Quantcast
Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
Viewing all 4156 articles
Browse latest View live

1 876 - Combates angolanos e amores de toda uma vida...

$
0
0
O MPLA desmentiu o avanço da FNLA, na rota para Luanda, a 18 de 
Outubro de 1975. O dia em que o ex-alferes Carlos Silva se casou na capital angolana


A 18 de Outubro de 1975, já os Cavaleiros do Norte se espraiavam pelos seus chãos natais, regressados à família e aos amigos, depois da jornada africana que (n)os levou ao Uíge angolano. Em Luanda, onde todos os dias eram vésperas da independência, o MPLA negava o avanço da FNLA em direcção à capital e o comandante Júlio de Almeida (Juju) dava conta, em conferência de imprensa, que «os combates que tem oposto a esse exército invasor tem lugar essencialmente em duas frentes»
Uma delas, na linha do rio Dange (a 3ª. CCAV. 8423 teve o último destacamento português da Ponte do Dange), desde a Barra do Dande até Quibaxe (um pouco abaixo de Ponte do Dange e Vista Alegre), pela rota para Luanda que, garantiu, «está sob controlo das FAPLA´s» - assim como Cage, Mukundo e Santa Eulália, entre outras povoações a norte do rio, para os nossos (antigos) lados uíjanos.
A segunda frente, segundo o comandante do MPLA, citado pelo Diário de Luanda em serviço para o Diário de Lisboa, era na província do Quanza Norte, no paralelo de Samba Caju. «A resistência oferecida pelo exército invasor não foi pequena e justifica o elevado número de baixas que tiveram, assim como a perda considerável de material», disse o comandante Juju.
As FAPLA ocuparam Banga, a ocidente de Samba Caju, e ainda nesta zona, na província do Uíge, no nosso Uíge!, «registaram-se nos últimos dias acções de forças invasoras, vindas do Zaire e aquarteladas e Calongo». Em Quinguzu, «mataram e saquearam a população, tendo morto 30 pessoas e aprisionado 20 mulheres, depois de terem enforcado os maridos». A leste de Camabatela, ali tão perto do nosso Quitexe, uma força do exército invasor (a FNLA, com apoio estrangeiro), segundo o comandante Juju, «teve 8 baixas».
O que tem isto a ver com os Cavaleiros do Norte, que então já arrumavam a vida pelas suas terras e gentes?
É que nesse mesmo dia 18 de Outubro de 1975, em Luanda, o (ex-alferes) Carlos Silva deu o nó, enamorado de amores que o prendem até hoje. Depois da desmobilização e de voltar a Angola, ali se consagrou ao casamento, com um «sim» de paixão e fidelidade. Um amor eterno, que aqui saudamos e sublinhamos!

1 877 - Cinema no Quitexe e problemas em Cabinda

$
0
0
O Clube do Quitexe, na estrada do café, que ligava Luanda a Carmona. 
O Comandante Nidozi, com oficiais portugueses (foto do Diário de Lisboa)



Aos dias 4 de Dezembro de 1974, iniciou-se no Quitexe a projecção de um filme, no âmbito do programa de acção psicológica dos Cavaleiros do Norte. Foi no Clube da vila e as projecções estenderam-se às outras sub-unidades - as de Aldeia Viçosa e Vista Alegre (e Ponte do Dange), onde se aquartelavam a 2ª.  CCAV. e a 1ª. CCAV. 8423. E às populações civis dessas localidades.
Ao mesmo dia 4, o comandante interino do BCAV. 8423 esteve no Comando de Sector do Uíge, em Carmona, «estreitando contactos entre comandos». Como por aqui tem sido dito, preparava-se a próxima rotação do dispositivo militar. 
O MPLA, no mesmo dia e pela voz do comandante Nidozi, negava direitos à FLEC, sobre a independência de Cabinda. «Cabinda faz parte de Angola. A questão pode ser discutida em Assembleia do Povo e, se assim for decidido, então Cabinda poderá ser independente», disse, ouvido por Rogério Vidigal, do Diário de Lisboa, disse Nidozi, nome de guerra de David Moisés, ao tempo com 35 anos, desertor do Exército Português, natural de Santo António do Zaire e comandante da 1ª. e da 2ª. Regiões Militares do MPLA.
As actividades da FLEC era consideradas separatistas e Nidozi acusava o movimento de Ranque Franque de «partido fantoche», não ignorando a importância económica do enclave, devido ao petróleo e riqueza das madeiras. E a putativa influência dos Estados Unidos, que denunciou como ligados à FNLA. E esta com o Zaire de Mobutu.
Os Cavaleiros do Norte, esses, mal imaginavam o que se passava por Cabinda e, na terra uíjana, iam cumprindo tarefas e riscando dias no calendário.

1 878 - Futeboladas no Quitexe e Savimbi com Neto

$
0
0
Teixeira (o estofador), Malheiro, Cuba, Marques (Carpinteiro), Pereira (condutor), Gaiteiro e Teixeira (o pintor), atrás. À frente, Monteiro (Gasolinas), Pereira (mecânico), Celestino Silva, Gomes (condutor), Carlos Mendes (bate-chapas) e Miguel. Alguém confirma estes nomes dos «ferrugens»? Em baixo, Agostinho Neto, Rosa Coutinho e Jonas Savimbi

O processo de descolonização de Angola «seguia marcha», mais passo à frente, mais passo atrás, e pelo Quitexe, aos dias primeiros dias de Dezembro de 1974, jogava-se a bola, entre pelotões e sub-unidades. Pelotões como, por exemplo, o da foto - o dos homens do parque-auto, os «ferrugens»!!!
Os rijíssimos prélios eram disputados no campo do Quitexe, pelado e sem grandes condições, na saída para Carmona, e motivavam fartas e óbvias rivalidades, até algumas pequenas quezílias - ou não fosse futebol um desporto de fortes e fartas paixões e, até por via disso, ninguém quisesse perder. Mesmo que os jogos fossem "a feijões".
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, a 6 de Dezembro de 1974, anunciou em Lusaka que se ia encontrar com Agostinho Neto, presidente do MPLA, na semana seguinte, para tentarem«resolver as suas divergências». A iniciativa era do líder do «Galo Negro» (Savimbi) e a Reuters (agência noticiosa francesa) admitia que o encontro «poderá contribuir, de forma decisiva, para a eventual formação de um Governo provisório entre os três movimentos angolanos». Logo, portanto, incluindo a FNLA.
Os dois dirigentes, recordemos, tinham posições diferentes sobre o futuro de Angola e, uns dois meses antes, o MPLA recusara mesmo a hipótese de chegar a acordo com a UNITA - que considerava um movimento conivente como Exército Português. Era, ou não era? Não sei!

1 879 - Vésperas do adeus à Fazenda Santa Isabel...

$
0
0
Fazenda de Santa Isabel, onde se aquartelou a 3ª. CCAV. 8423 (em cima). 
Alferes Ribeiro, Augusto Rodrigues e Almeida, na nesse do Quitexe

A 5 de Dezembro, o capitão José Paulo Falcão deslocou-se a Santa Isabel, onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423 - que de lá completaria saída no dia 10 seguinte, para o Quitexe. Continuava«a retracção do dispositivo» dos Cavaleiros do Norte - que começara a a 19/20 de Novembro, com a saída da CCAÇ. 4145/72, de Vista Alegre para Luanda e a chegada àquela localidade da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala - comandada pelo capitão miliciano Castro Dias.
A de Santa Isabel era comandada pelo também capitão miliciano José Paulo Fernandes e lá chegara a 11 de Junho anterior. Oficiais, eram os alferes milicianos Rodrigues, Simões, Carlos Silva e Pedrosa. E os furriéis Belo (alimentação), Rabiça (enfermeiro), Cardoso (transmissões), Guedes (armamento pesado), Lino (mecânico-auto), Ribeiro, Flora, Fernandes, Ricardo, Carvalho, Graciano, Gordo, Lopes, Capitão e Querido (atiradores de cavalaria), Reino (operações especiais). Na secretaria, «comandava» o 1º. sargento Marchã.
Companheiro de Lamego, fôra o alferes Rodrigues (a meio, na foto), no 2º. turno de Operações Especiais (Rangers) de 1973, há 40 anos. O tempo passa!!! O então cadete, foi 23º. classificado do curso de oficiais milicianos, com a média de 14,78.

1 880 - Palavras do Quitexe e opiniões da Holanda

$
0
0
A messe de sargentos do Quitexe, com os furriéis Norberto Morais e 
António Lopes, da CCS do BCAV. 8423, à frente. Título do Diário de Lisboa (em baixo)

Os dias de Dezembro de 1974 ia sendo riscados no calendário, o Neto já tinha voltado de férias (com rojões de minha mãe) e o Quitexe era um maná de conversas sobre a situação política, muitas delas acesas pela saudade e pelas notícias que nos chegavam de Portugal. A messe de sargentos era o cenário habitual, principalmente nas horas que antecediam almoços ou jantares.
A mim, de Portugal chegavam o Expresso e a edição de 2ª.-feira do Jornal de Notícias, avidamente disputados depois da minha (privilegiada) leitura, a de «dono da bola». Disputados pelos mais «falantes e opinantes»: o Machado, o Mosteias, o Neto, o Morais e o Lopes (foto), o Farinhas, o Pires do Montijo. A messe, valha a verdade, era uma tertúlia muito especial, multicor e multipinião, muito plural, combatente e reivindicativa.
Era via Diário de Lisboa (de 7 de Dezembro de 1974, o de faz hoje 39 anos!) que chegava opinião de Sietse Bosgra, director do holandês Angola Comité de Amesterdão, que, no CIDAC, afirmava que «o futuro de Angola está ameaçado por manobras imperialistas». Denunciava, por exemplo, o comportamento da FLEC, cujo golpe militar recentemente tinha sido abortado e inserindo-o na «situação de perigosidade representada pela influência do imperialismo americano (via Kinshasa e não só) em movimentos como a FNLA e a UNITA».
O mundo a falar de Angola e nós lá, no forno que «cozinhava» a nova nação, a morrer de saudades e cumprindo a nossa missão. Missão reformulada. E a botar opinião sobre quem de Angola falava mas, por vezes, sem saber a realidade viva do território que Portugal emancipava.
- CIDAC. Centro de Documentação 
e Informação Anti-Colonial.

1 881 - A dose cavalar ao paludismo de João Peixoto

$
0
0
Avenida do Quitexe, em 2012, foto de Ivo Bije (net). À direita, a casa de João Garcia, para a esquerda, 
a secretaria da CCS e a casa dos furriéis. Mais à esquerda, telhado claro, a messe de oficiais. Em baixo, o furriel Peixoto


O Peixoto apareceu pelo Quitexe, «mandado» de Sanza Pombo, onde era furriel miliciano da CCAÇ. 4741/74, principalmente formado por açoreanos da Ilha Terceira. Chegou-nos agora à fala, com recados de saudade dos tempos quitexanos. Chegou lá,ido da 4741/74, por razões de natureza disciplinar. 
«Nós, os militares de Abril, já tínhamos uma maneira um pouco diferente de ver a guerra colonial, em relação a "certos comandantes" mais antigos», contou-nos ele, neste Dezembro de 2013 que passa. Em Sanza Pombo, ainda se encontrou com o Mota Viana, da 1ª. CCAV. 8423, ido de Zalala por razão idêntica, em Outubro de 1974. E com ele se encontra vastas vezes por Braga, de onde são ambos são naturais e onde residem. Tal qual o Queirós, também zalaliano. E o Fernandes, de Santa Isabel (da 3ª. CCAV. 8423).
O Peixoto lembra-se de muitos de nós mas particularmente do (furriel) Lopes, o enfermeiro, de quando já estávamos em Carmona, na messe do bairro Montanha Pinto: «Tive uma crise de paludismo e foi ele quem me deu uma dose cavalar de injecções não sei do quê, que fiquei quase paralítico e as minhas "nádegas ficaram num 8", mas foi remédio santo», evoca o Peixoto, saltando forte gargalhada de saudade. E de prazer. Soube-lhe bem recordar estes tempos e estas peripécias! E também a nós.
«Quero deixar um grande abraço a todos os furriéis que privaram comigo, nomeadamente o Neto, o Gordo, o Carvalho, o Viegas, o Abrantes, o Bento, o Capitão, o falecido Mosteias e tantos outros. Tenho óptimas recordações da minha passagem pela vossa CCS, do Quitexe e de Carmona», concluiu o Peixoto.
Salvé, Peixoto!
- PEIXOTO. João Domingos Faria Taveira 
de Peixoto, furriel miliciano. Professor 
aposentado, mora em Braga

1 882 - Aqui se recorda o furriel sapador Farinhas

$
0
0
O Costa e o Farinhas com leituras muito particulares


Os tempos «mortos» do Quitexe eram ocupados com acesas sabatinas políticas, digo eu!!! Por nós falamos, furriéis milicianos, quase todos com um bom palmo de língua para bem acesas e fartamente disputadas tertúlias, que se incendiavam nas notícias que nos chegavam pela imprensa, ou por cartas ou aerogramas de familiares e amigos.
Cabe aqui dizer que, salvo uma ou outra excepções, éramos de uma crueza e ingenuidades políticas que nem vos conto! Mas nada disso nos impedia de rebater argumentos, uns com os outros, puxando sardinha à brasa - ou meramente para nos espicaçarmos ou «chatearmos» uns aos outros, picando a imaginação, o rebate e o verbo!
O Farinhas era um dos, diria, um dos politicamente mais esclarecidos de nós. Recebia o Avante, o jornal do PCP, e nele bebia, e dava a beber, a euforia revolucionária de 1974. Introvertido, silencioso, indiferente quantas vezes à vaga de emoções que varriam a messe e o bar de sargentos, a parada ou os bares e restaurantes da vila, o Farinhas crescia e levedava humores, sempre que se dava a conversa para a política partidária.
Hoje, ao abrir o blogue, achei esta foto recentemente mandada pelo (furriel) Luís Costa, dos Morteiros, e, por ela, aqui quis vir falar do Farinhas, um dos nossos companheiros que já partiu. Com saudade dele e da pessoa que era: um fidalgo, um companheiro e um amigo. Até um destes dias, Cavaleiro do Norte! 
 A 9 de Dezembro de 1974, o MPLA (fundado a 10) preparava a comemoração do seu 18º. aniversário. Em Lisboa, anunciava-se para esse dia a realização de um colóquio na Voz do Operário, sobre a economia da Angola; outro, no dia 11, na sede da Casa de Angola (a organizadora) e  sobre fase pré-colonial da sociedade angolana. Para 5ª.-feira, dia 12, um outro  colóquio, com um elemento do Comité Central do MPLA e para 6ª-.feira, sobre «Aspectos da Medicina Colonial». Sábado, era dia para poesia revolucionária e domingo, finalmente (dia 15), uma sessão de apoio ao MPLA, no Pavilhão dos Desportos. Fazia-se história.
. FARINHAS. Joaquim Augusto Loio Farfinhas. furriel 
miliciano sapador. Natural de Amarante, faleceu a 
14 de Julho de 2005, vítima de doença
Ver AQUI

1 883 - Cavaleiros de Santa Isabel no Quitexe...

$
0
0
O malogrado Quaresma, 1º. cabo de Santa Isabel (em cima). 
Cartaz do aniversário do MPLA (em baixo)


A 10 de Dezembro de 1974, hoje, precisamente, se fazem 39 anos,a 3ª. CCAV. 8423 instalou-se no Quitexe, dizendo adeus definitivo a Santa Isabel - onde a tropa portuguesa «assentava praça» desde 1961/62. Onde os Cavaleiros do Norte tinham chegado a 11 de Junho de 1974, meio ano antes.
A Santa Isabel fui algumas vezes, numa delas para uma saída operacional na madrugada de um dia de Julho/Agosto de 1974, com saída de mata para os lados da Vamba, ou de Zala, ou de Quipedro?, sei lá eu já, varrido da memória. Numa outra vez, no regresso ao Quitexe, fomos apanhados de farto susto, medrado nos sons de tiros à distância, não sabíamos de que armas! Nem de quem!
Os Cavaleiros de Santa Isabel rodaram para o Quitexe e, saída a 1ª. CCAV. de Zalala (a 21 de Novembro), completou-se a primeira fase das mudanças de dispositivo. A CCAÇ. 4145/72 tinham ido para Luanda, entre 19 e 20 de Novembro, dando lugar, em Vista Alegre e Ponte do Dange, aos zalalianos. 
O 10 de Dezembro era, coincidentemente, dia do 18º. aniversário do MPLA e, além das comemorações de Lisboa (de que aqui já falámos e de que hoje mostramos cartaz, retirado do Diário de Lisboa de faz hoje 39 anos), também Luanda se fazia em festa aos anos do movimento de Agostinho Neto.
Em Luanda «a situação está(va) calma» e ir-se-ia realizar uma emissão especial de rádio. Nos bairros populares, «serão projectados filmes sobre a luta da independência, conduzida pelo MPLA» e a JMPLA organizava uma exposição fotográfica. Para o dia 14, o sábado seguinte, estava prevista um comício no estádio de S. Paulo, com presença de António Jacinto, dirigente do MPLA.
O MPLA, fundado a 10 de Dezembro de 1956, resultou  da fusão do Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUA) e do Partido Comunista de Angola, com outras organizações nacionalistas de menor expressão, nascidas os anos 50.
- QUARESMA. Manuel Quaresma da Silva, 1º. cabo 
apontador de morteiros, da 3ª. CCAV. 8423. Era de 
Cacia (Aveiro) e faleceu a 6 de Abril de 2004, vítima de doença.
Hoje o evocamos, 39 anos depois do dia em que também ele
abandonou Santa Isabel e chegou ao Quitexe.


1 884 - Comissão Local de Coordenação Civil-Militar do Quitexe

$
0
0
Neto e Peixoto, meus companheiros de quarto, no Quitexe, em foto da 
 messe de Carmona (1975). Em baixo, o aniversário do MPLA, no Diário de Lisboa

O «solar»dos furriéis do Quitexe não tinham muita gente. Eram o Pires (de Bragança) e o Rocha, no quarto da frente. Estiveram por lá o Pires (do Montijo), o Mosteias e o Farinhas, mais tarde o Abrantes e o Miguel, e havia um quarto vago para os «viajantes» - os furriéis que vinham em serviço. Outros, instalaram-se em casas particulares da vila.
Um dia, apareceu lá o Peixoto e, sem vaga noutro pouso, «aquartelou-se» no nosso quarto (meu e do Neto). Foi um bom companheiro, há dias «achado» nos corredores da vida. E vertemos, ambos, algumas gotas de emoção, ao evocar os tempos de Carmona e do Quitexe.
No Quitexe, precisamente há 39 anos - dia 11 de Dezembro de 1974 -, foi extinta a Comissão Local de Contra Subversão (CLCS), substituída pela Comissão Local de Coordenação Civil-Militar, a CLCCM. Dava-se a criação do novo órgão à «necessidade de estreitamento das relações civil-militar e procurando uma outra feição de actuação», como se lê no Livro de Unidade.
O MPLA festejava o 18º. aniversário e, em Lisboa, afirmava-se como «garantia da defesa dos interesses legítimos dos portugueses e estrangeiros que desejem colaborar nas tarefas da independência». Quem assim falava era Paulo Jorge, alto dirigente do MPLA, depois de, entre outras coisas, recordar «a resistência angolana à colonização» e criticando «as forças neo-colonialista de Angola», que, disse, «infelizmente não foi possível neutralizar completamente». Foi isto dito, e muitas outras coisas, no comício do Pavilhão dos Desportos, a 10 de Dezembro de 1974, no qual participaram, representantes da FRELIMO (Moçambique), do MLSTP (S. Tomé e Príncipe), do PAIGC (Guiné-Bissau), da FRETILIN (Timor-Leste) e do MIR (Chile), além dos portugueses do CIAC, e outros.

1 885 - Faziam-se vésperas de Natal nos dias do Uíge

$
0
0
Quartel do Quitexe, visto do lado da igreja. Casernas dos PELREC (primeiro) e 
dos sapadores. Mais à frente, o edifício do comando e secretaria do BCAV. 8423. 
Capa do Diário de Lisboa de 12 de Dezembro de 1974


Aos 12 dias de Dezembro de 1974, pelo Quitexe, por Aldeia Viçosa e por Vista Alegre e Ponte do Dange, no Uíge angolano, já se faziam vésperas de Natal. Da metrópole, do «puto» - assim se falava do Portugal europeu, ou metropolitano... -, já chegavam cartas e aerogramas, até embalagens com recordações diversas, para atenuar saudades e matar desejos. Eram cartas de namoradas, de esposas, de familiares, de amigos, cheias de circunstância da época.
Por Lisboa e nesse dia, era dada conta de uma cimeira angolana, envolvendo os três movimentos e ainda para antes do Natal. Não viria a ser assim. A formação do Governo de Transição estava dependente de vários factores e um deles era a constituição de um exército único, formado por elementos de MPLA, FNLA e UNITA.
Ao mesmo tempo, mas em Nova Lisboa, Lúcio Lara inaugurava a delegação do MPLA e afirmava que «chegou o momento de todos juntos podermos realmente inventariar as riquezas deste país e planificar o futuro de Angola, que beneficie realmente todo o povo, sobretudo aquelas camadas que têm sido vítimas da opressão colonial».
A FNLA, em Luanda, anunciava «o Natal das crianças livres», no âmbito da sua «campanha de auxílio aos mais necessitados» e pedia «a colaboração de todos». A UNITA, por sua vez e através da Liga da Mulher Angolana-Lima, programava o «Natal da criança do mato e dos bairros suburbanos de Luanda», com colaboração da imprensa da cidade.
A FUA, «intransigentemente», reivindicava ao Presidente da República «direitos adquiridos pelos movimentos pacifistas que intervieram nas negociações para a formação do Governo de Transição». O movimento de inspiração branca era liderado por Fernando Falcão e, no telegrama enviado a Costa Gomes, sublinhava que era «o único meio conducente ao clima de segurança, concórdia e justiça».
Há 39  anos, eram estes os passos da construção do novo país!
- FUA. Frente de Unidade Angolana.

1 886 - Sexta-feira, dia 13..., dia de achar o 1º. Luzia!!!

$
0
0

O 1º. sargento Luzia, no bar da messe de sargentos do Quitexe, 
ladeado pels furriéis Monteiro, à esquerda, e Viegas


Dia 13 de Dezembro de 2013, sexta-feira, 13. Há 39 anos, era também sexta-feira, mas nada de especial se passou por lá,  pelo Quitexe, para além da azáfama resultante da chegada, três dias antes, dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel, que se acomodavam como podiam.
Hoje, dia 13, sexta-feira, sexta-feira de 2013, o blogue chegou a fala com gente do 1º. sargento Luzia, a sua «mais que tudo», com notícias dele. Fez 80 anos no dia 10, há três dias, como aqui lembrámos, e recuperou de um problema canceroso da bexiga, que lhe deu alguns amargos de boca. 
«Felizmente, recuperou bem, está muito bem...», contou-nos a senhora de Luzia - não sem lembrar«as três operações que fez na Clínica de Santo António», na Amadora, e os tratamento de radioterapia que se seguiram. 
«Fez 80 anos, não foi?!...», perguntei eu!
«É verdade, 80 anos....», confirmou a feliz senhora do 1º. sargento Luzia, que não estava no contacto telefónico por ter ido ao médico de família. «Anda de vigilância, mas não tem problemas...», disse-nos, sublinhando um feliz «graças a Deus». 
Filho do 1º. sargento Luzia, foi outro... Luzia, andebolista internacional e treinador-adjunto do Sporting, que faleceu de doença em 2004, aos 40 anos. Filho deste e neto de Luzia é outro Luzia, o André, de 14 anos e 1,87 de altura, andebolista no Benfica. Duas netas são estudantes de medicina dentária e o «nosso» antigo 1º. sargento tem duas filhas: uma advogada (a trabalhar na função pública) e outra funcionária da Junta de Fregueia de Benteira, na Amadora.
E Angola, há 39 anos? A CUCA, em Luanda, preparava-se para despedir os 20 trabalhadores da INFORANG,  a sua agência de comunicação (de publicidade, como ao tempo se dizia), invocado a má situação financeira. O montante dos salários dos trabalhadores a despedir «valia» 200 contos (1000 euros). A  CUCA pertencia ao Grupo Vinhas - que agrupava a Sociedade Central de Cervejas, a Schweppes, o Banco Português do Atlântico e, através deste, o Banco Comercial de Angola.
- LUZIA. José Claudino Fernandes Luzia, º. sargento e 
chefe da secretaria da CCS do BCAV. 8423. 
Atingiu o posto de sargento-mor e reformou-se em 1987,
quando estava em Lanceiros (Polícia Militar), em Lisboa. 

1 887 - Adeus, adeus à fazenda Luísa Maria...

$
0
0
Ruínas da Fazenda Luísa Maria, em 2012. Viaturas militares nos anos 70 do século XX, na fazenda. Fotos de Carlos Craveiro, filho de antigo funcionário da fazenda, nos tempos dos Cavaleiros do Norte


Os Cavaleiros do Norte abandonaram a fazenda Luisa Maria, definitivamente, a 14 de Dezembro de 1974. Há 39 anos!!! Era um dos bastiões militares do Uíge, por onde passaram muitas dezenas de pelotões e milhares de militares. Foi um dos primeiros locais onde chegou o PELREC, lá por Junho ou Julho de 1974. O administrador da fazenda, ao tempo, era Eduardo Bento da Silva (foto), e o alferes Carlos Silva (o apelido é uma coincidência), recordou ao blogue que o seu pelotão (da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel) foi  dos «últimos de Luísa Maria».
«Tive o privilégio de privar, nesse mês, da hospitalidade do sr. Eduardo, da esposa e da filha, que julgo que se chamava Lai-Lai. Foram tempos inesquecíveis....», disse Carlos Silva. Outro testemunho chegado ao blogue é o de Eduardo Silva, neto de Eduardo Silva (o mesmo nome), sobre Luísa Maria, confirmando o nome de Lai-lai (Adelaide), sua tia. «Sou filho único do único rapaz que os meus avós tiveram, o filho do meio, Eduardo, como o pai e o avô», disse-nos dele, a 11 de Setembro de 2012, precisamente um ano depois da morte do avô.
Carlos Craveiro, filho de José Dias Craveiro, um empregado da fazenda, veio ao blogue, em finais de Novembro de 2012 (há pouco mais de um ano), dar conta que por lá cresceu até 1966, ano em que veio para Portugal, onde iniciou a escola primária. O pai, na sequência dos acontecimentos de 1975, posteriores à saída dos Cavaleiros do Norte, «teve de abandonar a fazenda, apressadamente, deixando para trás o que com tantos sacrifícios fez nascer».
É uma das histórias, uma das muitas histórias que estão por contar, das que fizeram a história de Portugal em Angola. 
O adeus à fazenda Luísa Maria, 
ver AQUI

1 888 - As duas Companhias de Caçadores 4741 em Angola

$
0
0
Santa Cruz, onde, em Agosto de 1974, aquartelou a CCAÇ. 4741/74 e de 
onde saiu o furriel João Peixoto (em baixo) para a CCS dos Cavaleiros do Norte



O mistério da Companhia de Caçadores 4741 que, a 17 de Março de 1975, passou a integrar o dispositivo militar do BCAV. 8423, está desfeito. Tem este número, mas é de 1974. Uma outra 4741, também de Caçadores, passou pelo norte de Angola, mas era de 1972. Curiosamente, ambas oriundas do Batalhão Independente de Infantaria (BII) de Angra do Heroísmo, nos Açores.  E quem é que foi desta CCAÇ. de 1974? Pois, foi precisamente o (furriel) Peixoto. 
A 4741/74 chegou a Angola em Agosto de 1974 e regressou em Setembro de 1975. Foi instalar-se em Santa Cruz de Macocola - agora Milunga -, a nordeste de Carmona (Uíge). Em Março de 1975, já estava no Negage e foi quando (a 17) passou a depender operacionalmente do comando dos Cavaleiros do Norte. Assim como a 1ª. CCAÇ. do BCAÇ. 4911, estacionada em Sanza Pombo. 
Postagens anteriores (ver chamadas no final deste texto) confundiram a duas BCAÇ. 4741 - a de 1972 e a de 1974 -, mas agora tudo está esclarecido, com a coincidência de, afinal, um dos seus furriéis milicianos ter sido nosso companheiro no Quitexe e em Carmona, antes de ir para Cabinda. O Peixoto, que ali vemos em foto de 1975, na messe do bairro Montanha Pinto, em Carmona.  
Ver AQUI
Ver AQUI

1 889 - Acordo da UNITA de Savimbi com o MPLA de Neto...

$
0
0
Furriéis Cruz e Viegas, na avenida do Quitexe, em 1974. 
Atrás, o telheiro das aulas regimentais e o bar dos praças

A 16 de Dezembro de 1974, reuniu a Comissão do MFA do Batalhão de Cavalaria 8423, com os eleitos  das outras unidades da ZA e no Batalhão de Cavalaria 8324 - não confundir com o 8423. O 8324, mobilizado em Estremoz, pelo Regimento de Cavalaria 3, fazia comissão por Sanza Pombo e passou, pelo menos, por Quimiriamba e Massau, depois pro Carmona, em datas que não sei precisar.
A eleição, no Quitexe, ocorreu nos primeiros dias de Dezembro de 1974 e a primeira reunião fora do BCAV. 8423 foi a 7 de Dezembro, no Comando do Sector do Uíge. Eleito, foi o (furriel) Cruz - o mais velho de todos nós (nascido a 18 de Agosto de 1951) e eu, sem dar por ela, o segundo mais votado e dele suplente, por isso mesmo.
A 16 de Dezembro de 1974, Jonas Savimbi, presidente da UNITA, chegou ao Luso e anunciou um acordo com Agostinho Neto, do MPLA. Acordo, disse ele, a anunciar no«comunicado conjunto, dentro de 4 dias». O líder do «Galo Negro» chegava ao Luso, depois de várias reuniões em várias capitais, com líderes africanos e com Agostinho Neto (MPLA) e Holden Roberto (FNLA), e, em Lusaka, com o tenente-coronel Passos Ramos, do MFA. Desmentiu que a cimeira inter-movimentos fosse a 18 de Dezembro e nos Açores, admitindo, porém, que fosse «depois do Natal e em local a indicar».
Revelou também, na cidade do Luso, que o Governo de Transição anunciado por Almeida Santos (ministro português da Coordenação Inter-Territorial), apresentado na ONU, era liminarmente recusado por UNITA, MPLA e FNLA.
«Só aceitamos participar num Governo em que sejamos responsáveis», disse Jonas Savimbi - que no aeroporto do Luso, foi «ovacionado por milhares de pessoas».
- Eleições do MFA, 
ver AQUI

1 890 - Os dias uígenses e a «guerra» FNLA/MPLA

$
0
0
Entrada do Quitexe, em 2012, em foto de Ivo Bige. Notícia da 
presença do MPLA em Lisboa, no Diário de Lisboa de há 39 anos


O que vos venho dizer, hoje, é que pelas terras uíjanas de Angola, ao ido dia de 17 de Dezembro de 1974, tudo ia nas calmas. Os movimentos emancipalistas, esses, segundo leio no Livro da Unidade, procuravam «ir estendendo a sua acção ao interior de Angola». 
Abriram delegações em Carmona e, com o decorrer do mês natalício de há 39 anos, «apareceram secretarias desses movimentos em Quitexe e Vista Alegre».
O MPLA festejara os 18 anos em Lisboa, no Pavilhão dos Desportos e, após isso, o seu dirigente Paulo Jorge foi recebido pelo PS. A foto que «pescámos» do Diário de Lisboa, mostra, da esquerda para a direita, Jorge Campinos (socialista), Carlos Veiga Pereira, Ilídio Machado e Mário Jorge (do MPLA), Tito de Morais, Manuel Alegre e Marcelo Curto (do PS).   
Complicadas pareciam, ir as relações da FNLA com o MPLA. Em Paris, Pakou Zola (do movimento de Holden Roberto), acusava que Agostinho Neto «fez todos os possíveis por criar dificuldades de última hora», à realização da cimeira entre os três movimentos». FNLA e UNITA, segundo disse, «já tinha chegado a acordo», faltando agora «a unificação do MPLA».
China e Roménia davam«apoio sincero e desinteressado» à FNLA e o seu dirigente manifestava preocupações por «a União Soviética apoiar uma das facções do MPLA». «Estamos muito preocupados com a política da União Soviética em relação a Angola, a qual poderá conduzir a um guerra fratricida», disse Pakou Zola, em Paris ouvido pela Reuters.

1 891 - Filme no Quitexe e Neto e Savimbi no Luso...

$
0
0
Agostinho Neto (MPLA), à esquerda, Rosa Coutinho a cumprimentar Jonas Savimbi (UNITA). Atrás de Rosa Coutinho, Lúcio Lara. Foto do Livro «Segredos da Descolonização de Angola», de Alexandra Marques. Em baixo, título do Diário de Lisboa de 18 de Dezembro de 1974 

A 18 de Dezembro de 1974, quando menos se esperava, Rosa Coutinho voou de Luanda para o Luso angolano, onde se foi encontrar com os presidentes Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA). O despacho da portuguesa agência noticiosa ANI e da francesa Reuters, dava conta que Savimbi «esperava concluir um acordo com o MPLA» - o que, do ponto de vista jornalístico, «criaria, pelo menos teoricamente, a frente comum que durante os passados meses tem sido afincadamente procurada pelos três movimentos». O terceiro movimento era, obviamente, a FNLA.
O alto-comissário voou para a capital do Moxico para se encontrar com Savimbi e a Comissão Central da UNITA, mas a verdade é que «pouco depois chegou o dr. Agostinho Neto, presidente do MPLA, para conversações com o almirante Rosa Coutinho». Certamente, tudo previamente combinado.
A frente comum era o caminho certo, expectava-se, para«a conferência cimeira com Portugal», envolvendo ministros portugueses e dirigentes do MPLA, FNLA e UNITA. Viria a ser o chamado Acordo do Alvor. Formar-se-ia o Governo de Transição, para «levar Angola à independência total».
E pelo Uíge dos Cavaleiros do Norte?
Por lá, exibia-se um filme pela última vez - do ciclo iniciado no dia 10 e que passou por todas as subunidades e, no Clube do Quitexe, também para a população civil.  

1 892 - O histórico acordo entre MPLA e a FNLA

$
0
0
Agostinho Neto, Rosa Coutinho e Jonas Savimbi, em local e data indeterminada (net). 
O acordo MPLA/UNITA de 18 de Dezembro de 1974 em notícia do Diário de Lisboa

O histórico acordo MPLA/UNITA, mediado pelo alto-comissário Rosa Coutinho, no Luso angolano, pôs «termo a toda a espécie de hostilidades e propaganda que dificultem a colaboração franca e sincera entre as duas organizações». Publicamo-lo na íntegra, recortado do Diário de Lisboa de 19 de Dezembro de 1974. Basta clicar na imagem de baixo, para a ampliar.
«Tenho a dizer-vos que considero o encontro importante para Angola e para a evolução do processo de descolonização em curso, visto que, pela primeira vez, dois presidentes de movimentos de libertação se encontraram e conversaram em território de Angola, marcando mais uma vez a oposição de que será em Angola que terão de ser decididos os seus destinos e preferivelmente dentro da mesma Angola», falou Rosa Coutinho, no Luso e no final das conversações entre MPLA e UNITA, com delegações lideradas pelos seus presidentes - respectivamente Agostinho Neto e Jonas Savimbi.
O encontro decorrera na véspera, na sala de reuniões da Base Aérea do Luso. Primeiro, entre Rosa Coutinho e Savimbi, às 9 horas. Agostinho Neto chegou depois, às 10, conversando com Rosa Coutinho, sem Savimbi. Após o almoço, o alto-comissário voltou a reunir separadamente com os dois presidentes, encerrando o encontro com uma reunião a três. Histórica!
Os Cavaleiros do Norte, pelo Quitexe, Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange só mais tarde viriam a saber destas negociações. E sem pormenores. Muitos menos que os que hoje aqui ficam expressos. Os caminhos da descolonização tinham outros actores. Actores principais.

1 893 -O começo do adeus do Pelotão de Morteiros 4281

$
0
0
Grupo do Pelotão de Morteiros 4281 (em cima). Alferes Garcia, Ribeiro e João Leite (em baixo)

Aos dias 20 de Dezembro de 1974, o Pelotão de Morteiros 4281 iniciou a sua saída para Carmona, onde se instalou no BC12. Abandonava o Quitexe, onde o «achámos» a 6 de Junho do mesmo ano, aquando la chegámos.
O 4281 era comandado pelo alferes miliciano João Leite, açoreano que há muitos anos faz vida profissional nos Estados Unidos, como empresário. Os furriéis milicianos eram o Costa e o Pires, nossos companheiros de tertúlias na messe de sargentos. 
O último dia quitexano dos «morteiros» foi 4 de Janeiro de 1975. Nesta data cessou, leio no Livro da Unidade, «o reforço dado ao BCAV. 8423, desde a nossa entrada no Sector».
No mesmo dia 20 de Dezembro de há 39 anos, Rosa Coutinho, em Lisboa, afirmava que «a descolonização não é só conceder a independência às colónias». «Seria demasiado fácil e demasiado cómodo, mas não é tudo», disse o alto-comissário, sublinhando que «os deveres do povo português não se esgotam com a conclusão da formação dos acordos de independência».
O almirante ia voltar a Angola ainda antes do Natal e, em Lisboa, afirmava também que «só ficarei descansado quando vir reunidos, no território de Angola, os presidentes dos três movimentos». Isto depois do encotro do Luso, que considerou «histórico e vital» e juntara Jonas Savimbi e Agostinho Neto.
.

1894 - Vésperas de Natal, Costa Gomes e Angola...

$
0
0
Os dias do Quitexe, em passeios: Fernandes, Graciano, um militar da FNLA e Neto (atrás) e Rocha, Querido e Cardoso, em foto de «família». Em baixo, os Presidentes Agostinho Neto (MPLA), Costa Gomes (Portugal), Holden Roberto  (FNLA) e Jonas Savimbi (UNITA), a 15 de Janeiro de 1975, no Acordo do Alvor





Os dias do Quitexe, pelas vésperas do Natal de 1974, decorriam tranquilos, com serviços, escoltas, «desenfianços» a Carmona, ou a Luanda, «matança» de saudades de casa e das chuvas e das neves que faziam as noites de consoada.
As ordens de serviço do Quitexe, de Aldeia Viçosa e Vista Alegre repetiam muitos dos nossos nomes, pois a guarnição estava reduzida - depois da passagem à disponibilidade dos Grupos de Mesclagem, que começou logo nos primeiros dias e se prolongou por Dezembro de 1974. Passagem à disponibilidade que, eufemísticamente, o Livro da Unidade referia como sendo«entrada em licença registada»
A 21 de Dezembro desse mesmo 1974, o general Costa Gomes, Presidente da República, falando em Lisboa para o francês jornal "Le Monde», recordava os seus anos de África e, sobre Angola, comentou o processo de descolonização, mais adiantado em Moçambique: «Pela parte que nos toca, fazemos todo o possível para favorecer um encontro entre os três movimentos de libertação de Angola, a fim de podermos, finalmente, pensar na formação de um governo de transição».
A anunciada conferência dos Açores era, no 21 de Dezembro de 1974, considerada «prematura» por Costa Gomes, qu se dizia preocupado com as dissidências do MPLA: «O dr. Agostinho Neto devia, previamente, regular as divergências internas do seu partido».
Viria a realizar-se em Janeiro e (foto) encerrada no dia 15 - o chamado Acordo do Alvor.

1 895 - Natal no Cazenza e notícias de Portugal

$
0
0
Natal na escola primária do Cazenza, aldeia da área «metropolitana» do Quitexe. Reconhecem-se a Irmã Maria Augusta Capela, um militar (NN) e os alferes Pedrosa, Hermida, Pedrosa, Barros Simões, Cruz, Ribeiro e Garcia (com o dedo a apontar). Em primeiro plano, o padre Capela. Em baixo, consoada da CCS: Rocha, Fonseca, Viegas,  Belo e Ribeiro (de frente) e Monteiro (de costas), Pires (do Montijo), Machado e Pires

A 22 de Dezembro de 1974, chegou ao Quitexe uma notícia triste, para mim e para o Neto: a morte do engº. Carlos Rodrigues, que tinha sido nosso professor e era, ao tempo e de nomeação recente, o  Delegado da Direcção Geral dos Desportos em Aveiro. Tinha sido presidente da direcção da Associação de Futebol de Aveiro e membro do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Numa viagem de estudo a Espanha, foi vítima de um enfarte. A trágica notícia foi motivo de sentida reflexão, minha e do Neto.
O mesmo correio desse dia, trouxe-me aerograma de minha mãe, lembrando-me o Natal que pela primeira vez iria passar sozinha - ao tempo recentemente viúva e sem os três filhos, num curto espaço de tempo. Eu, o mais novo, na guerra colonial (a milhares de quilómetros), e minhas irmãs recém-casadas, ao tempo, e nas suas casas. ´
O jornal que nos levou a notícia da morte do engº. Carlos Rodrigues, trazia notícias políticas. O PS, pela voz de Mário Soares, anunciava que, relativamente ao seu primeiro congresso na legalidade, o objectivo final é a destruição do capitalismo».  O CDS afirmava-se como «defensor da propriedade privada, recusando a economia do Estado». O ministro Almeida Santos garantia que «haverá lugares na metrópole para os funcionários das ex-colónias». Os Estados Unidos iam emprestar 500 000 contos a Portugal, para um programa de habitação social. Poderia chegar aos 1,375 milhões de contos, com aval do Congresso. 
Um dos dias de véspera fora de festa de Natal no Cazenza (foto) e pelo Quitexe levedava o entusiasmo e  ansiedade pela realização da festa da consoada, que seria (e foi) de terça para quarta-feira.
Ver AQUI

Viewing all 4156 articles
Browse latest View live