A messe de sargentos do Quitexe, com os furriéis Norberto Morais e
António Lopes, da CCS do BCAV. 8423, à frente. Título do Diário de Lisboa (em baixo)
Os dias de Dezembro de 1974 ia sendo riscados no calendário, o Neto já tinha voltado de férias (com rojões de minha mãe) e o Quitexe era um maná de conversas sobre a situação política, muitas delas acesas pela saudade e pelas notícias que nos chegavam de Portugal. A messe de sargentos era o cenário habitual, principalmente nas horas que antecediam almoços ou jantares.
A mim, de Portugal chegavam o Expresso e a edição de 2ª.-feira do Jornal de Notícias, avidamente disputados depois da minha (privilegiada) leitura, a de «dono da bola». Disputados pelos mais «falantes e opinantes»: o Machado, o Mosteias, o Neto, o Morais e o Lopes (foto), o Farinhas, o Pires do Montijo. A messe, valha a verdade, era uma tertúlia muito especial, multicor e multipinião, muito plural, combatente e reivindicativa.
Era via Diário de Lisboa (de 7 de Dezembro de 1974, o de faz hoje 39 anos!) que chegava opinião de Sietse Bosgra, director do holandês Angola Comité de Amesterdão, que, no CIDAC, afirmava que «o futuro de Angola está ameaçado por manobras imperialistas». Denunciava, por exemplo, o comportamento da FLEC, cujo golpe militar recentemente tinha sido abortado e inserindo-o na «situação de perigosidade representada pela influência do imperialismo americano (via Kinshasa e não só) em movimentos como a FNLA e a UNITA».
O mundo a falar de Angola e nós lá, no forno que «cozinhava» a nova nação, a morrer de saudades e cumprindo a nossa missão. Missão reformulada. E a botar opinião sobre quem de Angola falava mas, por vezes, sem saber a realidade viva do território que Portugal emancipava.
- CIDAC. Centro de Documentação
e Informação Anti-Colonial.