Os dias passavam-se minimamente calmos, pelos meados de Novembro de 1974 e pelo norte uíjano de Angola de há 49 anos.
O dia 10 foi um domingo, dia de celebraçao de mssa na Igreja de Santa Maria de Deus do Quitexe, e não teve, felizmente, registo de qualquer acontecimento especial.
Os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 cumpriam tarefas de rotina, embora mantendo os«patrulhamentos inopinados», principalmente na Estrada do Café - que ainda hoje liga Luanda a Carmona e por onde voltámos a passar a 24 e 25 de Setembro de 2019, em viagem de saudade e memórias.
Os patrulhamentos, e citamos o livro «História da Unidade», eram «feitos à custa de verdadeiros sacrifícios» da guarnição operacional.
A imagem, à porta do bar e messe de sargentos da CCS, no Quitexe, mostra um trio de furriéis milicianos sentado no varandim térreo que dava para a avenida da vila. Comigo (Viegas) no meio do Carvalho e de militar angolano.
A falar de qualquer coisa e a bebericar.
O José Fernando da Costa Carvalho, que por lá foi furriel miliciano atirador de Cavalaria, era da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel, e por lá estava em destacamento. Natural do Entroncamento, sabemos que fez carreira profissional na PSP, como agente principal (principalmente em Santarém) e que já está aposentado, vivendo pelas bandas daquela vila ferroviária.
Quanto ao furriel angolano, passou episodicamente pelo Quitexe, julgo que por razões disciplinares, e era muito quezilento. Uma vez, teve de passar a noite no Posto 5 ! A prisão! Não nos recordamos do nome, mas há a ideia de que, depois de sair do Quitexe, esteve ligado a um dos movimentos angolanos de libertação.
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As messes de sargentos (a casa verde) e oficiais (cor de laranja) do Quitexe, no dia 24 de Setembro de 2019, quando por lá passou o furriel Viegas |
26 mortos em Luanda:
- 22 negros, 3 brancos e
um militar!
O dia foi calmo e pacífico pelos chãos uíjanos, é verdade, mas não tanto assim na capital angolana.
O dia foi calmo e pacífico pelos chãos uíjanos, é verdade, mas não tanto assim na capital angolana.
Onde foi trágico: «Um dia completo de violências», relatava o «Diário de Lisboa» do dia seguinte, dando conta que «até à meia noite registaram-se 25 mortos civis (22 negros e 3 brancos) e um militar, para além de 60 feridos».
O jornal vespertino de Lisboa explicava que «o elevado número de mortos, consequência de uma vaga de banditismo, e não só, não deixa antever próximos dias de tranquilidade, a menos que se entre num caminho de dureza, que se tem evitado».
A onda de violência, ainda segundo o Diário de Lisboa, surgia «na sequência das sucessivas chegadas das delegações da FNLA, MPLA e UNITA» e expectava-se que a cidade «não conhecerá tão cedo o sossego, apesar das patrulhas que percorrem os bairros da periferia e do apelos difundidos pelo almirante Rosa Coutinho e dirigentes dos três movimentos de libertação, agora com delegações oficiais em Luanda».
O jornal vespertino de Lisboa explicava que «o elevado número de mortos, consequência de uma vaga de banditismo, e não só, não deixa antever próximos dias de tranquilidade, a menos que se entre num caminho de dureza, que se tem evitado».
A onda de violência, ainda segundo o Diário de Lisboa, surgia «na sequência das sucessivas chegadas das delegações da FNLA, MPLA e UNITA» e expectava-se que a cidade «não conhecerá tão cedo o sossego, apesar das patrulhas que percorrem os bairros da periferia e do apelos difundidos pelo almirante Rosa Coutinho e dirigentes dos três movimentos de libertação, agora com delegações oficiais em Luanda».
Picote, condutor, faria 71
anos. Faleceu em 2018 !
O soldado António do Rosário Picote foi condutor-auto da CCS dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 e hoje, dia 10 de Novembro de 2023, faria 71 anos. Faleceu em 2018!
O Picote foi o primeiro condutor a ter um acidente em Angola, logo nos primeiros dias da comissão e na picada à saída da vila do Quitexe para Camabatela, logo depois do cemitério. Nunca se soube «livrar» desse estigma, dele se culpando, por disso ser acusado, nas brincadeiras de caserna - que ele levava a sério, desnecessariamente se auto-penalizando.
O furriel miliciano sapador Joaquim Farinhas era um dos militares da CCS que seguia na viatura «saiu» com um braço partido deste acidente.
O Picote vivia no lugar de Casal do Chão, nem por acaso na Rua do Picote, na freguesia de Á-dos-Negros, concelho de Óbidos, e lá voltou a 8 de Setembro de 1974. Foi lá que o «achámos» em Agosto de 2012, há 10 anos, cheio de saudades dos amigos de tropa», que, ele o disse, nunca esqueceu.
Trabalhou na construção civil e, depois, 28 anos (os últimos da sua vida activa) na Câmara Municipal de Óbidos, de que aposentou em 2009. Solteiro e com pouca família directa, fez «uns biscates para entreter» nos seus últimos anos de vida - quando, solteirão, a partilhou com uma senhora negra da Guiné-Bissau.
Faleceu, de doença, a 16 de Agosto de 2018 e hoje o recordamos com saudade. RIP!!
anos. Faleceu em 2018 !
O soldado António do Rosário Picote foi condutor-auto da CCS dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 e hoje, dia 10 de Novembro de 2023, faria 71 anos. Faleceu em 2018!
O Picote foi o primeiro condutor a ter um acidente em Angola, logo nos primeiros dias da comissão e na picada à saída da vila do Quitexe para Camabatela, logo depois do cemitério. Nunca se soube «livrar» desse estigma, dele se culpando, por disso ser acusado, nas brincadeiras de caserna - que ele levava a sério, desnecessariamente se auto-penalizando.
O furriel miliciano sapador Joaquim Farinhas era um dos militares da CCS que seguia na viatura «saiu» com um braço partido deste acidente.
O Picote vivia no lugar de Casal do Chão, nem por acaso na Rua do Picote, na freguesia de Á-dos-Negros, concelho de Óbidos, e lá voltou a 8 de Setembro de 1974. Foi lá que o «achámos» em Agosto de 2012, há 10 anos, cheio de saudades dos amigos de tropa», que, ele o disse, nunca esqueceu.
Trabalhou na construção civil e, depois, 28 anos (os últimos da sua vida activa) na Câmara Municipal de Óbidos, de que aposentou em 2009. Solteiro e com pouca família directa, fez «uns biscates para entreter» nos seus últimos anos de vida - quando, solteirão, a partilhou com uma senhora negra da Guiné-Bissau.
Faleceu, de doença, a 16 de Agosto de 2018 e hoje o recordamos com saudade. RIP!!
domingo, 10 de novembro de 2019
4 869 - A véspera da independência de Angola; o último dia da soberania portuguesa!
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O Almirante Leonel Cardoso no discurso na cerimónia de pro- clamação da independência de Angola, às 12,20 horas de 10 de Novembro de 1975, no Palácio do Governador, em Luanda. Foto de Leonel Cardoso, filho). Ver AQUI |
O último discurso da soberania de
Portugal em Angola foi proferido às 12,20 horas de 10 de Novembro de 1975, pelo Alto Comissário Leonel Cardoso, no Palácio do Governador. Hoje se fazem 44 anos!
«Portugal nunca pôs, nem poderia pôr em causa a data histórica de 11 de Novembro, fixada para a independência de Angola, que não lhe compete outorgar, mas simplesmente declarar.
Nestes termos, em nome do
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Última continência à Bandeira de Portugal, soberana de Angola, a 10 de Novembro de 1975, há precisamente 44 anos! |
«Os homens desapareceram mas a sua obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos; deixa um país de que se orgulha e de que os angolanos podem orgulhar-se», disse Leonel Cardoso.
O discurso pode ser lido AQUI.
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A última Bandeira de Portugal a ser arreada em Angola. Há precisamente 44 anos! |
A Bandeira de Portugal
arreada na Fortaleza !
O dia 10 de Novembro de 1975, em Luanda, foi de «tranquilidade total», segundo relatou o Diário de Lisboa. «O presidente Agostinho Neto proclamará esta noite, às 00,0 horas, a independência de Angola, sendo horas depois investigo no cargo de Presidente da República, devendo Lúcio Lara desempenhar as funções de 1º. Ministro», noticiava o DL, acrescentando que «uma ampla mobilização popular assegura a limpeza da cidade e a sua decoração, enquanto as FAPLA, substituindo-se aos militares portugueses, garantem a ordem pública e a protecção de todos os cidadãos».
A Bandeira Portuguesa, noticiava o jornal, «será arreada esta tarde, ao por do sol, na fortaleza de S. Miguel, começando de seguida o embarque dos navios Uíge, Niassa e Gil Eanes dos fuzileiros e paraquedistas, últimas forças portuguesas a abandonarem o território angolano».
Assim foi anunciado o grande dia da nação angolana. Faltava saber as posições da FNLA (a norte) e da UNITA (a sul).
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Condutores da CCS: António Picote, que hoje festeja 67 anos em Óbidos, Manuel Alves e Alípio Canhoto Pereira |
Picote, condutor, 67
anos em Óbidos!
O Picote, condutor da CCS dos Cavaleiros do Norte, está em festa no dia 10 de Novembro de 2019, comemorando 67 anos.
António do Rosário Picote é o seu nome completo e vivia (e vive) no lugar de Casal do Chão, nem por acaso na Rua do Picote, na freguesia de Á-dos-Negros, concelho de Óbidos. Trabalhou na construção civil e, depois, 28 anos (os últimos) na Câmara Muni-
cipal de Óbidos, de que aposentou há precisamente em 2009.
Solteiro e com pouca família directa, faz «uns biscates para entreter» e passeia o seu tempo e a reforma com os amigos. Para ele vai o nosso abraço de parabéns!
domingo, 10 de novembro de 2019
4 869 - A véspera da independência de Angola; o último dia da soberania portuguesa!
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O Almirante Leonel Cardoso no discurso na cerimónia de pro- clamação da independência de Angola, às 12,20 horas de 10 de Novembro de 1975, no Palácio do Governador, em Luanda. Foto de Leonel Cardoso, filho). Ver AQUI |
O último discurso da soberania de
Portugal em Angola foi proferido às 12,20 horas de 10 de Novembro de 1975, pelo Alto Comissário Leonel Cardoso, no Palácio do Governador. Hoje se fazem 44 anos!
«Portugal nunca pôs, nem poderia pôr em causa a data histórica de 11 de Novembro, fixada para a independência de Angola, que não lhe compete outorgar, mas simplesmente declarar.
Nestes termos, em nome do
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Última continência à Bandeira de Portugal, soberana de Angola, a 10 de Novembro de 1975, há precisamente 44 anos! |
«Os homens desapareceram mas a sua obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos; deixa um país de que se orgulha e de que os angolanos podem orgulhar-se», disse Leonel Cardoso.
O discurso pode ser lido AQUI.
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A última Bandeira de Portugal a ser arreada em Angola. Há precisamente 44 anos! |
A Bandeira de Portugal
arreada na Fortaleza !
O dia 10 de Novembro de 1975, em Luanda, foi de «tranquilidade total», segundo relatou o Diário de Lisboa. «O presidente Agostinho Neto proclamará esta noite, às 00,0 horas, a independência de Angola, sendo horas depois investigo no cargo de Presidente da República, devendo Lúcio Lara desempenhar as funções de 1º. Ministro», noticiava o DL, acrescentando que «uma ampla mobilização popular assegura a limpeza da cidade e a sua decoração, enquanto as FAPLA, substituindo-se aos militares portugueses, garantem a ordem pública e a protecção de todos os cidadãos».
A Bandeira Portuguesa, noticiava o jornal, «será arreada esta tarde, ao por do sol, na fortaleza de S. Miguel, começando de seguida o embarque dos navios Uíge, Niassa e Gil Eanes dos fuzileiros e paraquedistas, últimas forças portuguesas a abandonarem o território angolano».
Assim foi anunciado o grande dia da nação angolana. Faltava saber as posições da FNLA (a norte) e da UNITA (a sul).
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Condutores da CCS: António Picote, que hoje festeja 67 anos em Óbidos, Manuel Alves e Alípio Canhoto Pereira |
Picote, condutor, 67
anos em Óbidos!
O Picote, condutor da CCS dos Cavaleiros do Norte, está em festa no dia 10 de Novembro de 2019, comemorando 67 anos.
António do Rosário Picote é o seu nome completo e vivia (e vive) no lugar de Casal do Chão, nem por acaso na Rua do Picote, na freguesia de Á-dos-Negros, concelho de Óbidos. Trabalhou na construção civil e, depois, 28 anos (os últimos) na Câmara Muni-
cipal de Óbidos, de que aposentou há precisamente em 2009.
Solteiro e com pouca família directa, faz «uns biscates para entreter» e passeia o seu tempo e a reforma com os amigos. Para ele vai o nosso abraço de parabéns!