Quantcast
Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
Viewing all 4156 articles
Browse latest View live

1 966 - Dias «cavaleiros do norte» de há 39 e 40 anos!

$
0
0
Militares da CCS no refeitório do Quitexe. À direita, o Gaiteiro (o primeiro), seguido do Serra, de NN e do Aurélio (Barbeiro). A olhar, de frente e de bigode, aqui em baixo, o Monteiro (Gasolinas) e a seguir o Cabrita. O sétimodeste fila é o Florêncio. E os outros, quem os identifica?

«Só com o povo no poder pode haver democracia. Se não for assim, será como no tempo do colonialismo», disse Agostinho Neto, a 13 de Março de 1975, em Luanda. 
O presidente do MPLA falava na sua primeira conferência de imprensa em território angolano, longe, obviamente, dos holofotes e do conhecimento dos Cavaleiros do Norte, que assentavam arrais por Carmona e por lá iam sentindo as passas amargas de serem a última guarnição militar portuguesa.
Um ano antes, por Santa Margarida, era continuada a instrução militar que os preparava para Angola e, ao mesmo tempo, o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas dava conta de três militares mortos em Angola, todos do recrutamento local: 
1 - Daniel Calembo, natural de Sambo (Vila Nova).
2 - Justo Chama, natural de Bailundo.
3 - Jonas Chiambo, também natural de Bailundo.
Em Luanda, no porto, deu-se um singular acidente: o cargueiro brasileiro «Cabo Orange» colidiu com o português «Congo», no momento em que atracava. De seguida, abalroou o sueco «San Blas», que estava a cerca de uma milha, a transbordar carga.  O «Congo» ficou com a murada da proa virada para dentro, enquanto o cargueiro brasileiro ficou com parte do castelo danificado. Já o sueco ficou bem pior, com um buraco em V, a apenas 15 centímetros da linha de água.
O que é que isto tem a ver com os Cavaleiros do Norte?
Bom, não tem nada, na verdade. Mas era, ao tempo de há 40 anos, a nossa forma de nos irmos integrando na próxima vida africana de Angola. Lido isto, agora, até tem a sua piada.  

1 967 - Hostilidade em Carmona e mortos em Luanda

$
0
0
A Casa dos Furriéis e a secretaria da CCS, no Quitexe. À esquerda, ainda se 
vê a esquina da messe de oficiais e, mais atrás, a torre da capela. 
À direita, parte da casa de João Garcia, em tempo anterior à
 passagem dos Cavaleiros do Norte. O aeroporto de Carmona (em baixo)



Aos 14 dias de Março de 1975, os Cavaleiros do Norte continuavam a sua adaptação à cidade de Carmona, a partir do BC12 e também do edifício do comando da ZMN. 
As rondas de PM foram-nos dando um conhecimento mais próximo e real do sentimento hostil que nos era votado. E, por isso, não era raro termos de intervir em pequenas «escaramuças», que opunham civis (de todas as idades e raças), principalmente a militares da baixa patente.
Há 39 anos, fomos ao aeroporto, por causa do correio (SPM), e chegou a imprensa de Luanda, com notas sobre os incidentes da véspera. Que desconhecíamos.
E o que fôra? O que acontecera?
Graves incidentes resultaram em 20 mortos, entre militares do MPLA e da Facção Chipenda. Para além de muitos feridos, incluindo civis. A notícia indicava  que tiveram início da madrugada, quando militares do MPLA cercaram a Delegação Chipenda.
O Comité Central do movimento de Agostinho Neto teria tido conhecimento da chegada de material de guerra para o grupo que considerava ilegal e combatia. E resolver actuar, cercando as instalações dos homens de Daniel Chipenda. Não teriam intenção de atacar, vá lá saber-se, mas segundo um comunicado do movimento, os «chipendas» abriram fogo e os «mplas» responderam, estabelecendo-se um tiroteio que se prolongou por toda a manhã.As instalações ficaram, depois, à guarda da tropa portuguesa.
O Governo de Transição era mais objectivo no seu comunicado, sublinhando que «cerca das três horas da madrugada do dia 13, as FAPLA levaram a efeito um ataque às instalações do grupo armado de Chipenda, em vários locais da cidade». Acrescentava que «destas acções resultaram baixas cujo número ainda  não é possível fixar-se»
A foto do Quitexe 
é de Jesus Vieira

1 968 - O 15 de Março na história dos Cavaleiros do Norte

$
0
0

Militares do PELREC nos patrulhamentos mistos: Messejana (falecido), 
José Neves, Soares, Albino Ferreira (?) e Armando Gomes (?). 
Atrás, Vicente (falecido), Viegas (furriel), Francisco e Leal (falecido).
Jovem de 18 anos violada e assassinada no Quitexe (em baixo)

Março de 1974, dia 15! É dia de Inspecção da Instrução Operacional do Batalhão de Cavalaria 8423, feita pelo coronel tirocinado Lobato Faria, Inspector da Região Militar de Tomar. O PELREC sai do aquartelamento para a "missão" do dia e o aspirante Garcia, provoca os seus homens, «os melhores», na sua teoria e à sua imagem e semelhança.
O desafio é (foi) chegar ao alto da Mata do Soares, onde está(va) instalado o comando inspectivo. De surpresa, em forma de assalto, como se furtivo, rápido, audaz, felino - tal qual o de 31 de Janeiro, aquando de uma outra inspecção (AQUI). Assim se fez, de novo e ainda com mais perfeição e agilidade, galgando a mata em silêncio de guerreiros. 
Março de 1975, dia 15!
Um ano depois, estamos em Carmona e é dia do aniversário da FNLA. Acontecem os primeiros patrulhamentos mistos - daquele que seria (e nunca foi) o Exército Nacional de Angola, integrando elementos dos três movimentos emancipalistas. A leitura do Livro da Unidade faz recordar que a actividade foi «exclusivamente em serviço de segurança dos locais onde iriam celebrar-se tais comemorações».  
Março de 1961, dia 15!
O norte de Angola foi «varrido» pela revolta independentista, sob bandeira da UPA, a futura FNLA. O Quitexe, que 13 anos depois seria o nosso espaço de jornada, foi uma das vilas-mártires. mas também Aldeia Viçosa, Zalala, Vista Alegre (terras dos Cavaleiros do Norte, Quibaxe, Cuimba, Mavoi, Camabatela, Nambuangongo, Nova Caipemba! E outras! O Negage, Damba e Bungo, Madimba! E muitas, muitas fazendas!
Horácio Caio, no livro «Angola, os dias do desespero», descreve a sua chegada ao Quitexe, a 18 de Março, um sábado: «Quitexe, quatro horas da tarde, uma rua  as matas sufocantes a abafá-la. O cheiro dos mortos, a presença dos mortos a apodrecer, a náusea dos vivos. Imagem do crime. Pulsação apenas, Sangue, sangue, sangue. A terrífica face das casas esventradas, os cadáveres das crianças e das mulheres».  
Esta tarde, o Lito - que por lá passou semanas depois, na primeira Companhia de Caçadores que acudiu de Lisboa, não quis falar do viu e passou.«Nem quero lembrar, pá!...». Mas Horácio Caio, no seu livro, lembra um momento desse dia, na rua de cima, cheia de lama e de mortos, o da chegada de Orlando Traila, de jeep, com olhos de espanto, vermelhos.«Todos mortos no Zalala».
Zalala, onde 13 anos depois estaria a 1ª. CCAV. dos Cavaleiros do Norte. Onde José Martinho, outro conterrâneo, viveu amargos e trágicos dias, numa outra Companhia de Caçadores.
- LITO. Aníbal Gomes dos Reis, soldado 200/61/2416. 
Meu conterrâneo, com quem estive esta tarde a 
falar da sua comissão em Angola.
- MARTINHO. José Gonçalves Martinho, soldado. natural 
de Tarouca, mas conterrâneo pelo seu casamento. Encontrou 
dezenas de mortos na chegada a Zalala, em 1961. 
- FOTO; Foto do livro «Angola - os dias do desesper0, de Horácio Caio 

1 969 - O 16 de Março de 1974...

$
0
0

A coluna da revolta das Caldas, de 16 de Março de 1974, há 49 anos (foto da Revista 25 de Abril)

A 16 de Março de 1974, há anos, foi a revolta das Caldas. Nós, Cavaleiros do Norte, tínhamos precisamente nesse dia entrado em gozo dos 10 dias da Licença das Normas - que antecederiam a nossa  partida para Angola. Era sábado e só à noite, pela televisão, tivemos conhecimento. Eu pelo menos. Ao tempo, a velocidade de comunicação não tinha a ver com os meios de hoje e, por nós, apenas no regresso a Santa Margarida, a 28 de Março, ficámos a saber que alguns dos milicianos da intentona estiveram presos nas instalações que nós (1ºs. cabos milicianos) ocupávamos no RC4, o primeiro pavilhão junto à avenida, do lado do Regimento de Engenharia. 
Leio no Volume 3, de «A Conspiração do MFA», de «Os anos de Abril», na pena de Otelo Saraiva de Carvalho:«Os graduados miliciano - 40 aspirantes, 20 furriéis,  90 primeiros cabos - seguem, sob prisão, para Santa Margarida. onde cegam pelas 2 horas da manhã do dias 17, depois de uma atribulada viagem de seis horas».
Por Angola, no mesmo dia, era anunciado que  Siderurgia Nacional pedira autorização para ampliar as suas instalações do Farol das Lagostas. Propunha-se fabricar 500 000 toneladas de ferro, um forme eléctrico de fusão (60 toneladas) e 200 00 toneladas de aço líquido.

1 970 - A CCAÇ. 4741/74 e pelotão da 1ª. da 4911 nos Cavaleiros do Norte

$
0
0
Mapa doNorte de Angola, destacando-se algumas localidades: o Quitexe (Dange), 
Carmona (Uíge), Sanza Pombo e Santa Cruz. O (furriel) Peixoto, em baixo 


A 17 de Março de 1975, a Companhia de Caçadores 4741/74 e a 1ª. CCAÇ. do BCAÇ. 4911 passaram «a depender operacionalmente do Batalhão de Cavalaria 8423». A 4911, estacionada em Sanza Pombo. Aquela, no Negage, depois de ter assentado arrais em  Santa Cruz, junto à fronteira. Era dela o inesquecível Peixoto, que foi nosso companheiro no Quitexe e em Carmona.
«Apareci na vossa CCS transferido por motivos disciplinares», conta-nos ele, que também passou por Sanza Pombo e lá conheceu o Mota Viana - que, de Zalala, saiu em Outubro de 1974, por razões disciplinares. São conterrâneos de Braga.
Ao tempo, operava-se a retracção das forças militares portuguesas, cada vez mais concentradas em centros urbanos, e o dispositivo militar do Uíge aproximava-se cada vez mais de Carmona. Julgo poder dizer (sem grande erro) que, por esta altura de 1975, já só restariam guarnições em Carmona, Quitexe, Aldeia Viçosa Vista Alegre e Ponte do Dange (com os Cavaleiros do Norte), Songo e Negage. 
E por outros lados de Angola?
Em Cabinda, Nzau Puma, da UNITA, declarava não pôr objecções à adesão da Facção Chipenda no seu movimento. Ou até à FNLA. Holden Roberto, em Abdijan , na Costa do Marfim, por sua vez, comentava que as dissidências do MPLA«deixaram de ser um problema de ordem interna, para ser um problema nacional». Teria, por isso, acrescentou que «ser resolvido de forma fraterna, portanto através do diálogo». E prontificou-se a, pessoalmente,«efectuar diligências, nesse sentido».

1 971 - O adeus ao alferes Hermida e ao furriel Farinhas

$
0
0
Alferes milicianos Ribeiro, Cruz, Garcia e Hermida, à 
porta da messe do Quitexe. O furriel Farinhas (em baixo)

O mês de Março de 1975, entre as muitas coisas que fervilhavam no universo dos Cavaleiros do Norte, foi tempo da saída do alferes Hermida e do furriel Farinhas. Ambos por razões de natureza disciplinar. Ambos boa gente!
Conheci melhor o Farinhas, companheiro de longas e fartas conversas, em tertúlias que se (des)multiplicavam na messe e bar de sargentos, quantas vezes para além do mais razoável, tão intensos eram os argumentos que as entricheiravam. Tinha razões, o Farinhas, que a nossa menor (in)formação política desconhecia e não foi raro que o calor da conversa se estremasse em fronteiras que o levavam a alguns amuos. Coisa de passagem rápida, logo deslaçada nos aperitivos da refeição seguinte, enquanto esperávamos os pratos do Duarte, cozinhados lá para trás do bar e à mesa levados pelo Rebelo - outros dois grandes companheiros.
O alferes Hermida, de transmissões, teve desaguisados com o comandante Almeida e Brito, que, indirectamente, a  ele se refere no Livro da Unidade: «A saída do oficial de acção psicológica do BCAV. 8423 (...) e a sua substituição, fez melhorar o panorama dos trabalhos inerentes àquela função (...)». O oficial de acção psicológica era o alferes Hermida.
Seguiu para o Songo, depois para Luanda e, em Maio já estava em Nova Lisboa. Ainda foi «passar as passas do leste», no Luso - onde conheceu bem o cheiro da pólvora e os dramas da tragédia bélica quer se abatia sobre Angola.
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes 
miliciano de transmissões, da CCS. Engenheiro de formação, foi professor 
de física e matemática. Aposentado, reside na Fogueira da Foz - com a esposa Graciete, 
também professora aposentada e nossa contemporânea no Quitexe.
- FARINHAS. Joaquim Augusto Loio Farinhas,
furriel miliciano sapador, da CCS. Natural de Amarante, 
faleceu a 14 de Julho de 2005, vítima de doença. 

1 972 - Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa

$
0
0
Letras, Costa, Guedes e Gomes (em cima), Rebelo, Martins, Morato e
 Matos (em baixo), furriéis milicianos da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa



A 2ª. CCAV. 8423 concluiu a rotação, de Aldeia Viçosa para Carmona, a 11 de Abril de 1975 - há precisamente 39 anos e uma semana! - e o (ex-furriel) Guedes, que por lá jornadeou desde 10 de Junho de 1974, vem lembrar os «últimos dias»

«A esta distância no tempo, a idade não perdoa e as memórias vão-se esfumando. No entanto, sempre direi que as últimas semanas foram passados com alguma ansiedade, relativamente à data do regresso à metrópole, já que rotação para Carmona era relativizada.
Suspensos os patrulhamentos e os acompanhamentos às colunas civis, até ao Piri, pela Estrada do Café (Carmona/Luanda), pouco mais havia a fazer que umas partidas de futebol, no recinto junto à messe de oficiais, umas idas ao café do Ivo e algumas saídas à sanzala próxima do aquartelamento.
Sabendo da próxima rotação do efectivo para Carmona, lá íamos preparando as trouxas.
Da minha parte, a maior preocupação era como transportar, sem riscos, umas quantas garrafas de Wiskye e outras, a que os oficiais e furriéis tinham direito todos os meses, pagando, claro.
Nem todas foram consumidas em terras de África, tendo as sobrantes viajado até, no meu caso, Moura Morta, no Peso da Régua..
Ainda há dois anos, quando comemorei os 60 de vida, abri uma dessas (Monks), brindando à vida, com os amigos que me acompanharam no almoço.
Mas para além das ocupações supracitadas, também houve tempo para o turismo
».

- GUEDES. António Artur César Monteiro Guedes, furriel 
miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423, a de 
Aldeia Viçosa. Sargento-mor aposentado da GNR, natural de 
Moura Mora. Peso da Régua, em Foros de Salvaterra,
Salvaterra de Magos. 

1 973 - A alguns dias de férias, Holden Roberto e eleições...

$
0
0
Cruz e Viegas, na avenida do Quitexe, frente à messe de oficiais e casa dos Furriéis. 
Atrás, o bar dos praças. Em baixo, Holden Roberto, presidente da FNLA (1975)


Aos 20 dias de Março de 1975, eu e o Cruz já nos apressávamos a dizer adeus (até amanhã...) a Carmona, para as férias que esperávamos há muito tempo. Amigos do peito, da mesa, da conversa e do gosto, que se mantém hoje (39 anos depois....), programámos uma digressão turística por Angola, em vez das convencionais férias no "puto".
Eu, tinha uma mão-cheia de familiares e amigos espalhados por Angola. De Luanda a Nova Lisboa e Gabela. O Cruz, idem, idem, pelo Lobito e Benguela. Acertámos um plano que nos levaria (e levou) a todas essas cidades (e outras), incluindo uma (para nós) histórica viagem no comboio do Caminho de Ferro de Benguela, a partir de Nova Lisboa, e um regresso aéreo a Luanda, para o adeus até... Carmona.
Foi de Luanda que, neste dia de 1975, me chegaram notícias (da véspera), pelo "correio" do meu saudoso amigo Alberto Ferreira: "O Holden Roberto, da FNLA diz que quer ganhar as eleições, li hoje no Diário de Luanda", escrevia o antigo cabo especialista da Força Aérea,  meu amigo de escola e adolescência, que uma brutal doença já levou do nosso convívio.
"O homem - acrescentou ele, no aerograma que releio e então recebi no BC12 - diz que o movimento dele se implanta nas camadas populacionais com sucesso que ultrapassa as previsões". E mais: "Estenderemos a nossa audiência, nos próximos meses, por todo o país".  Era o que dizia Holden Roberto, em Kinshasa, admitindo, todavia, "entrar num governo de coligação totalmente angolano". 
"Tudo dependerá das nossas relações com os ouyros partidos", disse o presidente da FNLA.
Sabe-se, hoje, que não seria bem assim. E assim se ia fazendo a história do país novo.
- CRUZ. António José Dias Cruz, furriel miliciano rádio-montador. 
Natural de Cardigos, é aposentado da Câmara Municipal de Lisboa 
e mora na Póvoa de Santo Adrião.
- PUTO. Designação do Portugal europeu, na gíria militar. 


1 974 - O capitão Themudo e o alferes médico Silva Ferreira

$
0
0
Alferes Machado e capitães Falcão e Themudo na varanda do comando do BC12 (1975)

O mês de Março de 1975, entre outras vidas da vida dos Cavaleiros do Norte, lá pela uíjana Carmona, foi tempo de chegada de dois oficiais, para recompletamento do quadro: o capitão de cavalaria José Diogo Themudo e o alferes miliciano médico Silva Ferreira.
O capitão Themudo foi assumir as funções de 2º. comandante - que não tínhamos desde a véspera da nossa partida para Angola, quando o major Ornelas Monteiro foi requisitado para o Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.
A 21 de Março desse mesmo ano, os Estados Unidos anunciaram um apoio de 600 000 contos a Portugal e o senador Edward Crock viria a Lisboa para «saber como é que uma parte dessa verba seria canalizada para os territórios africanos». 
A 20 de Março de 1974, fomos atordoados com a notícia da morte, em  Lamego, no Centro de Instrução de Operações Especiais (o nosso CIOE), do aspirante a oficial miliciano Pinto,  instrutor de minas e armadilhas e vítima do rebentamento de uma granada de mão. Era natural de Ribalonga - Carrazeda de Ansiães. Tinha sido nosso instrutor (meu, do Neto, do Monteiro e do Garcia, do Pinto e do Sousa, do  Machado e do Letras, do Rodrigues e do Reino) e, do mesmo acidente, faleceu o soldado cadete Victor Manuel Ramires Pereira, que era do Lavradio (Barreiro). Houve 14 feridos.
O acidente tinha ocorrido a 16 de Março, nas imediações do CIOE - em local bem nosso conhecido. Menos de um ano antes, entre finais de Junho e Setembro de 1974, por lá tínhamos feito o mesma instrução de explosivos, minas e armadilhas. As mortes ocorreram precisamente no dia, sábado, em que entrámos, Cavaleiros do Norte, a gozar as licenças de normas - os 10 dias de mobilização.
- THEMUDO. José Diogo da Mota e Silva Themudo, capitão de 
Cavalaria. Atingiu a patente de coronel, aposentado, faz 734 anos 
em Setembro e mora em Lisboa.
- FERREIRA. Carlos Augusto Monteiro da Silva Ferreira, alferes ~
miliciano médico, em diligência na CCS. Pertencia ao Hospital Militar 
de Luanda e julgo morar em Lisboa.

1 975 - Cavaleiros da CCS, a 31 de Maio de 2014

$
0
0
Cruz, Miguel, Monteiro e Viegas (em cima). O rio Douro visto do Restaurante Dom Vicente


Aos vinte e dois dias do mês de Março de dois mil e quatorze, reunidos na Lomba de Gondomar, quatro Cavaleiros do Norte da CCS puseram os «finalmentes» sobre o dia do encontro do ano: 31 de Maio. Dois dias depois dos 40 anos da nossa partida para Angola.
O restaurante tem nome: Dom Vicente. E a vista da zona é espectacular, sobre o rio Douro - como se vê na foto, ali a espreguiçar-se pelo meio das árvores. A paisagem é espantosa e, podemos garantir, a cozinha não se fica atrás. 
O organizador é o Miguel, que pelo Quitexe e Carmona foi condutor e condutor continuou pela vida fora. Nesta função, cruzou-se com o Neto anos a fio - porque ia à fábrica dele em serviço. Eu trabalhava ao lado e não era difícil reencontrarmo-nos. As fronteiras da vida separaram os nossos caminhos mas o Miguel  apareceu no encontro de 2013, em Santo Tirso. Agora, é o organizador. 
Pode ser contactado pelos telefones 255 762 522 e 91 29 39 130. 
Restaurante Dom Vicente:
- Telefone 255 766 475
- Email: domvicente@live.com.pt
- Site: http://restaurantedomvicente.com
- Facebook: https://www.facebook.com/RestauranteDomVicente

1 976 - FNLA à conquista do norte de Angola

$
0
0
Parque-auto: Joaquim Celestino,  furriel Morais, Teixeira alferes Cruz e 1º- sargento Aires. Quem são os dois do rectângulo branco? No amarelo, os «pelrec´s» Alberto Ferreira e 1º. cabo Almeida (já falecido) 

Os dias destes dias do mês de Março de 1975, vésperas das minhas férias (com o Cruz) foram tempo de expectativa sobre os objectivos da FNLA, no norte de Angola - que era o seu grande reduto militar e político. «A FNLA recruta refugiados do Zaire, para as suas fileiras», titulava o Diário de Lisboa de 22 desse mês.
O objectivo era claro: «Ter um exército para ocupar o território do norte (o Uíge dos Cavaleiros do Norte) e apoiar os seus projectos de domínio do Governo de :Luanda». Fazendeiros e certas empresas mineiras, ainda segundo o mesmo jornal, estariam dispostos a financiar tal operação. Até porque, simultâneamente, resolveriam os seus problemas de mão de obra.
A FNLA preparava (desde Setembro de 1974) o repatriamento de angolanos deslocados para o Zaire de Mobutu (havia quem dissesse que seriam 400 000, segundo a ONU, embora a FNLA falasse em muitos mais, em 2 milhões!) e ficavam em campos localizados no Baixo Zaire, Bandulu, Kassai e Shaba, perto da fronteira.  A etapa seguinte passava por as instalar em 20 campos e, mas tarde, já mais divididos pelo território angolano, ao longo da fronteira, em tendas de 7 pessoas. A operação custaria 20 milhões de dólares, financiados por Mobutu (presidente do Zaire), que era cunhado de Holden Roberto (presidente da FNLA).
A guarnição, atenta ao que se passava, vivia a tranquilidade possível, assumindo as responsabilidades da sua jornada angolana e fazendo «encurtar» o tempo em convívios bem participados (como o da foto).

1 977 - A. Brito na ZMN, Themudo no comando do BCAV. 8423

$
0
0
Edifício a Zona Militar Norte (ZMN) e Comando de Sector 
do Uíge (CSU), em Carmona. Comandante Almeida e Brito (em baixo) 


A 24 de Março de 1975, o tenente-coronel Almeida e Brito assumiu o comando interino da ZMN. E o capitão Themudo o do Batalhão de Cavalaria 8423. Também interinamente e substituindo Almeida e Brito. 
O agora coronel aposentado José Diogo Themudo tinha chegado a Carmona dias antes, convidado pelo próprio comandante dos Cavaleiros do Norte a assumir as funções de 2º. comandante. Encontraram-se em Luanda, acidentalmente, e estando vaga a função, acabou por aceitá-la. Estava pela capital angolana sem atribuições, depois de a companhia para que fora mobilizado (em regime de rendição individual) ter regressado a Lisboa.
MPLA e FNLA, na manhã desse mesmo dia 24, há 29 anos, voltaram a envolver-se em tiroteios, que já vinham desde a noite da antevéspera e em bairros suburbanos de Luanda - no Cazenga, no Marçal, Sambizanga e Vila Alice. Já se somavam 11 mortos - dois deles civis - e apesar de, na noite de 23, terem acordado cessar as hostilidades e o regresso dos militares aos seus aquartelamentos, a verdade é que as prolongaram, a partir da Avenida do Brasil.
O tenente-coronel Heitor Almendra, comandante do Sector de Luanda, considerou que a questão era entre os dois movimentos e recusou a intervenção das forças armadas portuguesas. A imprensa de 24 de Junho dava conta da possibilidade de estar em causa o cumprimento do Acordo do Alvor. 
Portugal era, obviamente, parte interessada e para a tarde de 24 de Março foi marcada uma reunião do Conselho de Defesa, presidido por Silva Cardoso - o Alto Comissário de Portugal em Angola.
Assim iam os dias do processo de independência de Angola.

1 978 - Uma viagem a Aldeia Viçosa...

$
0
0
Alferes Carvalho, capitão Cruz, alferes 
Cruz e Periquito. Em baixo, o alferes Capela

O alferes Cruz era o oficial mecânico-auto e, nessa condição, ido da CCS quitexana, andou pelas bolandas de Zalala, de Aldeia Viçosa e Santa Isabel, onde se aquartelavam as três companhias operacionais - comandadas, respectivamente, pelos capitães milicianos Davide Castro Dias (1ª.), José Manuel Cruz (2ª.) e José Paulo Fernandes (3ª.).
A imagem é de uma dessas visitas, logo nos princípios da nossa jornada africana, registada à entrada do aquartelamento da vila uíjana. «Foi uma das primeiras saídas, para observação do parque de viaturas, nalguns casos muito debilitadas», disse o alferes Cruz  - que agora, pela Santo Tirso natal, goza os privilégios da aposentação.
E por Luanda, há 39 anos, como iam os incidentes entre o MPLA e a FNLA, aqui ontem recordados?
Pois bem, os mortos já iam em 20 - 18 militares da FNLA e duas crianças. O Conselho de Defesa, reunido na tarde de 24 de Março, decidiu-se pela ordem de retirada das forças dos dois partidos para os respectivos aquartelamentos e igual medida foi adoptada pelos respectivos Estados Maiores. Patrulhas mistas passaram pelos bairros problemáticos - que ficaram com áreas interditas à normal circulação de pessoas e viaturas. 
No Bairro Cazenga, porém, a 24 de Março de 1975,«ainda se ouviam disparos de armas automáticas e rebentamento de granadas». E o Calemba«foi palco de novos incidentes entre as ELNA e as FAPLA». Registe-se, porém, que «a calma não tem sido perturbada na cidade do asfalto».
- ELNA. Exército Nacional de Libertação 
de Angola, força armada da FNLA.
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação 
de Angola. Força armada do MPLA. 

1 979 - Patrulhamentos mistos em Carmona

$
0
0

Angolanos que se preparavam para formar o exército nacional, eram treinados por militares portugueses e integraram os patrulhamentos mistos, em Carmona (BC12, em 1975). Notícia de incidentes em Luanda (em baixo)



A noite de 26 para 27 de Março de 1975 foi tempo para as forças que se preparavam para formar o futuro exército de Angola fazerem um patrulhamento misto na cidade de Carmona. Ensaiavam-se, refere o Livro da Unidades, «os primeiros passos de actividade operacional em Exército integrado, com os movimentos emancipalistas, a seu pedido e porque se verificou um deteriorar da situação, nomeadamente nos distritos de Salazar e Luanda».
Luanda, onde duas granadas rebentaram nos jardins do Palácio do Governo - sem provocar feridos. «A situação voltou a deteriorar-se na noite de ontem», noticiava a imprensa de 26 de Março de 1975, dando conta de militares da FNLA «a ocuparem posições em cima de prédios» e, nos bairros suburbanos, «a fazerem autenticas rusgas, contra a vontade dos populares».
O dia era o do funeral dos militares da FNLA, para o qual o movimento convidava a população. O alto-comissário Silva Cardoso esteve na delegação da Avenida do Brasil do movimento de Holden Roberto, que na véspera fôra «duramente fustigada pelo tiroteio» e foi recebido pelos ministros Johnny Eduardo e Ngola Kabangu.
O comissário, entretanto e em comunicado, pedia aos movimentos para fazerem recolher as suas forças (aos quartéis) e avisava que «as forças portuguesas, e as forças mistas, actuarão severamente contra os portadores de armas de guerra, cuja presença vem sendo constantemente notada nos últimos incidentes».

1 980 - O regresso a Santa Margarida e a guerra civil em Angola..

$
0
0

Neto, Viegas, Matos e Monteiro no RC4, em Santa Margarida (1974)
Título do Diário de Lisboa de 27 de Abril de 1975 sobre a actualidade angolana



Aos 28 dias de Março de 1974, fechámos malas para Santa Margarida, dando fim ao gozo dos 10 da Licença das Normas - o período que imediatamente antecedia as partidas para as jornadas africanas. Por nós, futuros Cavaleiros do Norte, tínhamos começado a 18 e, por mim, fiz algumas despedidas, muito breves e nada emocionais. Mal sabia: apresentámo-nos em Santa Margarida no dia seguinte, mas a licença «acabou por ser aumentada de tal modo que só a 22 de Abril se voltou a reencontrar todo o pessoal do batalhão».
«Para dar efectivação à instrução operacional», leio no Livro da Unidade.
Um ano depois, a imprensa noticiava a iminência de guerra civil em Angola. A 26 de Março, soldados da FNLA fuzilaram 50 guerrilheiros do MPLA. Pioneiros deste movimento, foram massacrados e dois deles fuzilados. Os hospitais receberam dezenas de feridos. Imagine-se a tensão que levedava na capital angolana. 
«A casa mortuária está pejada de cadáveres, vítimas das acções desencadeadas pela FNLA sobre a população civil», referia um despacho do enviado especial do Diário de Lisboa, acrescentando que «a cidade do asfalto parece imune aos acontecimentos, uma vez que as tropas da FNLA poupam os cidadãos brancos».


1 981 - O dia de 85 anos à Luz de... Acácio!!!

$
0
0

Alferes Ribeiro e Garcia e tenentes Luz e Mora, na 
avenida do Quitexe (1974). Atrás, o edifício do comando

A foto que vocelências, senhores e companheiros Cavaleiros do Norte estão a ver, ali acima, tem quase, quase... 40 anos. Mostra 4 garbosos oficiais do Batalhão de Cavalaria 8423, na avenida do Quitexe e, atrás deles, vê-se o edifício do comando.
O então nosso tenente Luz era rapaz, ao tempo, para um pouquinho mais de 45 anos. Hoje faz, comemora, festeja e dá graças a Deus pelas seus magníficos, vivos, saudáveis e joviais 85!!! É obra!!!
Acabei de falar com ele, soltando (ambos) gargalhadas de prazer, de gosto e de farta  alegria. Não é todos dos dias que se festejam 85 anos e, para mais, com a qualidade de vida do agora nosso (aposentado) capitão Luz. Liguei e logo de disse a filha: «Olhe que ele faz hoje 85 anos!...». E lá me pôs à fala com ele.
O capitão Luz é presença desejada de todos os Cavaleiros do Norte, nos nossos encontros anuais. E não falha um! Esteja onde estiver, venha de onde vier! Já prometeu não faltar no de 31 de Maio, na Lomba de Gondomar. E lá irá ter, a... conduzir!!!
Aqui ficam os nossos renovados e afectivos parabéns!!!
E a 28 de Março de 1975, lá por Carmona, onde jornadeávamos no BC12, como ia a vida?!
Por lá, o tenente-coronel Almeida e Brito, em funções interinas de comandante da ZMN, foi com o capitão Themudo (comandante interino do BCAV. 8423) a Vista Alegre e Ponte do Dange, por onde fazia comissão a 1ª. CCAV., a do capitão Castro Dias! A de Zalala!
E por Angola?
Em Luanda, os três movimentos de libertação assinaram um acordo de cessar fogo, depois dos sangrentos dias anteriores, com a obrigação de, até ao meio dia desse mesmo dia, «cessarem as hostilidades e libertarem todas as pessoas que prenderam nos últimos dias». Com as bençãos dos ministros Melo Antunes e Almeida Santos e do Colégio Presidencial. «Acordo em Luanda para cessar os combates», titulava o Diário de Lisboa de faz hoje 39 anos!
- LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente e chefe da secretaria do BCAV. 8423. Agora capitão aposentado, mora na Marinha Grande.
- MORA. João Eloy Borges da Cunha Mora, tenente e oficial adjunto da CCS. Faleceu a 21 de Abril de 1993, aos 67 anos.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). faleceu a 2 de Novembro de 1979, aos 27 anos. Era de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães).
- RIBEIRO. Jaime Rodrigues Picão Ribeiro, alferes miliciano Sapador. Aposentado, mora no Tramagal.

1 982 - Uma carta de Almeida e Brito, o «velho» comandante!

$
0
0
A CCS reunida em Penafiel, a 27 de Setembro de 1997. 
Rosto da carta do comandante Carlos Almeida e Brito


Andei em «buscas» no sotão, por razões nada blogueiras, e achei uma carta do comandante Almeida e Brito, já general e de Outubro de 1997. Carta a falar de um encontro desse ano, que apenas se realizou a nível da CCS e querendo preparar o de 1999, que, e cito-o, «deverá ser a preparadora da que deverá ser a comemorativa dos 25 anos do nosso/vosso embarque: 1974-1999».
Nada disso viria a acontecer, por razões que agora não vem a propósito, mas dá-se o caso de, neste ano de 2014 que estamos a viver, se completarem 40 anos da nossa partida para a jornada africana de Angola. Por isso, houve quem sugerisse (e foram vários companheiros a portarem a ideia), quem sugerisse a realização de um encontro a nível de Batalhão.
Dei a minha opinião e aqui a torno pública: sendo muito interessante é de complexa organização e absorvente logística. Do meu ponto de vista, basta lembrar que participaram à volta de 400 pessoas no encontro do Barracão, em Leiria (1996). Por outro lado, a afectividade relacional entre os companheiros das 4 companhias é muito auto-limitada a elas próprias. A intimidade mais próxima, a nível de Batalhão, é entre oficiais e sargentos e mesmo estes, obviamente, procuram confraternizar com os seus companheiros de Companhia.
No entanto, se para tal houver vontade, vamos a isso. Já não será este ano, o 40º. da nossa partida para Angola, mas poderá ser no próximo, o 40º. do nosso regresso.
Termino, com palavras escritas do general Almeida e Brito, de 8 de Outubro de 1997: «A ideia é válida, independentemente de quaisquer outras intenções extra às de camaradagem e sentido de dever cumprido, virtudes que temos a obrigação de sentir e que não devemos esconder». Correio que me chegou (e hoje relembro), com «um abraço amigo do «velho» comandante».
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, tenente-coronel e comandante do BCAV. 8423. Atingiu a patente de general e faleceu a 20 de Junho de 2003, subitamente, no decorrer de uma viagem turística a Espanha.
Clicar na imagem da 
carta, para a ampliar.

1 983 - As Amazonas do Norte no Quitexe

$
0
0
  Amazonas do Quitexe: Cruz, Hermida, Oliveira (esposa e filha) e Mora

A imagem de hoje é singular: recorda-nos as Amazonas do Norte do Quitexe! E quem são? Pois, da esquerda para a direita, Margarida Cruz, Graciete Hermida, a esposa e a filha do capitão Oliveira e a esposa do tenente Mora.
Margarida e Graciete, as «mais-que-tudo» dos alferes Cruz e Hermida, davam aulas nas escolas das sanzalas envolventes do Quitexe. Assim como a filha do capitão Oliveira, cujo nome esqueci. Assim como esqueci o da mãe e o da senhora Mora. Tiveram, todas elas, um papel determinante na festa da consoada de 1974 (assim como a Irmã Maria Augusta, irmã do padre Capela).
O bebé que Graciete Hermida tem ao colo é o Ricardo, filho do alferes Cruz. A foto é de data desconhecida, mas seguramente anterior a 2 de Março de 1975, dia da saída da CCS para Carmona. 
A 30 de Março do mesmo ano, eu e o Cruz fazíamos malas para 30 dias de férias e havia notícias da massacrada Luanda, para onde íamos por via aérea. A paz parecia voltar!O MPLA e a FNLA libertaram prisioneiros, mas mantinham rigorosa segurança nas suas sedes.
Mantinha-se o recolher obrigatório (21 horas) e a suspensão de noticiários sobre os acontecimentos que por lá se passavam.
Dois dias antes, a 28 de Março de 1975, a guarnição de Carmona foi reforçada com um grupo de combate da 3ª. CCAV. 8423, por ser  «a sub-unidade que, de momento, tem a sua vida menos sobrecarregada». A razão prendia-se com o facto de os Cavaleiros do Norte estarem «impossibilitados de garantir os serviços solicitados», os quais «comportam(vam) também as necessidades da ZMN».

1 984 - Patrulhamentos mistos em Úcua e... férias!!!

$
0
0
Úcua, estrada do café, em foto de Carlos Ferreira, de Dezembro de 2012. 
Hotel Residencial Katekero, na baixa da cidade, paradeiro de muitas noites luandinas




A 31 de Março de 1975, eu e o Cruz pusemo-nos em voo para Luanda, para os apetites de férias amgolanas e com programa que nos iria levar ao centro e ao sul de Angola. 
Voámos para uma cidade onde se temia o pior a cada momento, onde a cada momento se receava mais sangue, mais mortes, mais sabe-se lá o quê. A imprensa desse dia, dava conta que o protocolo assinado pelos movimentos, com o Governo Português, tinha sido«violado várias vezes, nas última 48 horas».
O recolher obrigatório tinha sido levantado no sábado anterior (dia 29) e as emissoras de rádio privadas já podiam transmitir notícias. Mas nessa manhã de há 39 anos houve tiroteio na Avenida do Brasil, onde estava instalada uma sede da FNLA. Era para essa Luanda de incertezas que nós partíamos, com base marcada para o Katekero, mesmo na baixa da cidade - já meu conhecido de outras andanças luandinas.
A Carmona que deixávamos preparava-se para tudo, para o que desse e viesse. Os contactos diários com os movimentos geraram uma confiança relativa, que, e cito o Livro da Unidade, «tem sido origem do clima de paz que se vive no distrito». Relação que foi exemplo para outras áreas, nomeadamente para Salazar, Quibaxe e Úcua.
A 31 de Março de 1975, esse tipo de contactos levou a que um grupo da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, e o Esquadrão de Cavalaria 401, fizessem«um patrulhamento conjunto» em Úcua, vila na estrada do café, na direcção de Luanda.
- CRUZ. António José Dias Cruz, furriel miliciano 
rádio-montador. Natural de Cardigos, é aposentado da 
Câmara Municipal de Lisboa e vive na Póvoa de Santo Adrião.

1 985 - A chegada a Luanda, de férias, há 39 anos!

$
0
0
Baía e marginal de Luanda, antes de 1975. 
Foto-legenda do Diário de Lisboa de 1 de Abril de 1975



Luanda lá estava, aberta aos nossos olhos e apetites, quando lá chegámos, eu e Cruz, por agora se passam 39 anos. Íamos de férias e os nossos previsíveis constrangimentos, face à situação de segurança, depressa foram (presumidamente) desanuviados pelo meu amigo Albano Resende, conterrâneo e contemporâneo que por lá fazia vida.«Podem andar à vontade, os problemas, as macas são fora da cidade...», disse ele, galgando a Ferreira de Almeida, pela Mutamba, para a baixo, direitinhos à Portugália.
Não era bem assim!
A leitura da imprensa da cidade, debitava alertas. Citado de memória, recordo um título: «A FNLA acusa das Forças Armadas Portuguesas». Mais grave ainda, a do jornal «Liberdade e Terra», um diário da FNLA, denunciava o exército português por, no Ambriz, ter impedido uma sua coluna de marchar para Luanda. E dizia que as FAP eram as mesmas que tinham sido «o suporte de 48 anos de fascismo e 14 de guerra colonial». 
A legenda da foto, com «um soldado do MPLA a festejar a festejar a vitória sobre os sucessivos das forças armadas da FNLA»é elucidativa. Durante uma semana, lê-se na imagem do Diário de Lisboa de 1 de Abril de 1975, «a ELNA tentou, em vão, ocupar as bases militares e as delegações do MPLA na região de Luanda». 
O ELNA era o Exército Nacional de Libertação de Angola, braço armado da FNLA - que veladamente, no seu jornal diário, criticava as Forças Armadas Portuguesas. Na véspera, registara-se novo tiroteio na Avenida do Brasil e a FNLA prendera Couto Cabral, director dos Serviços de Informação - libertado hora e meia depois. 
A verdade, porém - a nossa verdade ocular... - é que víramos uma cidade tranquila, com os jovens a dirigirem-se para as escolas, as lojas abertas, as esplanadas e restaurantes cheios, as salas de cinemas a rebentarem de gente, a noite luandina a chamar-nos para os prazeres e os cios da alma e do corpo! 
Viewing all 4156 articles
Browse latest View live