Quantcast
Channel: CAVALEIROS DO NORTE / BCAV. 8423!
Viewing all 4167 articles
Browse latest View live

2 065 - O controlo de Carmona e a falta de reabastecimentos

$
0
0
A 3ª. CCAV. 8423 reunida em Castelo Branco,a 6 de Junho de 1975

A 3ª. CCAV. 8423 esteve reunida em Castelo Branco, a 6 de Junho de 2014, e aqui fica, hoje, a imagem do dia, ainda que não inclua (o ex-alferes miliciano) Carlos Silva (que a enviou) - «atrasado» no caminho, por avaria automóvel.
Já por aqui foi dito que tudo correu nos conformes, sob o comando operacional do Flora e do Belo (dois ex-furriéis milicianos de Santa Isabel), mas falta dar conta que, para 2015, a «galopada» dos companheiros de Santa Isabel será em direcção a Vila Real (de Trás-os-Montes), onde o (ex-furriel miliciano) Ribeiro será o mestre de cerimónias e anfitrião.
Isto, somos nós a falar deste ano e do que vem.
E em 1975, como iam os dias de Carmona e do Uíge, por estes dias de Junho?  
O Diário de Lisboa noticiava que  «as tropas do ELNA e das FALA dominam a cidade, tendo sendo evacuados os efectivos do MPLA sobreviventes dos ataques». A cidade, porém, dizia a edição de 7 de Junho de 1975,«continuava sem mantimentos».
A 8 de Junho noticiava-se que«em Carmona, onde as forças do MPLA foram expulsas, recolhendo aos quartéis portugueses, os problemas estão a aumentar, face à falta de abastecimentos, que se agudizou, uma vez que estão cortadas as ligações rodoviárias com Luanda».
Por esta altura, mais dia menos dia, o reabastecimento militar passou a ser feito por via aérea, com sucessivos carregamentos a chegar ao aeroporto do Carmona. Aos militares, juntavam-se os milhares de civis que rodaram (e ocuparam) a parada do BC12 - para lá levados pelos Cavaleiros do Norte.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional 
de Angola, braço armado da FNLA.
- FALA. Forças Armadas Populares de 
Angola, braço armado da UNITA.

2 066 - Palavras de Lara e o papel dos Cavaleiros do Norte

$
0
0
Refugiados de Carmona na parada do BC12, com o 1º. cabo Emanuel Santos, 
em Junho de 1975 (em cima). Lúcio Lara, alto dirigente do MPLA (em baixo)


Aos 11 dias de Junho de  1975, Lúcio Lara, fundador e alto dirigente do MPLA, do Comité Central, reconhecia que «os soldados portugueses em Angola estão numa situação muito delicada». E sublinhava que «têm feito o seu melhor». No exército português, acrescentou«há gente bastante decidida e bastante séria, que tem procurado cumprir a sua incumbência, que é preservar a descolonização de Angola de influências externas». Mas, acusava, «tem havido, da parte de determinado sector militar,  alguma condescendência e à vezes até cumplicidade».
Concretizou: «Houve oficiais que, na parte norte, entregaram quartéis à FNLA, que deixaram passar a suas tropas sem lhes opor qualquer resistência». E, sublinhava, «há elementos da OPVDCA e da PIDE que continuam a operar livremente, na maior parte das vezes em colaboração com a FNLA».
Isto, era Lúcio Lara a falar em Portugal, em extensa entrevista dada ao Diário de Lisboa.
Por Carmona e Uíge, a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala (e de Vista Alegre e Ponte do Dange), abandonava o Songo e rodava para Carmona, concluindo a rotação a 12 de Junho. Ocupou o aquartelamento da (já) extinta ZMN  e «entregou os quartéis da área às autoridades angolanas, de acordo com o determinado», com leio no Livro da Unidade. A rotação tinha começado no dia 6, anterior.

A guarnição do Negage «foi reforçada, com a desactivação de Sanza Pombo». A cidade de Carmona começou a descansar da violência dos primeiros dias e os refugiados da parada do BC12 começaram a sair e a seguir os seus destinos. Os Cavaleiros do Norte, apesar dos «momentos difíceis, preocupantes em todos os aspectos», como refere o Livro da Unidade, sentiam que tinham cumprido o seu dever, depois de os terem vivido. Tinham dado «reais provas, unanimemente reconhecidas superiormente e pelas próprias populações».  

2 067 - Tempos mais calmos na Carmona de há 39 anos

$
0
0
Parada do BC12, nos trágicos primeiros dias de Junho de  1975. O helicóptero evacua feridos para Luanda e vêem-se, ao fundo e do lado direito, refugiados à espera de melhores tempos 

Os dias da segunda quinzena de Junho de 1975 lá se iam passando e acalmando as gentes que os viveram de coração apertado e almas enlutadas.  Nas consultas agora feitas à imprensa da época, não há notícias de Carmona e do Uíge a partir de 11 e 12 desse mês. Estava tudo mais calmo, o que coincide com a nossa memória e o que se escreveu no Livro da Unidade.
«As nossas tropas procuraram minimizar o conflito, procurando seu términus rápido e diligenciando ir limitar os seus efeitos», leio agora. Contudo, acrescentava-se, na página 24, «como rescaldo, ainda mais ficou vincada a hegemonia da FNLA, pois que tudo o que se possa considerar combatente ou simpatizante do MPLA foi expulso do distrito, nos melhores dos casos, porquanto, noutros, há a citar algumas dezenas de mortos». 
A população, com  aqui já foi repetidamente dito, «pediu a protecção das NT, a qual lhes foi dada, entrando no quartel um milhar de refugiados». Pessoalmente, tenho a convicção de que foram bem mais, ao longo dos primeiros dias do mês. Esta convicção coincide com depoimentos que agora recolhi e que apontam para números bem acima dos 2000 - perto dos 3000. Seja como for, tal não foi muito bem entendido pela FNLA, que considerou a posição das NT como «discricionária e partidária, do que resultou um período seriamente preocupante para o Batalhão».
- FOTO. O 1º. cabo sentado, à esquerda, julgo ser 
o 1º. cabo João Manuel Martins Pires. O soldado à direita, 
parece-se ser o sapador Manuel Augusto Nunes, o Amarante.
.Alguém pode confirmar?

2 068 - Calma mais fictícia e preocupante...

$
0
0


Cavaleiros do Norte de SantaI Isabel, no Encontro de Castelo Branco, a 6 de Junho de 2014. 
Em baixo, (os furriéis) António Flora e Agostinho Belo, os organizadores, com o José Carvalho (ao meio)


Aos 20 dias de Junho de 1975, por Carmona e Uíge, a vida ia-se tranquilizando, mas «avisa» o Livro da Unidade, que agora releio, vivia-se «um período seriamente preocupante para o Batalhão». Porém, e cito-o, como «após a tranquilidade vem a bonança, reconsiderada pelo ELNA a posição das NT, acabou por se colmatar as desinteligências existentes e novamente se reiniciou a calma no distrito».
Só que, e volto a citar o Livro da Unidade, «daí resultou calma ainda mais fictícia e preocupante e, no rescaldo, a verdadeira conclusão é que, mais do que nunca, as NT estão a viver no reino da FNLA, isoladas, preocupadas, e quase sem encontrar motivações justificativas da sua estada, salvo que entendem de dever e necessária a sua permanência».
Por outras palavras, e vividas 39 anos depois, os Cavaleiros do Norte por lá teriam de continuar, contra tudo e todos, para assegurar o processo de descolonização. E fê-lo, leio de novo no Livro da Unidade, «demonstrando calma, sangue frio, verdadeiro sentido de missão, espírito de sacrifício».
Castelo Branco, 39 anos depois, foi tempo mais pacífico e calmo, com os Cavaleiros do Norte de Santa Isabel (a 3ª. CCAV. 8423, do capitão José Paulo Fernandes) a reviverem emoções e alegrias  que o tempo não matou. Como mostram as imagens.
.

2 069 - Calma fictícia e Forças Militares Mistas...

$
0
0



Cavaleiros do Norte de Santa Isabel e suas amazonas e herdeiros, no Encontro de 6 de Junho de 2014, em Castelo Branco. Ao lado, o (furriel) Flora, um dos organizadores (com o Belo) e a família. Em baixo, parado do BC12, há 39 anos, com a chegada de refugiados


O capitão José Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423, foi uma das «baixas» do encontro de Castelo Branco dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel. Por problemas de saúde da esposa, que o afastaram do convívio, de que é um dos animadores. Que tudo corra bem, é o desejo, embrulhado em votos de rápidas melhores e restabelecimento total.
Presença notada foi a do José Lino, o furriel mecânico que por lá se imortalizou a fazer milagres com as mãos e com as soluções que inventava, para pôr a frota a andar. O que lhe mereceu louvor do comando. Vive no Fundão, entre o empresariado da camionagem e o de madeiras.   
Há 39 anos, «calma fictícia» que se vivia em Carmona, correspondia ao tempo da realização da Cimeira dos três movimentos, em Nakuru, na qual se confirmou a realização de eleições em Dezembro e a fusão dos seus militares, naquele que seria o futuro exército de Angola - cada movimento «dando» 10 000 homens.
Ao mesmo tempo, em Carmona (e certamente em outros lados de Angola), apareceram as denominadas Forças Militares Mistas (a 1ª, Companhia), à qual, pelas NT, foi dada instrução das diversas especialidades. Era integrada, apenas, por elementos da FNLA e da UNITA, por, do Uíge, terem sido expulsos os do MPLA. «Conseguiram-as os primeiros elementos para o Estado Maior Unificado, quer do Comando Territorial de Carmona, quer do Batalhão, esperando encontrar-se em tais elementos uma colaboração que permita levar a bom termo processo em curso», escreveu o comandante Almeida e Brito, no Livro da Unidade. 

2 070 - Forte tensão emocional e carências logísticas

$
0
0
Um grupo de Cavaleiros do Norte: Bento, Rocha, Viegas, Flora, Verdelho Lopes (enfermeiro), 
Capitão (já falecido) e Flora (sentados) e Carvalho, Belo, Grenha Lopes e Reino (sentados), todos furriéis 


O mês de Junho de 1975, pelo Uíge e depois dos dramáticos primeiros dias, de que fomos testemunhas e personagens ao vivos, acalmaram, com a expulsão do MPLA, mas, após isso, e leio o Livro da Unidade, «no seu restante, decorreu sob forte tensão emocional».
A acalmia de que falámos, no chão uíjano, era quebrada (e é oportuno refrescar a memória no Livro da Unidade) por «alguns atritos que voltaram a dar-se» e, não menos importante, porque se viveram «momentos de carências logística, que são reflexo do estado de latente conflito, que continua e dá azo a um desabar de esperanças que se possa ver em bom e belo panorama o dia de amanhã».
Por estes dias e semanas adiante, eram feitos patrulhamentos mistos na cidade, nem sempre pacíficos, por mor das diferenças entre militares angolanos (que integravam as patrulhas) e da comunidade europeia, para com as NT. Não rareavam os insultos à tropa.
A criação do exército nacional era a questão chave para a solução de Angola, como concluíram MPLA, FNLA e UNITA, na Cimeira de Nakuru, no Quénia. E, afinal seria de 30 000 e não 24 000 homens, como ainda ontem aqui se falou. Seriam aquartelados para treinos comuns e das suas fardas desapareceriam quaisquer distintivos dos movimentos. Os excedentes, seriam desmobilizados e o exército seria dirigido por uma comissão militar permanente.
O acordo assinado na cidade queniana previa que, até 15 de Julho, fosse publicada a lei eleitoral. As eleições seriam em Outubro (antes da independência de 11 de Novembro) e as listas de candidatos seriam apresentadas até 60 dias depois de 1 de Agosto. Sabemos hoje que não foi assim.

2 071 - Cavaleiros de Santa Isabel, um a um...

$
0
0
Os Cavaleiros do Norte de Santa Isabel estão todos identificados nos balões apontados a cada um. É um trabalho do Flora e, quem quiser achar o nome dos bravos companheiros da 3ª. CCAV. 8423, os que se juntaram no Encontro de Castelo Branco, basta clicar no dito cujo (balão).
Para facilitar, atrás, da esquerda para a direita, de cabelo branco e camisola aos losangos, está o Sequeira. Depois, os furriéis Lino (outro de cabelo branco e pró fortezinho) e Ribeiro (outro de cabelo branco). Depois, o Caroço. Após este, o Flora, Belo e Carvalho (furriéis). A seguir,  Teixeira (Floro), Novo (José Oliveira), Eusébio, Pavanito, Silva (Armando), Teixeira (Ângelo) e Carrilho. Na fila do meio, Fernandes (de camisa vermelha, escura), Cardoso (de mão na boca) e Reino (furriéis), Francisco (o Reguila), Ramos, Raúl Caixaria (CCS) e Feliciano. De cócoras, Mateus, Carvalho (Carlos Alberto), Cunha, Novo (Arlindo G. Parente) e Friezas.

2 072 - MPLA confirma guerra até o povo ter o poder...

$
0
0
O Novo e o Deus, junto da avioneta que evacuou, do 
Quitexe para Luanda, os militantes da FNLA e MPLA 

Os incidentes ocorridos no mês de Junho de 1975, pelo Uíge, também se registaram no Quitexe, onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Que só de lá saiu a 8 de Julho, para Carmona.
O Manuel Deus, AQUI e também AQUI, dá conta do caso de um combatente do MPLA que foi socorrido pelas NT, depois de ter o tórax literalmente furado por um da FNLA. Curiosamente, foram ambos evacuadas na mesma avioneta (a da foto) para Luanda. E de outros casos de «ferro e  fogo», na vila-mártir de 1961 - o nosso saudoso Quitexe!
Há 39 anos, nas oitavas dos incidentes carmonianos, Angola (e principalmente Luanda) continuava a verter sangue de irmãos contra irmãos. A Emissora Católica de Angola, ao dia 18, divulgara uma notícia, segundo a qual o MPLA teria decidido abandonar a luta armada e prosseguir na legalidade a luta pela independência de Angola. Mas, a 22 de Junho, um sábado, foi o próprio presidente Agostinho Neto quem desmentiu tal propósito, frisando que a luta só cessaria quando os dirigentes do MPLA estivessem plenamente convencidos de que Portugal decidiu entregar o poder ao povo angolano.
Disse mais, Agostinho Neto, sobre a notícia da Emissora Católica de Angola: que«foi difundida para semear a confusão nas fileiras do MPLA». Agora imagine-se, o director da ECA, declarou na véspera (dia 21), que lançara a notícia para sondara reacção do MPLA. Mas Agostinho Neto garantia que não abandonaria a luta armada e até deu nota que«ultimamente, registamos êxitos na zona de Cabinda e travamos combates importantes no sector oriental do nosso país».
A situação militar no território, segundo Agostinho Neto, que cito do Diário de Lisboa, «é extremamente favorável aos guerrilheiros» e que«os combates estão a intensificar-se no sector oriental de Angola e no Enclave de Cabinda».

2 073 - Escoltas e garantia de itinerários do Uíge!

$
0
0
Hospital e estação dos CTT de Carmona


Moçambique tornou-se independente a 25 de Junho de 1975 e o histórico momento foi comemorado em Luanda, capital de Angola, com «uma grande manifestação popular». Os estabelecimentos encerraram - e até algumas empresas particulares -, e, ao fim da manhã, «uma manifestação de milhares de pessoas» dirigiu-se para o Palácio do Governador, onde «ostentou enormes dísticos, proclamando a vitória contra o colonialismo, o imperialismo e dando vivas à libertação definitiva de Moçambique». 
Membros do Governo de Transição apareceram à janela do Palácio, saudaram a multidão e foi lida uma mensagem de solidariedade para com Moçambique. Os sinos das igrejas de várias cidades de Angola «tocaram em sinal de júbilo e foi guardado um minuto de silêncio em memória das combatentes caídos na luta moçambicana».
Por Carmona, não tenho memória de qualquer acto especial (o que não quer dizer que não tenha acontecido) e os Cavaleiros do Norte, na «ressaca» dos incidentes dos primeiros dias de Junho, continuavam a adaptar-se aos novos tempos, mantendo as actividades habituais ao pré-dia 1, acrescentando-lhe«a realização de várias escoltas». Isto porque, e cito o Livro da Unidade,«perdida que foi a liberdade de itinerários, só se garante a certeza dos movimentos com o apoio militar, quando não até, e também, aéreo».
A segurança pública, o hospital, o aeroporto, a estação de rádio, as captações de água, a rede eléctrica, o Banco de Portugal, os CTT e estabelecimentos públicos da cidade estavam «à guarda» das NT. Muitos sacrifícios lhes foram exigidos nestes tempos. 

Article 1

2 074 - Cavaleiros do Norte receberam comandante da ZMN

$
0
0
Quartel da 2ª. CCAV. 8423, em Aldeia Viçosa (em cima). Brigadeiro Altino de Magalhães (em baixo) e coronel tirocinado Bastos Carreiras (mais abaixo)


O comandante da ZMN esteve em Aldeia Viçosa e Santa Isabel, visitando a 2ª. e a 3ª. CCAV. 8423, faz hoje 40 anos. A 26 de Junho de 1974!
Era o brigadeiro Altino de Magalhães, que acumulava com as funções de Governador da província do Uíge e viria a integrar a Junta Governativa de Angola.
O dia foi também para visitar a CCAÇ. 4145, em Vista Alegre, sempre acompanhado comandante do Sector do Uíge (o coronel tirocinado Bastos Carreiras) e pelo Administrador do Concelho do Dange, com o objectivo  de promover «o estreitamento de relações entre a autoridade militar e administrativa». E ainda deram uma saltada ao Destacamento de Luíza Maria, passando pelo Quitexe.
Os Cavaleiros do Norte davam os primeiros passos na sua jornada africana do Uíge e a sua primeira operação (a Castiço DIH) tinha começado no dia 26, com participação de todas as subunidades e prolongando-se pelos primeiros dias de Julho.
Bem longe dali, em Bruxelas e no mesmo dia, Mário Soares dizia «não saber» se problema das colónias portuguesas entraria na agenda do encontro entre os presidentes Nixon, dos Estados Unidos, e Brejenev, da URSS - que reuniria no dia seguinte, em Moscovo. Mário Soares estava na capital da Bélgica com o 1º. Ministro Palma Carlos, para uma reunião da NATO e o processo de democratização de Portugal e o futuro das colónias«foram longamente discutidos».  
- ZMN. Zona Militar Norte, instalada em Carmona.
- MAGALHÃES. Altino Amadeu Pinto de Magalhães, general na reforma. Nasceu a 8 de maio de 1922, en Ribalonga (Carrazeda de Ansiães).
- CARREIRAS. Carlos Maria Bastos Carreiras, coronel tirocinado. Nasceu a 10 de de Dezembro de 1919, em Vila Boi, (Elvas) e faleceu a 11 de Fevereiro de 2012, em S. Vicente (Abrantes).

2 075 - Os primeiros dias do Quitexe e do Uíge...

$
0
0
Furriéis José Monteiro e Francisco Dias e 1ºs. cabos Miguel Teixeira, Vasco Vieira (de pé) e João Pires, da secretaria da CCS dos Cavaleiros do Norte, em 1974, no Quitexe. Em baixo, Almeida e Brito, em 1969, com o tenente-coronel Amaral, comamdante do BCAV. 1917 e um outro oficial



Aos 28 dias de Junho de 1974, há 40 anos, os Cavaleiros do Norte adaptavam-se aos tempos uíjanos - pelo Quitexe, Zalala, Santa Isabel e Aldeia Viçosa -, depois de substituírem o Batalhão de Caçadores 4211. Lá, ao Quitexe, tínhamos chegado no dia 6, depois do «estágio» do Grafanil.
A esse dia, soube-se, por uma nota oficial do MPLA, em Brazzaville, que já havia mais de 30 movimentos políticos em Angola. «Esta proliferação de partidos e de organismos de carácter político constitui um perigo ma medida em que, por falta de apoio real, a maioria desses partidos poderia ser manipulada por diferentes interesses colonialistas», referia o MPLA.
E o que sabíamos nós (íamos sabendo) do Quitexe, a terra-mártir de 1961? Que era bem conhecida do nosso comandante, o tenente-coronel Almeida e Brito, que lá tinha estado, já, como oficial adjunto. Que era «terra promissora, capital do café». Que, leio no Livro da Unidades, estávamos ali para «dar consecução ao programa de paz que o MFA pretende obter».
Almeida e Brito tinha estado no Quitexe integrando-se no Batalhão de Cavalaria 1917, lá chegando a a 24 de Janeiro de 1968, em rendição individual. De lá saiu a 17 de Dezembro do mesmo ano. Já como tenente-coronel e comandante do BCAV. 8423, acompanhado do capitão José Paulo Falcão (oficial de operações e do alferes José Leonel Hermida (oficial de operações) voltou ao Quitexe a 27 de Maio de 1974, «para os primeiros contactos, os quais foram muito superficiais», justamente por desnecessários - por lá já ter sido oficial adjunto do BCAV. 1917 e, consequentemente,«a ZA era sua muito conhecida».
Também nós bem iríamos conhecer o Quitexe e veja-se a boa disposição dos 4 Cavaleiros do Norte da foto, nos primeiros tempos uíjanos.

2 076 - A missão dos Cavaleiros do Norte no Uíge

$
0
0
Carmona, em 1975, Rua do Comércio. À direita, subia-se para a praça dos edifícios públicos, onde ficava o Comando a ZMN, Câmara, Tribunal e Correios. Em baixo, notícia do Diário de Lisboa de 28 de Junho de 1975



A 28 de Junho de 1975, o Alto Comissário português, general Silva Cardoso, criou uma comissão encarregada de organizar a transferência dos funcionários públicos que quisessem abandonar Angola e regressar à metrópole - a Lisboa, Portugal europeu.
O dia 28 era sábado, como hoje, e a semana tinha registado 21 voos para Lisboa, transportando cerca de 3500 pessoas. Havia 25 000 famílias inscritas e estimava-se que já tivessem cerca de 50 000 pessoas tivessem abandonado o território. Previa-se que mais 22 000 famílias se inscrevessem e que os deslocados chegassem aos 150 000.
Os Cavaleiros do Norte, lá pelo Uíge, continuavam a sua missão de protecção de pessoas e bens, embora muito pouco entendidos pela comunidade civil branca. O Batalhão de Cavalaria 8423, porém, lê-se no Livro da Unidade, «está verdadeiramente imbuído do sentido de grandeza próprio do consciente desinteressado e leal desejo de cumprir a missão que lhe está sendo imposta no processo de descolonização».
Estar, estava. E isso, agora recordado, 39 anos depois, não deixa suscitar quaisquer dúvidas. Mas bem nos saiu do corpo!

Article 0

2 097 - O Tenente João Mora...

$
0
0
Tenente Mora e furriéis Neto e Viegas no Quitexe

A 30 de Junho de 1926, nasceu João Eloy Borges da Cunha Mora, em Pombal, que viria a ser tenente do SGE e 2º. comandante da CCS dos Cavaleiros do Norte do Batalhão de Cavalaria 8423. Faria amanhã 88 anos! Faleceu a 21 de Abril de 1993, em Lisboa. 
O tenente Mora tornou-se imortal na vida dos Cavaleiros do Norte, pelo seu porte, as suas características, a sua forma de estar, na vida civil e na militar. Ninguém esquece: se não lhe batêssemos palada de continência, batia-nos ele. Por essa lhe chamávamos o tenente Palinhas. E assim ficou na nossa memória, até aos dias de hoje. 
Conhecêmo-lo melhor em Angola, começando no Quitexe - onde, numa das suas raridades militares, fez de oficial de dia. Ele, que, por natureza do seu posto de 2º. comandante da CCS, disso estava dispensado. Era, dizia ele, para «dar o exemplo»
A este dia de Junho de 1974, ainda nós eramos maçaricos da jornada africana do Uíge, soube-se por lá, pela leitura de jornais, que sul-africanos da tribo Ovempo, a do ministro da Justiça, se preparariam para entrar em Angola. Para, lia-se na imprensa, «receberem preparação para a guerrilha».
 Jefta Makenda, o ministro, prometia castigo para quem se mudasse e uma multa de 6000 dólares para quem os ajudasse. E a alternativa não era nada simpática:um ano de prisão. Ou ambas as coisas. O ministro prometia recompensas para quem os denunciasse. 


2 098 - Aos 30 dias do mês de Junho de 1975...

$
0
0
Um dos bairros de Carmona, no princípio da década de 70 do século XX, Em baixo, o general Silva Cardoso, que foi Alto Comissário em Angola. Faleceu a 13 de Junho de 2014, aos 86 anos



O balanço do mês de Junho de 1975, o mais dramático da jornada angolana dos Cavaleiros do Norte, não podia ser outro que o de dever cumpridos. A troco do que fosse!!! E alguns de nós, em boa verdade, arriscaram a vida para outras salvar. E salvar bens, e garantir a segurança, e ter a serenidade e a coragem para, nos momentos mais difíceis, agir e decidir. Com justiça e em busca da paz que era ferida pelas desinteligências de irmãos.
O mês, depois dos incidentes dos primeiros dias, decorreu em maré de crescente acalmia, mas, necessariamente,«sob forte tensão emocional» - como leio no Livro da Unidade. Carmona e o Uíge deixaram de aparecer nas páginas dos jornais, mas sabia-se que Angola fervia diferenças entre os três movimentos - mesmo depois de Cimeira de Nakuru.
Agostinho Neto insistia na demissão de Silva Cardoso, o Alto-Comissário de Portugal, cujo comportamento, alegava,«contraria a evolução política do país». O presidente do MPLA acusava as autoridades portuguesas de «pactuarem com movimentos de ex-pides e oficiais reaccionários que operam em Angola».
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, aconselhava os seus homens a denunciarem militantes que tivessem ligações com a antiga PIDE e um dos seus altos dirigentes, Norberto Castro, por isso, entrou para «um campo de reeducação».
A comissão criada após a conferência de Nakuru, para dar seguimento ao acordo, era formada por  elementos dos Estados Maiores do MPLA, da FNLA e da UNITA, ministros do Interior e da Justiça e comandantes da polícia angolana. Foi reafirmado o princípio de que «os movimentos não eram competentes para praticar actos privados de justiça privada».
Assim ia Angola, há precisamente 39 anos!

2 099 - Angola merece a independência total...

$
0
0
Militantes da FNLA em Carmona, em Junho/Julho de 1975 (foto de 
Carlos Letras). Em baixo, Jonas Savimbi, presidente da UNITA


A 1 de Julho de 1975, no Luso (Angola), o presidente da UNITA deu uma entrevista à Emissora Oficial de Angola, depois publicada no jornal “A Província de Angola”.  
“A descolonização - disse Jonas Savimbi - só poderá ser feita ordeiramente, com a consolidação da democracia em Portugal”.
O líder da UNITA, aproveitando estes dois meios comunicacionais, de larga audiência na Angola que se fazia nascer país, enviou a seguinte nensagem ao povo angolano:
“Vamos aproveitar as liberdades que nos ofereceram as Forças Armadas para aprofundarmos mais a nossa consciência política e para demonstrarmos ao mundo o nosso civismo e a nossa maturidade política. Angola merece a sua independência total. O nosso primeiro dever é irmos todos ao encontro da paz”.
As palavras eram de esperança, e tranquilizadoras, para o povo e também ara nós, militares, que sonhávamos um rápido regresso a nossas casas e já íamos em 13/14 meses de jornada por terras do Uíge.
Infelizmente, como hoje sabemos, não se iriam a concretizar e Angola sofreria as duras amarguras da guerra e as tragédias de que que sofre e se enluta.

Carmona, sob controlo militar dos Cavaleiros do Norte, continuava diferente com a tropa e os nossos dias passavam-se em constantes patrulhamentos, principalmente na cidade e acessos principais. Repetiam-se assaltos a residências da cidade, a que éramos chamados como socorro. Por uma vez, numa transversal da Rua do Comércio - cujo nome esqueci, tal como a data - um grupo do PELREC foi alvejado de um terceiro ou quarto andar. Felizmente, sem nos atingir.
O trânsito de fnla´s armados, na cidade e aldeamentos próximos, tornou-se (quase) vulgar, valendo o respeito que, minimamente, tinham pelas NT. Mas éramos sucessivamente acusados, pelos seus dirigentes, de não sermos neutrais. O mesmo diziam os mpla´s, expulsos da região pelo movimento de Holden Roberto.
Presos por ter cão, presos por não ter.  

2 100 - Há 40 anos, novas responsabilidades operacionais...

$
0
0
Capela do Quitexe, em Março de 2014, foto do blogue Quitexe História. À direita, 
ficava o aquartelamento dos Cavaleiros do Norte. A vedação ainda parece a mesma, 
mas desapareceram as casernas. Não nos parecem ser as que ali se vêem

Há precisamente 40 anos, os Cavaleiros do Norte ainda se adaptavam ao cheiro da terra e ao sabor das coisas e jeito das pessoas do Quitexe, de Zalala, de Aldeia Viçosa e Santa Isabel. E, principalmente, às suas responsabilidades operacionais, numa área que tinha sido palco de milhares de mortes e de muitos lutos, desde os trágicoas dias de 1961.
O mês de Julho (1974) começou, leio no Livro da Unidade, com «a atribuição da responsabilidade operacional da OPVDCA do Dange e das 3ª. e 4ª. Companhias da PSPA/GR, respectivamente sediadas no Quitexe e Vista Alegre». Que «passaram ao comando operacional das forças militares em Subsector». 
Operacionalmente, completou-se a Operação Castiço DIH (começada às 4 horas da madrugada de 20 de Junho) e registou-se «novo contacto com o IN, na central do Negage, novamente sem consequências». 
Um outro encontro se registara no Tabi, «uma emboscada sem consequências» e, noutro, «alguns tiros de aviso». Mais grave foi o que aconteceu à 41ª. Companhia de Comandos, pois um seu soldado accionou uma mina anti-pessoal e perdeu um pé.
Tem este momento um facto curioso: a evacuação do militar foi feita pelo PELREC, para o Negage. Lá fomos, ao abrir do dia, e foi lá, na baixa do Mungage, que vim a conhecer um conterrâneo de Águeda. O furriel Dias, dos Comandos.
«Há aqui alguém de Águeda?!», perguntei.
Havia, dera o Dias. Que apareceu com o Valongo, outro furriel comando, mulato angolano, que tinha sido futebolista do FC do Porto e suponho que até internacional júnior. Ainda hoje, 40 anos depois, eu e o Dias nos refastelamos na memória, a lembrar este momento invulgar das nossas vidas. A reviver as circunstâncias bem especiais em que plantámos a semente da nossa amizade.
A 41ª. Companhia de Comandos acabou por retirar-se da operação 18 horas depois de a começar. Diz agora o Dias que «a malta não via razão para andar a arriscar vidas na mata». Estávamos nos primeiros dias de Julho de 1974. Abril tinha sido há pouco mais de dois meses!

2 101 - A morte do soldado Jorge Grácio, o Spínola!

$
0
0
Estrada entre Carmona e Quitexe. Foi algures, perto da Fazenda
Pumbaloge, que se deu o trágico acidente de que resultou a morte de Spínola (na 
foto de baixo). Mais abaixo, o mapa da zona, onde se vê que Pumbaloge era 
relativamente perto do Quitexe, na direcção de Carmona




ALFREDO COELHO (BURAQUINHO)

TEXTO


A morte de Jorge Custódio Grácio, conhecido na gíria militar por Spínola, passou-se à frente dos meus olhos.

Nesse dia 2 de Julho de 1975, fui de Carmona ao Quitexe, numa Renault 4L, vermelha,  com o empregado do Chop-Chop, para “comprar” cubicagens aos militares que não precisavam delas.

Encontrei-me, no Quitexe, com o Spínola e ele perguntou se era possível uma boleia para Carmona. Era e disse-lhe para estar à porta do Bar do Rocha, às 18 horas. Faltavam 10 minutos, quando me veio dizer que podia ir para Carmona, que ele ia com o Sidónio - o empreiteiro das estradas, que andava a alcatroar as ruas do Quitexe.
Então eu, mais um militar da 3ª. Companhia, de Santa Isabel (ao tempo ainda no Quitexe) - não me lembro do nome dele -, seguimos com o empregado do Chop-Chop, para Carmona.


O Spínola foi com o empreiteiro Sidónio, também numa Renault 4L, da mesma cor. Ultrapassaram-nos na passagem da Pumbaloge e, ao chegarem à curva da fazenda, apareceu de frente e contra a mão, uma ambulância Land Rover, que tinha sido roubada na Delegacia do Quitexe. Era conduzida por um guerrilheiro da FNLA e embateu com o carro em que o Spínola seguia.
Nós só tivemos tempo de parar, de repente. Ainda vi o Spínola a ir pelo ar e a cair no chão. Corri  e agarrei-me à mão dele. Chameio-o: “Spínola!”.
Ele apertou-me o dedo polegar da mão direita e só disse: “Hei!!!...”.
Ficou morto no local, com um guerrilheiro chefe da FNLA, que ia com ele de boleia, este no meio da estrada. O Sídónio ficou estendido no alcatrão, com a cabeça aberta, mas vivo. Todos foram cuspidos da viatura, após o embate.
A ambulância roubada da Delegacia do Quitexe levava um guerrilheiro da FNLA e uma criança, que ficou com uma fractura exposta na perna, e uma senhora, todos de raça negra.
Metemos o Spínola e o Sidónio na bagageira da nossa viatura e fomos até à Delegacia do Quitexe. Fui à procura do capitão Paulo Fernandes e dei-lhe notícia da morte do Spínola mas ele disse que eu estava maluco, porque minutos antes tinha estado a falar com ele. Então, perguntou-me pelo corpo e disse-lhe que estava na delegacia. Foi esta a triste história da morte do Spínola.
Que Deus o tenha no eterno descanso. A foto que existe, encontrei-a no bolso do camufulado dele.
ALFREDO COELHO 
(BURAQUINHO)

2 102 - As Forças Militares Mistas em Carmona

$
0
0
Forças Militares Mistas, 1ª. Companhia de Carmona, na parada do BC12, em 
Junho/Julho de 1975. O alferes Garcia, oficial de instrução de tiro (em baixo)

Agostinho Neto, falando em Brazaville, a 4 de Julho de 1975, afirmou que “Cabinda é parte integrante de Angola”. Ia encontrar-se com dirigentes congoleses e fez questão de referir que, na Cimeira da Nakuru, os três movimentos “tinham registado, nas suas decisões, a observação de que Cabinda não era parte separada de Angola”.
O presidente do MPLA acusou o general Silva Cardoso, Alto-Comissário de Portugal, de “não favorecer a organização de um exército nacional, mantendo, pelo contrário, as divisões tradicionais”.
Silva Cardoso não era muito apreciado pelos movimentos de libertação e não demoraria muito a ir embora.
A imprensa do dia 4 de Junho de 1975, uma sexta-feira (como hoje), todavia, dava conta, através de um despacho da Agência Reuters, que”a primeira companhia integrada do Exército Angolano, constituída por soldados dos três movimentos de libertação, presta juramento amanhã, numa cerimónia que se realiza no Enclave de Cabinda”

Quem tinha razão? Neto ou a imprensa? Em Carmona, recordemos, fazia tempo que os Cavaleiros do Norte davam instrução de especialidades às chamadas Forças Militares Mistas . O embrião do (que não chegou a ser) Exército Angolano. Eu próprio, com o (furriel) Neto e comandados pelo (alferes miliciano) Garcia, demos instrução de tiro a esses (ex)combatentes.
A esse mesmo dia 4 de Julho de 1975, refere o blog http://angolaterranossa.blogspot.pt/, “no massacre do Pica-Pau, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA, em Luanda”.
Ia assim a Angola de há precisamente 39 anos, quando os Cavaleiros do Norte, ainda em Carmona e na terra uíjana, faziam de tudo para garantir a segurança e salvar vidas.
Hoje, tantos anos passados, todos temos orgulho nessa missão. Cumprida com mil sacrifícios e riscos, mas com honra e garbo militares.
Viewing all 4167 articles
Browse latest View live