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Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
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2 223 - Uma Angola do Norte, com capital em carmona

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Carmona, nos tempos portugueses (foto da net). Em baixo, notícia da conquista do Caxito 

As relações da FNLA com as NT, relativamente a 25 de Julho de 1975, referem que «desanuviado ligeiramente o ambiente, conseguiu realizar-se, em 25 de Julho, a desejada coluna a Salazar». É o que se lê no Livro da Unidade, mas a coluna foi até Luanda, pelo Dondo. Não se passava no Caxito.
Aqui, a escassos 50 quilómetros da capital,  verificou-se, na tarde da véspera, a sua reconquista, pelas forças da FNLA. A vila, que era (e é) um importante nó rodoviário angolano, estava ocupada pelo MPLA desde 28 de Maio e as forças de Holden Roberto, entraram com carros blindados: dois estacionados no centro e quatro à vista.  
A ocupação, segundo o Diário de Lisboa de 25 de Julho, «não significa, de maneira alguma, uma vitória militar decisiva» mas, sublinhava o jornal, «tem grande importância estratégia e moral para a FNLA, pois se trata da primeira vitória militar significativa, desde os incidentes do princípio do mês em Luanda».
Daniel Chipenda, em Carmona (afinal, continuava na capital do Uíge) e em declarações à AFP, afirmava que o ELNA «tinha recomeçado o avanço para a capital angolana, com o intuito não de negociar, mas de conquistar o poder».
«As nossas forças marcham sobre Luanda e esperamos que a sua entrada na capital se faça nos próximos dias», afirmou o secretário-geral adjunto da FNLA, afirmando-se «sem medo de «uma intervenção da aviação portuguesa» e reafirmando a presença de Holden Roberto «em território nacional angolano».
«Vamos para Luanda não para negociar, mas para dirigir», reafirmou Daniel Chipenda, que, a pergunta do jornalista da AFP, rejeitou a ideia de a FNLA criar uma Angola do Norte - por ser o norte a principal área de influência do movimento.
«Não queremos balcanizar o nosso país. A nossa capital não é Carmona nem S. Salvador. É Luanda», sublinhou Daniel Chipenda

2 224 - Evacuação de Carmona tratada directamente com Costa Gomes

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População a fugir de Carmona, data indeterminada (foto 
de Carlos Las-Heras). Em baixo, o Alto Comissário Silva Cardoso

 A 26 de Julho de 1975, regressou a Carmona a coluna que na véspera partira para Luanda, à terceira tentativa. Com outro pessoal dos Cavaleiros do Norte, que por lá estava. Missão cumprida!!!
A véspera fora de comemoração do Dia da Cavalaria (de que não tenho memória), mas o Livro da Unidade regista que «foi celebrada missa na capela da unidade, com presença do brigadeiro e Chefe do EM do CTC», ao mesmo tempo que «a Ordem de Serviço publicou uma mensagem alusiva».
A véspera foi também tempo para o Alto Comissário Silva Cardoso, mandar mensagem ao Presidente Costa Gomes, indicando-lhe que, e cito do livro "Segredos da descolonização de Angola», de Alexandra Marques, que «logo que possível começaria a retirada de Carmona, Negage e Santo António do Zaire, sem atender às pressões da FNLA, que estava a dificultar a saída de militares e civis». Como nós, Cavaleiros do Norte, bem sabemos isso!!!!
Carmona e Negage seriam evacuadas «depois de a coluna de socorro ali estacionar algum tempo». Deu troco Silva Cardoso, a Lisboa. Evacuaria Carmona e Negage, mas sem esquecer a população europeia, «cuja saída a FNLA estava a dificultar». Bem sabíamos isso!!!! E também a população branca europeia, que se via sem destino certo - muito menos seguro... -, e, depois de nos arruaçarem muitas vezes, se aproximou da tropa, pedindo protecção e apoio. Que nunca lhe foi negado! Sem querer fazer juízos de valor, muitos deles temeriam vinganças, por actos do passado. 

2 225 - Não morrer numa guerra que não é nossa...

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Nelson Rocha, Luís Pedrosa, Manuel Machado, José Lino e António Cruz, Cavaleiros 
do Norte nos últimos dias de Carmona, finais de Julho de 1975. Em baixo, coronel Santos e 
Castro e Holden Roberto, em Ambriz, por estes dias do mesmo ano


A 27 de Julho de 1975, um domingo (como hoje), soube-se em Carmona que se tinham registado graves incidentes, em Luanda, desta vez entre o MPLA e as NT, na Vila Alice. Resultado: 15 mortos e 22 feridos do MPLA. Entre as NT, dois alferes, dois furriéis e um soldado feridos. 
A noticia chegou-me via telefone (meio pouco usual ao tempo), pelo Albano Resende que, por um engano de datas, supunha que chegaria eu nesse dia a Luanda e, por isso, estava preocupado. A chegada era (seria) uma semana depois, a 3 de Agosto.
A notícia espalhou-se e, naturalmente, insatisfez a guarnição, que se sentia abandonada no Uíge imenso, esquecida pelos altos comandos militares. Uma guarnição de tropas que, como reconhecia o próprio Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, estavam, e citamos do livro «Segredos da Descolonização de Angola»,«além de desmotivadas, não desejam morrer numa guerra que não consideram sua».   
Assim era, nem, precisávamos da confirmação do livro de Alexandra Marques.
Um comunicado do Alto-Comissário explicou que um grupo de militares portugueses foi interpelado na  estrada de Catete, quando seguiam em viatura militar. Foram mandados embora e atacados a tiro pelas costas, ferindo dois (um deles, gravemente). O COPLAD exigiu a entrega dos agressores, até às 8 horas da manhã. Como tal não aconteceu, duas horas depois, as NT foram ao aquartalemento de Vila Alice e o comandante da força falou com o do MPLA, na rua. Foi quando os MPLA´s dispararam. Ripostaram as NT e houve tal troca de fogo que resultou naquele número de mortos e feridos.
A 26 de Julho, o ministro Kabungu , da FNLA, anunciou em conferência de imprensa que Holden Roberto estava no Caxito, à frente da colina que expulsou o MPLA. Já Chipenda dissera em Carmona que o presidente da FNLA estava «em teritório nacional». Na véspera, dia 25, o próprio Holden afirmara estar em Angola para «libertar Luanda».
O Diário de Lisboa do dia 28 noticiava que  «um antigo oficial do exército português comanda a coluna da FNLA que ocupou o Caxito». Era o coronel Gilberto Santos e Castro, irmão do ex-Governador Geral (Fernando) - tio de Ribeiro e Castro, actual deputado do CDS/PP.

2 226 - Cavaleiros do Norte a preparar a saída para Luanda

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Jesuíno Pinto, José Gomes, António C. Letras e Martins, Cavaleiros do Norte da 2ª. 
CCAV. 8423. Em baixo, a outra messe de sargentos do Bairro Montanha Pinto, em Carmona


Aos dias 28 de Julho de 1975, a Carmona, chegaram preocupantes notícias de Luanda - onde a FNLA atacou as NT. Os comandos dos Cavaleiros do Norte, por sua vez, reuniram uma vez mais com elementos do QG/RMA, para «montar a operação de evacuação para Luanda». E soube-se que a coluna seria protegida por uma  Companhia de Comandos e outra e Paraquedistas. Viria a ter Fiat´s e heli-canhões. 
Almeida e Brito e os seus adjuntos - os capitães José Diogo Themudo e José Paulo Falcão - e creio que que também com comandantes das três companhias operacionais, os capitães milicianos Castro Dias (1ª.), José Manuel Cruz (2ª.) e José Paulo Fernandes (3ª.), reuniram com os QG/RMA´s na ZMN e ficaram a saber de mais pormenores da operação. Que tanto nós ansiávamos!!!
Já tinham reunido a 21 e voltaram a reunir a 30!! Estava em marcha a grande operação de retirada e, ao quartel e aos militares chegavam cada vez mais pedidos, de civis, para lhes cedermos cubicagem (os famosos caixotes), para enviarem haveres para Lisboa. A mim, chegaram a oferecer um certificado de habilitações e sei de quem foi tentado com cartas de condução - para além de avultadas quantias em dinheiro.
O que chamei preocupantes notícias de Luanda tinha a ver com o fogo aberto pela FNLA sobre uma areonave DO 27, das Força Aérea Portuguesa, que fazia o reconhecimento na zona do Caxito - área ocupada pelo movimento de Holden Roberto, a 50 quilómetros de Luanda. E era dali que a FNLA preparava o assalto à capital. Morreu um 1º. cabo mecânico, da tripulação. Uma corveta da Marinha também foi alvejada e ripostou.
Ao meio dia da véspera, domingo (dia 27) recomeçaram os combates de S. Pedro da Barra, onde estavam «barricados» 600 homens da FNLA. «Rebentaram violentos combates», relatava a imprensa do Dia, referindo-se à fortaleza, que fica(va) junto ao Porto de Luanda.
Era para esta capital que iam partir os Cavaleiros do Norte! Para onde a morte se semeava como capim e os combates não poupavam vidas!

2 227 - Os últimos dias da jornada uíjana de Carmona

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Cavaleiros do Norte em pose fotográfica. Atrás, Miguel Teixeira (o terceiro), Grácio (5º.), Messejana (7º.), alferes Ribeiro (8º. de braços cruzados) e furriel Pires (a seguir). À frente do Grácio, o Florindo. Em baixo, o Carpinteiro (meio sentado e apoiado no braço direito)  e o furriel Mosteias (atrás dele, de bigode e boina), E os outros, quem conhece e identifica? Foto de baixo, o aeroporto de Carmona

  


Os Cavaleiros do Norte, há precisamente 39 anos, preparavam a viagem para Luanda, antecipando o desejado regresso a  Lisboa e ao chão e cheios das suas terras, mas, em Carmona, mesmo já nas vésperas,  mantinham-se em guarda e prontos para o que desse e viesse.E o que estava a dar, lamentavelmente, era uma série de saques e assaltos a  residências de civis europeus, nomeadamente. Muitas vezes a tropa foi chamada, para acudir a gente que via outra gente a entrar-lhes, armada, pela casa dentro, roubando e carregando o que lhe convinha e apetecia. 
Não foi fácil, mesmo com as NT de moral relativamente alta, por saberem estar próxima a saída. Mas, naturalmente, pouco interessadas em  novas «guerras». Mais interessadas, isso sim, em antecipar o prazer alegroso de acabar a jornada angolana, sem os constrangimentos que poderia suscitar-se de qualquer envolvimento em confrontações. Tê-os-íamos, se tivéssemos de ter - e algumas vezes, nos últimos dias de Carmona, tivemos de apontar armas... -, mas sempre neutrais, civilizados e solidários com a gente que sofria na terra uíjana.
A propósito de sofrimentos, a imprensa de Lisboa, a 29 de Julho de 1975, noticiava que havia fome no Uíge. “40 pessoas morrem diariamente no distrito, no Norte de Angola, relatam viajantes chegados a Luanda”, lê-se no Diário de Lisboa desse dia.
O jornal precisava que “a escassez de alimentação tornou-se desesperada, com a chegada de mais de 300 000 angolanos que regressaram do Zaire, onde se haviam refugiado durante a guerra de independência”.

300 000?! Não creio!
Sabia-se, por Carmona,  que estavam muitos angolanos a chegar do Zaire e a falar francês -  por isso suscitando dúvidas sobre as suas verdadeiras identidades. Mas não há ideia que fossem tantos (nem perto) e muito menos de tanta fome, como  a que o jornal reporta. Nem pouco mais ou menos.
A Carmona, por esse tempo, chegavam também muitos elementos da FNLA, fugidos  dos combates de Luanda, e as estradas, como temos lembrado, estavam bloqueadas - ora porqaue se ia de uma área da FNLA para a do MPLA, ou ao contrário.
Os abastecimentos, por isso, eram principalmente feitos por via aérea e está na nossa memória a chegada (diria diária e até mais de uma vez por dia) de aviões da Força Aérea carregados de mantimentos, ao aeroporto de Carmona.

2 028 - Saída de Carmona «comunicada» à FNLA...

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Um grupo de Cavaleiros do Norte do Pelotão de Sapadores. Quem identifica quem?
O Gasolinas e o Carpinteiro (falecido a 1 de Novembro de 2012) nos últimos dias de Carmona


A 30 de Julho de 1975, os comandos dos Cavaleiros do Norte reuniram com o Estado Maior Unificado e apresentaram os planos da operação de saída, que «foi comunicado ao FNLA». Soube-se que estávamos na véspera da chegada da Companhia de Comandos, uma das que (com outra de páraquedistas, que ficaria na base Aérea do Negage) iria acompanhar a coluna do batalhão para Luanda.
Era quarta-feira e o domingo, 3 de Agosto, o dia da nossa saída, estava ali já a  olhar-se no nosso horizonte. Uff, nunca mais chegava!!!
Carmona adormecia e acordava em sobressaltos e as nossas instruções continuavam as mesmas: proteger pessoas e bens! A todo o custo! As movimentações dos homens da FNLA continuavam agressivas e provocatórias. As perseguições e ameaças ensombravam a calma («fictícia», assim refere o Livro da Unidade), que se vivia na capital do Uíge.
As notícias de Luanda não eram as melhores: a FNLA, pela boca do presidente Holden Roberto, anunciava «o assalto contra capital angolana, nos próximos dias». Estavam as suas tropas a reagrupar no conquistado Caxito, a 53 quilómetros. Os seus «cerca de 8000 homens  preparavam o dispositivo de ataque» que, segundo o seu Estado Maio, os levaria à «tomada de Luanda».

Estranhamente, nada disso nos preocupava, nem sequer os inimagináveis perigos da coluna que iria galgar os 570 quilómetros de estrada - que se adivinhavam de mil perigos. De Carmona a Luanda, pelo Negage (onde se juntaria a guarnição local), Camabatela, Samba Caju, Vila Flor, Lucala, Salazar, o Dondo e Catete, até ao Grafanil.
Há 39 anos!!! - o tempo passa!!... -, uma quarta-feira, como hoje, contávamos os últimos dias da nossa jornada angolana do Uíge!!

2 229 - A chegada da Companhia de Comandos a Carmona

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Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. 
O (furriel) Matos, à esquerda, de pé. E os outros? Quem é quem?

A 31 de Julho de 1975, chegou a Carmona (e ao BC12) a Companhia de Comandos que iria  (com a de Paraquedistas) acompanhar a operação de saída dos Cavaleiros do Norte para Luanda. 
A saída, como se lê no Livro da Unidade, «não se adivinhava fácil» e não foi. Desde logo pelo comportamento, diria indisciplinado, dos Comandos. Quer na cidade, quer no quartel - onde gostaram de exibir as suas capacidades técnicas militares.   
A situação geral era tensa, até porque Silva Cardoso se tinha demitido de Alto Comissário e a FNLA avançava sobre Luanda, estando já na Estrada de Catete - como se lê no livro «Segredos da Descolonização»: «O ELNA progredia a bom ritmo e punha as FAP numa posição delicada». 
Só a  28 os paraquedistas chegaram ao Negage, para «proteger a saída dos portugueses», e a 31 os Comandos a Carmona. 
Isso fragilizava a posição portuguesa, em caso de intervenção para impedir a chegada da FNLA a Luanda. No Norte, por onde estavam os Cavaleiros do Note, poderiam retaliar os fnla´s - que, aliás, como repetidamente temos disto, não se escusavam de nos ameaçar. E até de impedir de sair de Carmona - como já acontecera.
A chegada de viaturas e tropas de reforço mais animou a presença descontraída (não é exagero) dos Cavaleiros do Norte. Que, todavia, ainda se tiveram de se haver com alguns inconvenientes provocados pelos Comandos, na cidade. E pequenos incidentes, que com maior ou menor dificuldade, lá se foram resolvendo.

2 230 - O 1 de Agosto de 1975, últimos dias de Carmona...

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Carmona, a entrada na cidade, do lado do Quitexe e Negage. O conhecido 
prédio redondo, ex-libris uíjano. Em baixo, pioneiros do poder popular do MPLA




«Foram marco inesquecível do trabalho do Batalhão na RMA os seis primeiros dias do mês». O mês de Agosto de 1975, assim começa a narrativa do Livro da Unidade (LU).
Ao dia 1, hoje se fazem 39 anos, continuou, da véspera, «a chegada de viaturas que nos ajudariam a transportar o BCAV., escoltado por uma Companhia de Comandos em outra de Páras». Houve que, lê-se no LU, «preparar o movimento com os cuidados que tal requeria, dado saber-se a oposição que a FNLA dizia ir fazer e dado também saber-se ir atravessar-se uma zona de conflito armado entre MPLA e FNLA, para depois prosseguir numa área de interesse do MPLA, dominado por este e pelo seu poder popular».
Estas precauções não desinspiraram, ou reduziram, a confiança absoluta dos Cavaleiros do Norte, seguros das suas capacidades militares e do garbo e da coragem que não faltariam em momento algum. Nunca tinha faltado.


2 231 - O di 2 de Agosto de 1975 dos Cavaleiros do Norte

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Civis com militares da 2ª. CCAV. 8423, na coluna de Carmona para Luanda


O 2 de Agosto de 1975, um sábado como hoje, foi véspera do adeus definitivo a Carmona. A CCS e a 1ª. CCAV. 8423 voariam no dia seguinte para Luanda e, logo depois, seria a evacuação terrestre. 
Os Cavaleiros do Norte iam fazer história, como a última guarnição militar portuguesa em terras do Uíge angolano.
«A população civil, conhecedora dos movimentos das NT, insegura no seu dia-a-dia, descrente do seu futuro e receosa de quaisquer represálias, resolveu-se pelo exôdo e começou a sentir-se que ia acompanhar a nossa coluna centenas de viaturas, com o consequente muito elevado número de pessoas», reporta o Livro da Unidade.
Os Cavaleiros do Norte, cada qual à sua maneira, fizeram o adeus à cidade que adoptaram como sua, desde 2 de Março anterior, e que defenderam com «unhas e dentes», nomeadamente nos trágicos primeiros 6 dias de Junho desse ano.
O caminho era para Luanda, que a FNLA queria tomar. A Luanda onde alastrava a violência e os ódios, uma estranha guerra que somava mortos e multiplicava lutos, ante a quase indiferença da população. A Luanda cosmopolita, moderna, viva e desenvolvida tinha uma vida normal, de dia, e era um céu de morteiros e rajadas durante a noite. 

2 232 - A chegada a Luanda e ao Grafanil...

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Aeroporto, a última imagem de Carmona, a  3 de Agosto de 1975. 
Em baixo, o Grafanil, o últimoe espaço dos Cavaleiros do Norte, em Angola

A 3 de Agosto de 1975, dissemos adeus a Carmona. Saímos do BC12, e  viaturas militares, para o aeroporto e, em duas levas de um DC6 e dois Nordatlas , a CCS e a 1ª. CCAV. voaram para Luanda, onde entrámos pela Base Aérea e, daí, para o Grafanil.
O destino foi para o aquartelamento que tinha sido do Batalhão de Intendência, que encontrámos em péssimo estado: sujo e abandalhado. Já passava do meio dia e, quando a almoço, cada uma que se arranjasse. Alguém se lembrou de irmos à Messe de Sargentos e lá fomos, na avenida dos Combatentes - recebidos com indiferença e até desdém.
Um sargento de meia idade, de bigode arrufiado, autoritário, interrogou-nos: «São vocês os Cavaleiros do Norte?». Que éramos, sim senhor!!! Pois fomos apelidados de tropa fascista, colonialista e outros istas de pouca bondade para a nossa honra. Já éramos o último batalhão com formação militar pré-25 de Abril, o que não caía bem na apreciação das NT que (des)guarneciam Luanda.
Almoçados e voltados ao Grafanil, ajudando os praças na acomodação nas precárias instalações do Batalhão de Intendência, fomos - eu, o Monteiro e o Neto, por ideia deste -, até Viana, já no fim da tarde, onde a sorte nos benzeu. Encontrámos o conterrâneo Gilberto Marques (civil), que nos cedeu a casa de Manuel Cruz, outro conterrâneo, já regressado a Portugal. Foi nossa até 7 de Setembro desse 1975.     

2 233 - A saída da coluna terrestre, de Carmona para Luanda

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A coluna dos Cavaleiros do Norte, de Carmona para Luanda, Agosto de 1975

Madrugada de 4 de Agosto de 1975, uma segunda-feira. Os Cavaleiros do Norte dizem adeus a Carmona, não sem uma tentativa de impedimento, mais uma, da FNLA. «A partir das 2 horas da madrugada, tudo se pôs a postos para que o horário fosse cumprido», reporta o Livro da Unidade.
A partida seria às 5 horas. "E foi", releio no LU.
Efectivamente, narra o livro,«a essa hora, toda a máquina se moveu, mas a incompreensão dos civis gerou o primeiro problema com a FNLA que, bloqueando-os na cidade, não os quis deixar sair». Saíram, que as NT não as abandonou. 
«Às 5,15 horas, resolveu-se o primeiro incidente e esta situação iria dar azo ao segundo e mais grave incidente, pois que todos fugiram para o Negage, onde finalmente foram impedidos de partir, situação que iria atrasar, em cerca de 8 horas, a marcha da coluna», escreve o Livro da Unidade.
A história já aqui foi contada, podendo ser relida AQUI, neste e outros links lá indicados.
A coluna tinha já cerca de 200 viaturas e seguiu com a Companhia de Comandos na frente. No Negage, juntaram-se o pessoal e viaturas das Companhias de caçadores e do Aeródromo Base que ali estavam estacionadas. «Também aqui, inúmeros civis se associaram à coluna», relata o LU . Seriam já cerca de 700 viaturas.
No Grafanil, os Cavaleiros do Norte da CCS e da 1ª. CCAV. (a de Zalala), idos na véspera, «desinfectavam» as instalações que tinham sido do Batalhão de Intendência e que iriam ser a última casa do BCAV. 8423 em terras de Angola.

2 234 - Daniel Chipenda ajudou, na passagem pelo Negage

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Negage, o quartel (em cima). Daniel Chipenda, a 4 de Agosto de 1975, ajudou a 
desbloquear a saída dos civis que se queriam integrar na coluna dos Cavaleiros do Norte



A coluna terrestre dos Cavaleiros do Norte, apopeica e mui dramática, lá seguiu em bolandas e ameaças, ora da FNLA, ora do MPLA. A 4 de Agosto, ontem se fizeram 39 anos, «passou o controlo da FNLA de Candombe», pouco depois de Carmona, já com 210 viaturas e em cerca de meia hora.
O «cerrado nevoeiro» da madrugada fez com que, por volta das 7,30 horas, se desse um acidente», o que originou que «fossem abandonadas na estrada duas viaturas médias e fosse rebocada e abandonada, no Negage, uma viatura pesada». Já no Negage (ver post de ontem), «toda a cidade estava pejada de viaturas» e, relata o LU, «a FNLA, em peso, proibia a sua sua saída, excepção feita às viaturas privadas da coluna militar».
As negociações «foram improfíquas» e, como narra o livro da Unidade, «tentadas plataformas várias, bateu-se sempre em falso».
O LU refere que «começou a odisseia dos civis, sentindo-se abandonados e entregues à sorte do querer da FNLA, convencidos de que as NT as abandonariam».
Não abandonaram.
O LU faz lembrar que «assim não sucedeu» e dá conta que «procurou-se uma última solução». Efectivamente, às 16 horas de 4 de Agosto de 1975 e após uma reunião com Daniel Chipenda - que era secretário-geral adjunto da FNLA e estava por Carmona, «obteve-se permissão para o trânsito da quase totalidade dos civis».
«Foi o renascer da esperança para essa gente, foi o acreditar na missão das NT. Efectivamente, não fôra tal determinação e todos ficariam. Assim, só uma  pequena parte dos camionistas não conseguiu resolver o seu problema», conta o Livro da Unidade.  A coluna passou a ter as tais mais de 700 viaturas.

2 235 - Coluna do BCAV. 8423 pernoitou em Samba Caju

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Samba Caju, foto de 2014 (net). Localidade onde os Cavaleiros  do Norte pernoitaram de 4 para 5 de Agosto de 1975



O fim do dia 4 de Agosto de 1975, depois das incidências do Negage, prosseguiu até Samba Caju, onde a coluna pernoitou. «Reorganizada a coluna, agora com cerca de 700 viaturas, retomou a marcha às 18 horas, para, ás 19, atravessar o controlo de Camabatela», lê-se no livro da Unidade. Aqui, para«incorporar mais uns quantos civis». 
Seguiu e, cerca das 20,30 horas, à entrada de Samba Caju, «parou-se a coluna para pernoitar». Descansaram os Cavaleiros do Norte (a 2ª. e a 3ª. CCAV.) e as Companhias de Comandos e Páras, depois da «guerra psicológica travada no Negage, que fora esgotante para os nervos», mas, não dispiciendo, «vencendo as primeiras dificuldades».
A marcha foi retomada no dia 5 - ontem se passaram 39 anos! -, às 6,30 horas da manhã. Uma hora depois, atingiu-se o controlo de Samba Caju,«onde surgiram novas dificuldades, novamente torneadas, mas que conduziram a qe só às 8,30 hiras se retomasse a marcha».
Em Vila Flor, já pelas 11 horas, «mais viaturas se juntaram» e prosseguiu a coluna«em terra de ninguém», até que, cerca das 13, se fez nova paragem, para«juntar todas as viaturas e refazer a coluna».
A coluna ia «entrar em  terra do MPLA» e, segundo o Livro da Unidade,«havia que reconhecer o itinerário», para tal,«recorreu-se aos helis que, em Salazar, estavam à ordem da coluna».


2 236 - Helocóptero atimngido por forças do MPLA

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O Belo, da 3ª. CCAV., captou esta imagem de um dos helicópteros 
que apoiaram a coluna dos Cavaleiros do Norte. Um deles foi alvejado. 
Em baixo, um aspecto da coluna




A coluna dos Cavaleiros do Norte continuou a 5 de Agosto de 1975, depois de Samba Caju e Vila Flor. Ia-se a caminho de Salazar e, daqui, saíram os helis de apoio. «Feito o reconhecimento aéreo, em que um héli foi alvejado, contactou-se, via terrestre, o MPLA, cerca das 13,30 horas», relata o Livro da Unidade.
Passou-se Lucala, às 14 horas, «onde se abandonou uma outra viatura». Depois, Salazar - «cidade que levou a atravessar cerca de 4 horas, dado terem se se resolver inúmeras avarias». Uma delas, foi abandonada e foi retomada a marcha, mas agora«incorporando, na testa da coluna, uma Companhia de Caçadores, que se encontrava de reserva no Comando Territorial de Salazar".
Ainda nesse dia, a marcha foi até ao Dondo, onde chegou por volta das 23 horas.
Nesse mesmo dia, já no Grafanil, recebi um aerograma do Alberto Ferreira, enviado para o SPM 1246, dando-me conta que «o Silva Cardoso já se foi» e que «veio o Fabião e o Vermelho buscá-lo». Considerou o meu amigo, cabo especialista da Força Aérea (que escreveu o «bate-estradas» no dia em que cheguei a Luanda, 3 de Agosto), que «são assim os intelectuais do MFA».
«Não era pró-MPLA, já não interessa», considerava ele sobre o já ex-Alto Comissário, adiantando-me também que era «o último aerograma» que me escrevia, pois ia regressar a Portugal. Na verdade, já não o voltei a ver em Angola. 
«Esperarei lá por ti...", anunciou-me. E assim foi.

2 237 - Chegada ao Grafanil e civis salvos, a chorar

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Campo Militar do Grafanil. 
Notícia do Diário de Lisboa sobre a saída de Carmona


A coluna militar de Carmona chegou ao Grafanil a 6 de Agosto de 1975. Eram 2,45 horas e depois de 570 quilómetros e 58,45 horas de viagem, «trazendo consigo cerca de 700 a 800 viaturas».
«Terminou, assim, a odisseia de milhares de civis que, à chegada a Luanda, choravam por se sentirem salvo», escreveu o comandante Almeida e Brito, no Livro da Unidade, que reporto. Acrescentava que «teria sido a missão mais difícil» do BCAV. 8423, mas também, acrescentou, «aquela em que bem demonstrou o seu «querer e saber vencer», conduzindo uma operação que forçosamente terá se ser um pilar bem marcante da sua história».
A última etapa da coluna saiu do Dondo pelas 7 horas da manhã, para os 174 quilómetros que a separavam  do Campo Militar do Grafanil. Por volta das 10,20 horas, «foi sobrevoada por dois aviões Fiat e um hhli, com uma equipa de reportagem da BBC». Passou Catete às 11 horas e foi esperada pelos Cavaleiros do Norte que tinham chegado no domingo, dia 3. Repetiram-se abraços de alegria e felicidade.
Pudera!!!
O alferes Cruz, oficial miliciano comandante do parque-auto, foi um dos militares portugueses que falou para a reportagem da BBC, já no Grafanil.«Queriam saber muita cousa e nós pouco lhe podíamos dizer», comentou o agora engenheiro mecânico aposentado, a morar na sua Santo Tirso natal.

2 238 - Cavaleiros no Grafanil e FNLA fora de Luanda

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Baía de Luanda, nos tempos da colonização portuguesa, vista do alto da fortaleza 
(em cima). Em baixo, recorte do Diário de Lisboa de 7 de Agosto de 1975

A chegada dos Cavaleiros do Norte a Luanda, depois da epopeica retirada de Carmona, foi alvo de reportagem em directo da BBC (televisão inglesa), como já aqui reportámos, e também da imprensa portuguesa, nomeadamente do Diário de Lisboa.
A edição de 7 de Agosto de 1975 (ver a imagem), noticiava que «elementos que retiraram de Carmona (...), integrados numa coluna militar portuguesa (...), deram conta de grande recontros ao longo da estrada que de Luanda a Malanje se dirige a Negage e Carmona, principais centros militares da FNLA», nomeadamente «os combates pelo domínio de Lucala».
O mesmo dia 7 de Agosto de 1975, foi tempo para o MPLA expulsar, de Luanda, 3000 militantes da FNLA.«Foram neutralizados e evacuados», noticiava a Reuters, citando Iko Carreira, dirigente do partido de Agostinho Neto. Iko Carreira estava em Brazaville e explicava que «tinham sido introduzidos na capital em Luanda, com o objectivo de ocuparem o poder. pela força, iniciando essa operação com o domínio de pontos estratégicos».
«A tomada eventual da capital, por soldados da FNLA - sublinhava Iko Carreira -, não se registará, porque vamos opor ao invasor a resistência popular generalizada».
Era nesta Luanda que os Cavaleiros do Norte faziam o seu dia-a-dia, chegados do ferro e fogo de Carmona e Uíge.
Iko Carreira, em Brazaville, dava conta que«foram invadidos por forças da FNLA». Invadidas, não direi. Já estavam «ocupadas» desde os primeiros dias de Junho, quando expulsaram o MPLA.

2 239 - A última acção operacional dos Cavaleiros do Norte

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Palácio do Governador, em Luanda. Os incidentes 
do Bairro do Saneamento foram há 35 anos


Os Cavaleiros do Norte, chegados ao Grafanil, ficaram «a cumprir missões de unidade de reserva da RMA». A 9 de Agosto de 1975, foi chamado a intervir no Bairro do Saneamento, onde se guerreavam combatentes do MPLA e da FNLA. Terá sido a sua última acção operacional.

O dia era de sábado e, no Grafanil, foi formado um grupo de combate que foi «acudir» as NT chegadas nas vésperas, de Lisboa, muito revolucionárias (à moda do tempo) e que nos tinham apelidado de tropa colonialista e fascista. Era o seu baptismo de fogo e deram-se mal com a «empreitada», inadvertindo-se em perigosas posições na linha de fogo, no «violento tiroteio, com armas ligeiras e pesadas» que rompeu na madrugada, «à medida que se generalizava uma ofensiva desencadeada pelo MPLA, com a intenção de desalojar os últimos militares e políticos da FNLA». Estes, instalados no luxuoso Bairro do Saneamento - por detrás do Palácio do Governo e com belíssima vista para as praias. Os tropas, na Fortaleza de S. Pedro da Barra.     
Os Cavaleiros do Norte acudiram quem nos apelidou do que quis e, ao saber-se do socorro do nosso grupo de combate, já no Grafanil, tal foi razão para a nossa «retaliação» psicológica junto dos socorridos. «Com que então, somos fascistas e colonialistas?!... E precisaram de nós para se safarem?!».
A brutal «estreia» desse batalhão levou a que, chegada de Lisboa a última companhia, realizasse um plenário, exigindo o imediato regresso a Portugal. Era o que faltava! Plenário, era termo que não entrava no nosso vocabulário e fomos espreitá-lo. Dele, recordo a veemência revolucionária, a efervescência emocional, as palavras de ordem gritadas, «coisas» que soavam estranhas aos nossos ouvidos.
Regressámos nós, a 8 de Setembro! Por lá ficaram eles, até quando não sei.

2 240 - O Aldeagas, o Farinhas e o Teixeira, a FNLA!

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Aldeagas (hoje em festa dos 62 anos), Queirós, Pires e Mosteias numa esplanada de 
Luanda, em Agosto de 1975. O Farinhas, a ler o Avante, e o Teixeira (em Santa Isabel)


A 11 de Agosto de 1975, feito o balanço das «violentas confrontações do do Bairro do Saneamento» de sábado anterior (dia 9), soube-se da evacuação dos militares da FNLA e da declaração de Agostinho Neto, presidente do MPLA, apontando para  a possibilidade de o seu partido/movimento «fazer a declaração unilateral de independência, antes de 11 de Novembro, a data prevista no Acordo do Alvor». «Nunca se sabe, é uma hipótese (...), tudo depende do comportamento das forças em presença», disse Agostinho Neto, em Luanda e em declarações à AFP, afirmando também ser «muito cedo para falar em paz em Angola», embora se manifestasse optimista quanto aos recontros de guerra que por lá se multiplicavam. Disse que «para o MPLA, tudo está a correr bem».
Correria bem para o MPLA e menos bem para a FNLA. Os seus ministros foram nesse dia (9 de Agosto) evacuados de Luanda, pelas FAP, e Vasco Vieira de Almeida, ministro da Economia,  admitia a queda do Governo de Coligação.
Competiria a Lisboa tomar decisões - reorganizando a administração do ministério, ou aproveitando alguns ministros -,  mas Vasco Vieira de Almeida dava conta de que «há semanas que não vejo alguns colegas do gabinete». Mais: o seu próprio ministério (com um Secretário de Estado de cada um dos três movimentos/partidos), «não está a funcionar».
O dia 11 de Agosto de 1975, foi o do 23º. aniversário de três Cavaleiros do Norte: do Farinhas (CCS), do Aldeagas (da 1ª. CCAV.) e do Teixeira (da 3ª. CCAV.) - na foto ao lado. Cada um o festejou à sua maneira, com o Farinhas já fora da nossa companhia. Tinha saído em Março anterior, por razões disciplinares. Faleceu a 14 de Julho de 2005, por motivo de doença, na sua Amarante Natal.

2 241 - Combates sobre combates e «festas» em Viana

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Monteiro, à esquerda,
 e Viegas, à direita, com os conterrâneos 
aguedenses 
Carlos Sucena e Gilberto Marques, 
na casa de 
Viana (Angola)




As notícias de 12 de Agosto de 1975 não foram as melhores, em Luanda: Forças da África do Sul, violando o espaço territorial angolano, teriam entrado pelo Cunene; próximo do Caxito, em Moçâmedes e Nova Lisboa, «os três movimentos de libertação travam combates sobre combates, procurando alargar a sua zona de influência».  
Mantinham-se as posições dos três exércitos, segundo o Diário de Lisboa: «a FNLA, assistida pelo Zaire, está bens instaladas no norte; o MPLA é maioritário no centro, leste e costa ocidental; a UNITA, que parece aliar-se cada vez mais à FNLA, predomina ao sul». Menos mal em Luanda: «Reina a calma na capital, de onde os últimos efectivos da FNLA, que se encontravam acoitados no Forte da Barra de S. Pedro, foram já retirados». E a UNITA também já tinha saído, lá mantendo apenas um funcionário, que, porém, «ia retirar para Nova Lisboa». Concluía o Diário de Lisboa:«O MPLA mantém firmemente as suas posições».
Outros problemas subsistiam e deles bem nos lembramos: «Começa a faltar o café, a gasolina e o tabaco (...), não se atingindo ainda o nível de alarme no capítulo do abastecimento alimentar». Atingir-se-ia e disso têm os Cavaleiros do Norte vivas recordações. E pouco agradáveis.
Eu, o Neto e o Monteiro dividíamos a casa de Viana que, fora dos tempos de serviço, era palco de confraternizações gastronómicas com conterrâneos aguedenses - de que é exemplo a imagem. Falta o Neto, que é o autor da foto. Nela estão o Carlos Sucena (também militar e que, actualmente, trabalha em Angola) e o Gilberto Marques, ambos de Águeda e companheiros de escola. Tempo de festa d´amigos, em tempo de outras guerras.

2 242 - MPLA «dono» de Luanda e família em Nova Lisboa

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Serra Mendes e Teixeira, o estofador (atrás), Monteiro (Gasolinas), Gaiteiro e Malheiro (sentados), Canhoto (com arma na mão) e Pereira (ao lado), Cavaleiros do Norte há 39 anos. Em baixo, Viegas (segundo a contar da direita), com parte da Família Neves Polido: Saudade, Fátima, Idalina (de azul), Valter (à direita) e Rafael (de joelhos) em Nova Lisboa, Abril de 1975 



A situação de unidade de reserva pouco «trabalho» deu aos Cavaleiros do Norte, no mês e dias passados em Luanda, aquartelados no Campo Militar do Grafanil. A memória não me andará errada se disser que a única intervenção relevante foi a de 9 de Agosto de 1975, no Bairro do Saneamento.
Havia os serviços de ordem (a que ninguém escapou) e o resto do tempo era passado com «fugidas» a Luanda, ora de noite (para as praias e esplanadas), ora de noite - tempo que se procuravam os prazeres da vida, «catados» no 8, no 23 e no 24, no Bairro Marçal, ou no Operário, ou, mais selectamente, nos clubes nocturnos.
Estranhamente, numa cidade envolta em guerra e tirando os períodos de recolher obrigatório (sempre furados), a vida nocturna era intensa e, naturalmente, muito procurada pela... tropa.  
A 13 de Agosto de 1975, o MPLA controlava a cidade - de onde tinham saídos (corridas) as forças da UNITA e da FNLA. Esta, constava-se, acantonou-se à volta da cidade, para «forçar o MPLA a fazer concessões políticas». Mas a retirada destas tropas, neste campo - o político - «marcou o colapso do Governo de Angola, tripartido, que deveria conduzir o país até à independência, marcada para o próximo dia 11 de Novembro».
Na véspera, tinha-se iniciado a evacuação de portugueses, de Nova Lisboa, em voos da TAP e numa média de 700 por dia. Era em Nova Lisboa que estavam família e conterrâneos meus: minha madrinha Isolina e filha Cecília (marido e 4 filhos), os irmãos Manuel, Abílio e José Viegas, os também irmãos Sérgio e Ivone Viegas, ainda Orlando Rino, Arnaldo Figueiredo e Óscar Miranda - e respectivas famílias.
Foi por um destes dias de Agosto de 1975, através de um programa da Emissora Oficial de Angola, que procurei (sem conseguir) saber notícias deles. A imprensa do dia dava conta que havia cerca de 30 000 refugiados na cidade e que começava a verificar-se «uma certa tensão», devido a alterações no programa de evacuações. 
Os militares do MPLA (ali derrotados) «iam ser evacuados», segundo uma nota da 5ª. Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas em Angola - que também referia «problemas nas Companhias Integradas». E frisava que «já houve deserções e verificou-se, inclusivamente, um roubo de dinheiro».
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