Alferes Ribeiro e Garcia e tenentes Luz e Mora, na avenida do Quitexe (rua de
baixo), em 1974. A esposa do tenente Mora, na festa da Natal desse ano (em destaque)
Há muito que cuidava de achar uma foto com a mulher do tenente Mora, de quem nunca soube o nome, mas conheci a timidez, o sorriso e a solidão com que circulava pelas ruas da Quitexe, entre a casa onde moravam e a messe de oficiais.
A senhora Mora era alta, mais alta que o oficial seu marido, de tez escura e de origem indiana, que bem se reconhecia no olhar e no comportamento, namoro antigo de Goa - onde se terçou de amores por João Eloy e, de braço dado, foram ao altar trocar juras de amor. Não tinham filhos, sabia-se. E o casal, aparentemente, era uma coisa diferente e o contrário um do outro. Falador, interveniente, alvo até de algum sarcasmo da guarnição, era o tenente Mora - a quem, por carinho e alguma piada, chamávamos de tenente Palinhas. Danava-se por paladas, a continência de cumprimento militar, obrigatória a patentes superiores. Não a batêssemos nós ao tenente Mora (e às vezes fazíamos de propósito e não batíamos, ele que nos perdõe...) e apressar-se-ia a o oficial a dar aos tacões das botas e batê-la, ele mesmo, para que lhe compaginássemos o cumprimento.
A senhora sua esposa, de quem nunca ouvi a voz, era uma espécie de eremita, por quem o tenente Mora tinha desvelados cuidados e preocupações. Que nada lhe faltasse. Dela falava às vezes, raramente mas com carinho e tratando-se por vocemecê, entre ambos
Um dia, contou-me um jovem oficial miliciano, a senhora Mora cuidou-de se saber onde estava, tal perguntando na messe, para surpresa geral. "O meu marido não me disse!...", explicou-se, para justificar a pergunta, que embasbacou quem a ouviu.
A última vez que a vi, num dia de Julho de 1975, foi quando a levámos ao aeroporto de Carmona, em voo para Luanda. Carregámos-lhe as malas e despediu-se o casal, com dois beijos no rosto.
"Boa viagem para a menina...", disse-lhe o tenente Mora. E acompanhou-a ao avião, pela pista adentro. Reecontraram-se, suponho, a 4 de Agosto, quando a CCS chegou à capital angolana e, em Carmona, se ultimava a épica coluna militar do adeus à capital do Uige.
- MORA. João Eloy Borges da Cunha Mota, tenente do SGE, 2º. comandante da CCS do BCAV. 8423. Era natural do Pombal e faleceu a 21 de Abril de 1993, com 67 anos.
* O TENENTE MORA 1, Ver AQUI
* O TENENTE MORA 2, VER AQUI