O Buraquinho era (é) homem de muitas estórias. Davam um livro!! Desde quando, na noite de S. Silvestre de 1974, «falcatruou» a corrida para a ganhar, encurtando passos dentro de uma viatura e depois cortando por uma das transversais da estrada do café para a rua de baixo. A vitória seria do Spínola, que a morte nos viria a «roubar» em Julho de 1975, vítima de acidente.
Notável foi, também, a sua fuga para Lisboa, contada por ele, no encontro de Ferreira do Zêzere, e a forma como, já dentro do avião militar, no aeroporto de Luanda, resolver saltar, já sem... escadas, para a pista.
Agora, o Buraquinho, como homem lendário da nossa épica jornada africana, vem-nos contar de como foi «apanhado» pelo Monteiro e pelo sargento dos morteiros, na sanzala Kadilongue - aí pela meia noite e meia hora de uma noite quitexana.
Pois bem, cá vai, na palavra escrita do Buraquinho:
«Eles iam a passar a ronda e passaram pela sanzala, batendo à porta da cubata onde vivia a Paulina. Eu estava a essa hora com a Paulina, a comer abacaxi, e fiquei aterrorizado, porque não sabia quem poderia ser. Pensei no pior das hipóteses».
Então, conta o Buraquinho, a Paulina também assustada, perguntou: «Quem é?».
O Buraquinho, de abacaxi na mão e as pernas a tremer, ouviu uma voz e reconheceu o Monteiro: «Fiquei tranquilo».
A Paulina abriu a porta e lá estavam os dois. Continua o Buraquinho:
«Então, pergunta-me o Monteiro, ó Buraquinho, aqui a estas horas?»
Respondeu-lhe ele que «são coisas da vida», coisas da vida aquilo de estar na cubata da Paulina a comer abacaxi.
O Monteiro, que, não esqueçamos, andava a rondar, aconselhou-o a ser prudente, não fosse o abacaxi estar estragado, sei lá: «Vê lá se ganhas juízo, porque estás sujeito a trazer a cabeça debaixo dos braços...».
O Buraquinho, segundo ele agora diz, apanhou «um grande susto» e, fosse por isso ou porque já tinha acabado de comer o abacaxi, a verdade é se foi embora, no jipe dos militares.