Fortaleza de Luanda, onde o Ferreira (foto de baixo) esteve preso em Setembro de 1975
O Carlos Ferreira jornadeou pela mítica Zalala, passou por Vista Alegre e Carmona, até que, a 3 de Agosto de 1975, chegou a Luanda, em voo de DC6 e com toda a sua 1ª. CAV. 8423, que se aquartelou no Grafanil. Era 1º. cabo mecânico de armamento ligeiro.
Os dias de Luanda, por esse tempo, eram grávidos de violência, de sangue e mortes espalhadas pela cidade, de gente que morria e fugia, de dramas e tragédias - muitas ainda esquecidas e escondidas.
O Ferreira, e dois zalalas, num desses dias, resolveram ir à cidade e vai de pegar num velho carro, um Morris, abandonado perto do Grafanil, ali mesmo à mão de pegar e andar. Pegaram e andaram, pela cidade dentro, à boleia da irreverência de quem não teme e não recua.
Pararam numa loja, perto da baixa, e, azar dos azares, apareceu o dono do carro, que por espantosa coincidência, morava por cima e trazia a polícia.
Nada a fazer. Foram presos: o Carlos Ferreira e dois companheiros. Os três acusados do roubo do velho Morris, que supunham ser carro abandonado perto do Grafanil, como por Luanda se viam aos milhares e milhares, deixados pelos donos, na sua fuga para a Europa, para Lisboa.
Acusados de roubo, foram levados presos para a fortaleza. «Assumi tudo, dei-me por único culpado e os outros dois foram embora, para a companhia e depois para Lisboa», disse-nos o Carlos Ferreira.
O capitão Castro Dias, que comandava a companhia de Zalala, interessou-se pelo caso, diligenciou para que fosse solto e, sábado passado, quando desta história se falou, enfatizou «a atitude nobre do Ferreira», que, frisou, «assumiu tudo, isenatndo os companheiros de quaisquer culpas».
«Foi um gesto que nunca mais esqueci…», disse o agora aposentado do ensino, dirigente sindical no Porto e ao tempo capitão miliciano da jornada angolana dos Cavaleiros do Norte. «E de uma nobreza – acrescentou - que muitas vezes tenho apontado como exemplo».
A história continuou, em Luanda, com Ferreira encarcerado e nas mãos de um oficial de justiça que lhe complicou a vida quanto quis. De regresso a Portugal, esteve preso em Custóias - onde o visitaram Castro Dias, Rodrigues e outros.
Foi julgado em Tomar e absolvido.
- FERRREIRA. Carlos Alberto Pereira Tavares
Ferreira, 1º. cabo mecânico de armamento ligeiro.
Natural de Albergaria e residente o Maputo (Moçambique).
- AMANHÃ:O Cavaleiro do Norte que deu armas ao MPLA.
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