fins de Maio e princípios de Junho». Já não faltava assim tanto e o 25 de Abril tinha sido dias antes.
Um ano depois, já em Angola, as autoridades portuguesas, em Luanda e na noite de 1 de Maio de 1975, apelaram à ordem, após os dois dias de lutas entre movimentos rivais, que tinham, segundo o Diário de Lisboa, «causado, segundo se julga, mais de duas centenas de mortos e feridos».
As autoridades reuniram com os três movimentos e, pouco depois, a  FNLA, pediu aos seus partidários para«cessarem imediatamente as hostilidades». O presidente do MPLA, Agostinho Neto, aconselhou os militantes do partido «a evitarem qualquer acção ofensiva». A UNITA, pela voz de Jonas Savimbi, insistia que o seu movimento «não tinha estado envolvido na luta» e pediu aos seu partidários que «mantivessem a disciplina».
A 1 de Multidão de residentes dos bairros mais atingidos - brancos, na maioria, mas também negros -, dirigiram-se em manifestação para o palácio do Governador, para protestar a destruição das suas casas. «Homens de olhar desvairado contava cenas de violência, durante os incidentes», relatava o Diário de Lisboa, em despacho da Reuters. Tinha perdido familiares, amigos, vizinhos e bens.
Continuava  o recolher obrigatório.

2 018 - Alegre em Lisboa e nós em Santa Margarida

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Manuel Alegre e Piteira Santos, em foto do Diário de Lisboa (em cima). 
A Mata do Soares, nos arredores de Santa Margarida (em baixo)


A 3 de Maio de 1974, os Cavaleiros do Norte entraram em Instrução Altamente Operacional (IAO), na Mata do Soares, pelas bandas de Santa Margarida. As quatro companhias do Batalhão de Cavalaria 8423, até ao dia 10, exercitaram-se «já com autonomia, com vista a pô-las a viver à semelhança, embota ténue, daquilo que iria ser a sua vida no Ultramar», como refere o Livro da Unidade.
O espaço em que nos instrucionámos é (mais ou menos) o que se pode ver na imagem de baixo.
Na véspera, chegou a Lisboa Manuel Alegre, meu conterrâneo da Rua de Baixo, vindo de Argel - onde tinha feito afronta ao governo português, nomeadamente através da Rádio Portugal Livre. Era militante da Frente Patriótica de Libertação Nacional e chegou ele e Piteira Santos. À saída do aeroporto, estava gente de Águeda, que lhe «dispensou gestos de carinho sintetizadas no cartaz» que dizia «Águeda continua em festa», como reporta o Diário de Lisboa.
Alegre foi levado em ombros e afirmou que «sou um militante que faz poesia por razões políticas». Foram recebidos na Cova da Moura, onde alguns oficiais disseram já conhecer Manuel Alegre, ora de o ouvir da Rádio Voz da Liberdade, a de Argel, ora de Angola - onde Alegre tinha sido oficial miliciano.
Em Angola, a Assembleia Legislativa mantinha-se em exercício, por ordem da Junta de Salvação Nacional. Noutra ordem, estava em processamento a libertação de presos políticos, embora, segundo o DL, se desconhecessem exactamente os critérios a seguir. Alguns, já tinham sido libertados.

2 019 - O Encontro da CCS dos Cavaleiro do Norte

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Alferes Cruz, o Miguel e o Monteiro e o Viegas, a 22 de Março, na 
Lomba. Em baixo, o mapa que ajuda a chegar à Lomba de Gondomar


Os Cavaleiros do Norte da CCS vão reunir a 31 de Maio, na Lomba do Gondomar. 
A organização é do Miguel (soldado condutor), com apoio do alferes Cruz e a maioria da malta já recebeu a mobilização. «Assinalaremos o 40º. aniversário da nossa partida para Angola». disse o agora engenheiro reformado e ao tempo alferes miliciano mecânico auto - o António Albano Cruz.
Chegar lá não é difícil. Localizando-nos na AE1, apanha-se a A29 na zona de Espinho e procura-se o Canedo (da Feira), Daqui, à Lomba é um instantinho e sempre pela mesma estrada.
Quem vier do norte, pode ir pela A1 e pelo mesmo destino, se for pala Ponte da Arrábida. Se for pela o Freixo, apanha a A32, pela placa que diz Oliveira de Azeméis e lá vai parar ao Canedo e à Lomba.
Não tem que saber!
Os contactos são fáceis:
- Miguel Ferreira:  telefones 255 762 522 e 912939130.
- António Albano Cruz: 252 866 865 e 966 828 841.
Portanto, só falta mesmo é a malta inscrever-se, para mais uma jornada que nos levará uma juventude inesquecível das nossas vidas.

2 020 - Carmona a ver e Luanda com 1 000 a morrer...

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Rua do Comércio, em Carmona. Muitas vezes, entre Maio e finais de Julho de 1975, por ali tivemos de andar de olhos bem abertos e sentidos bem apurados. Em baixo, furriéis da CCS: António Cruz, Cândido Pires, Luís Mosteias (falecido). Francisco Neto, José Pires e Nelson Rocha 


Carmona, pelos primeiros dias de Maio de 1975, continuava uma cidade minimamente pacífica, se esquecermos os regulares conflitos armados entre a FNLA e o MPLA - palmo a palmo, a discutirem território, que cada qual chamava mais seu que do outro!
«Parecia que o fim tácito de vários anos de guerra, em Angola, traria com consequência situações de acalmia em todo o seu território, procurado os diversos movimentos emancipalistas, através da ideologia política e social que defendem, fazer enraizar nas populações esses seus ideais e, daí, com maior ou menor facilidade, conduzir-se-iam as suas acções no decurso do processo de descolonização», leio no Livro da Unidade.
Pois, sim...
Avisado, ia o comandante Almeida e Brito, quando alertava a guarnição para possíveis incidentes na cidade, Para estarmos atentos e seguros. E a verdade é que os patrulhamentos urbanos passaram a a ser um problema. E perigoso! Embora nada que se parecesse com Luanda.
Aqui, a 5 de Maio de 1975 (há 39 anos!!!!) a imprensa noticiava que ainda vigorava o recolher obrigatório e que,. leio no despacho do DL: «Centenas de refugiados estão albergados nos liceus e estabelecimentos de ensino superior, onde foram, organizados centros de socorro». A Força Aérea transportava para Luanda refugiados de outras regiões de Angola.
«Até ontem - referia o Diário de Lisboa de 5 de Maio de 1975 - tinham entrado nas morgues 500 cadáveres». «Julga-se, no entanto, acrescentava o jornal, que «o número total de vítimas dos últimos acontecimentos, deve elevar-se a cerca de um milhar».

2 021 - Cavaleiros de Zalala vão jornadear em Fátima

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Zalala, a  mais rude escola de guerra. Casa dos Cavaleiros das 1ª. CCAV. 8423, em 1974.
Em baixo, a Quinta do Casalinho, em Fátima, onde vão "aquartelar" no dia 1 de Junho de 2014 


Os Cavaleiros do Norte de Zalala vai encontrar-se a 1 de Junho, na Quinta do Casalinho, em Fátima. A 1 de Junho de 2014, precisamente 40 anos depois do seu embarque para Luanda, no avião dos TAM, a partir do aeroporto de Lisboa.
A 1ª. CCAV. 8423 era comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias, com os alferes milicianos Mário Jorge Sousa (operações especiais), Pedro Rosa, Carlos Sampaio e Lains dos Santos (ariradores de cavalaria). 
Os quadros incluíam o 1º. sargento Fialho Panasco e os furriéis Barreto (enfermeiro),Nascimento (alimentação), Manuel Dinis Dias (mecânico auto), Pinto (operações especiais). João Dias (transmissões) e os atiradores de cavalaria Mota Viana, Barata, Queirós, 
Rodrigues, Victor Costa, Eusébio, Louro, Velez e Aldeagas. Por lá passou, também, o Évora Soares (chegado em Outubro de 1974).
A memória já nos faz evocar alguns deles, falecidos por doença: o 1º. sargento Panasco e os furriéis  milicianos Dinis Dias, Barata e Eusébio.
O Dias organiza e recebe inscrições pelo telefone 96 255 12 38. Não demorem!!!
A Quinta do Casalinho é fácil de encontrar, lá por Fátima. Tem os telefones 933262436 e 249530299, o fax 249530200 e o email info@quintadocasalinhofarto.com




2 022 - Cavaleiros de Santa Isabel em Castelo Branco

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Fazenda de Santa Isabel, onde se aquartelou a 3ª. CCAV. 8423 (em cima). 
Flora e Belo, em baixo, os organizadores do encontro de 2014
Os Cavaleiros do  Norte de Santa Isabel vão festejar os 40 anos da partida para Angola no dia 7 de Junho, em Castelo Branco. A «ordem de operações» está a cargo dos ex-furriéis milicianos Flora e Belo, que são daquelas bandas.
Diz o Flora, do alto da sua capacidade organizadora, sempre segura e certa, que «não pode faltar nenhum dos camaradas ex-militares e respectivas famílias e amigos». Pois que não falte um Cavaleiro do Norte da 3ª. CCAV. 8423!
O encontro, nesse dia, está marcado para as 10,30 horas, junto ao Hotel Tryp Colina do Castelo, próximo do castelo de... Castelo Branco
A ementa é farta: Porto, vermutes, vinho branco e tinto da região, cerveja, sumos, refrigerantes, água mineral, enchidos regionais assados, presunto fatiado,mini-tarteletes recheadas, mini Vol-au-Vents, canapés variados, rissóis de camarão, croquetes de carne, pasteis de bacalhau e secos de bar (caju, amendoim e batata chip). Chega para entradas? Então,. to,em lá a ementa do almoço, o dito cujo: creme de espargos aveludado, bacalhau à biscaínha, pá de porco assada com maçã e batatinha, mesa de frutas e doces variados. Para molhar a boca, podem dar queda a vinhos brancos e tintos Alto Tejo. E umas águas, refrigerantes e cerveja, antes do café.
Não faltará o bolo comemorativo e espumante!

As inscrições devem ser feitas até ao dia 25 de Maio, junto do
- FLORA: António Pires Flora
  Rua Domingos Bontempo, 162 - r/c - 1685-186 Famões
  Telefones 2193256442 e 9199 377 67
  antonioflora@netcabo.pt

- BELO. Agostinho Pires Belo
  Rua de S. José. 11 - 6000-621 Retaxo
  Telefones 272 989 343 e 965403733.
  agostinhobelo@hotmail.com.



2 023 - As três tendência políticas de Angola...

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Campo Militar de Santa Margarida. O Destacamento do BCAV. 8423 seria (?) o que 
está assinalado a verde. Em baixo, a primeira página do Diário de Lisboa de faz 
hoje precisamente 40 anos, a falar de Angola



A 8 de Maio de 1974, faz hoje 40 anos, interessava-nos alguma coisa saber do que se passava em Angola? Claro que interessava: o nosso embarque era dali a dias e o Diário de Lisboa dava-nos conta que por lá existiam “três grande tendências políticas”, como se pode ver no título da edição desse dia - avidamente lida no bar dos cabos milicianos do RC4, em Santa Margarida, uma semana depois do 1º. de Maio que encheu as grandes praças portuguesas. O primeiro após o 25 de Abril.
O jornal reportava que uma delas apontava para as negociações imediatas para a independência, negociada com os três partidos/movimentos (a FNLA, o MPLA e a UNITA). Outra, para uma independência branca, tipo Rodésia - o que Costa Gomes já teria recusado, em declarações feitas em Lisboa e Luanda. Uma outra, a terceira, queria reunir colonos de tendência liberal e dissidentes dos movimentos - e teria,  até, apoio do Governo da República de Angola no Exílio (GRAE), que se dizia ser uma emanação da UPA (a FNLA). Um seu dirigente teria estado já em Lisboa, em reunião com a Junta de Salvação Nacional
O povo angolano, esse mantinha-se na expectativa. Continuavam as operações militares no território (e que nos esperavam) e a PIDE/DGS tinha sido transformada em Polícia de Informação Militar.
Nós, futuros Cavaleiros do Norte, lá pelo RC4 e em dia de A Bola, preparávamos uma noite de folga, para uma manhã de instrução e uma viagem de fim de semana - logo depois de almoço. Contava-se o tempo para o embarque - já marcado para 27 de Maio.

Já agora, uma curiosidade desportiva: o ciclista Joaquim Agostinho ganhara na véspera (e era notícia do dia) a 14ª. etapa da Volta a Espanha, entre Oviedo e Cangas de Olis, subindo ao terceiro lugar (era quinto). Fez os 134 quilómetros em, 3 horas, 38 minutos e 16 segundos.

2 024 - Problemas no Uíge denunciados em Lisboa

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Nito Alves (foto) viria ser acusado de liderar um golpe de Estado, em 1977, 
e supostamente assassinado e atirado ao mar. As suas declarações de há 39 anos (em baixo) 


Estamos a 9 de Maio de 1975 e, lá por Carmona, andamos avisados de«podem haver problemas». A tropa portuguesa, os Cavaleiros do Norte, com as Forças Mistas, «manteve permanente patrulhamento nos centros urbanos e nos itinerários». E iam surgindo problemas, ora com militares e militantes dos movimentos, ora com a população - nomeadamente e branca.
Ao mesmo tempo, em Lisboa (na Casa de Angola), Nito Alves fazia alarmantes declarações: «Impossível o cumprimento dos Acordos do Alvor». O então comandante e dirigente do MPLA, «sem ilusões», apontou o dedo à FNLA,«aliada à reacção europeia instalada em Angola» e, falando do (nosso) Uíge, afirmou que «a situação é particularmente delicada e grave».
«Está a realizar-se no Norte de Angola toda uma operação de captura, uma operação de enforcamento, por parte do ELNA, contra militantes do nosso movimento. Há outra situação extremamente grave em Angola: é a ofensiva que, a nível governamental, as forças da reacção resolveram montar», disse Nito Alves.
Esta ofensiva, segundo ele,«procurava «bloquear a acção dos ministérios controlados pelo MPLA, com especial incidência o da Comunicação». Em Angola, afirmou, «os jornalistas honestos não podem  informar». Radical, apontou «única saída, uma luta armada prolongada, contra o inimigo, tal qual aconteceu no Cambodja e no Vietname»
Isto sublinhou Nito Alves, «a menos que o Alto Comissário Português, general Silva Cardoso, o Governo Português e particularmente o MFA, assumam posições firmes na defesa do cumprimento do Acordo do Alvor».

2 025 - O papel de arbitragem da tropa portuguesa

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Título do Diário de Lisboa de 10 de Maio de 1975, há 39 anos,
 sobre a situação em Angola. Em baixo, o ministro da Economia, 
o português Vasco Vieira de Almeida 

O papel de arbitragem atribuída a tropa portuguesa, nos conflitos entre os movimentos de libertação de Angola era prioritário, mas difícil. Por Carmona, onde regularmente se reuniam os vários comandos (e o Gabinete Militar Misto), ainda as coisa se iam entendendo, com mais rusgas menos escaramuças, mas era cada vez mais notória a dificuldade em conciliar interesses... inconciliáveis.
«Viu sempre as suas actividades mal aceites, quando que nos suscitem quaisquer dúvidas quanto à sua isenção», leio no Livro da Unidade.
Pior iam as coisas por Luanda e outras localidade da imensa Angola.
O Governo Português, ante a emergência, propôs uma nova cimeira. As declarações de Nito Alves e as graves confrontações entre a FNLA e a UNITA pareciam não deixar saída, quando à necessidade da Cimeira, «sob pena de se assistir ao desencadear de uma guerra civil, ou até até à intervenção militar internacional». Assim pensou a Comissão  Nacional de Descolonização, presidida por Costa Gomes e reunida em Lisboa.

Paralelamente, na mesma Angola, o plano económico do ministro Vasco Vieira de Almeida era aceita pelos três movimentos. O ministro (português) dos Assuntos Económicos do Governo de Transição propusera um plano que "elimina todos os vestígios do colonialismo» e visando o estabelecimento de «uma maior justiça social e uma maior intervenção do Estado nos aspectos mais amplos da economia». Tinha o aval de MPLA, FNLA e UNITA e seria para «continuar depois de descolonização». 
As indústrias de defesa seriam nacionalizadas. As industrias estratégicas, a banca e os seguros seriam controladas (a 51%) pelo Estado Angolano. As pequenas e médias empresas não seriam afectadas e o plano não excluía o investimento estrangeiro, nem as companhias multinacionais - que teriam garantias governamentais para operarem em Angola. O ministro, invocando que o Governo não funcionava, viria a demitir-se em Agosto do mesmo ano 1975).
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